sábado, 29 de novembro de 2008

Nosso Segredo

Me explica, se der,
o que acontece,
quando vem a saudade
de quem não se conhece.
Fala prá mim,
me conta tudinho,
em que lugar, agora,
desse vasto universo,
nossas almas se dão,
caminham entrelaçadas;
um único coração.

Deixa a vergonha de lado,
fica um pouco mais
sapeca e desbocada,
fala em linguagem clara,
sobre nossos caminhos
com cheiro de madruga,
com gôsto de pãezinhos
e de café com leite;
um abraço de pão doce
e de puro deleite.

Vem cá, vamos nos encontrar
naquele arco-íris algures,
que quanto mais longe, melhor.
E aí, um segredo, te conto:
nossas almas são meigas,
são claras e indiscretas.
Por isso mesmo, são assim,
tão desejáveis e secretas !

Sem Querer

Te perdi em meio à prantos
ou talves, eu mesmo
me escondi, entre tantos.
Entrei sem querer,
n'alguma rua esquisita
que me trouxe desencontros,
aflições prá alma aflita.

Me perdi de tanto amor,
eu, que não soube nunca
gozar o perfume da flor.
Larguei em qualquer canto,
fechei olhos e ouvidos,
tranquei portas e janelas,
emudeci os sentidos.

Agora, ando nessa procura
tão ingrata, tão insana,
que parece uma loucura
de pragas e rezas mundanas.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Que Merda !

Hoje, acordei esquisito,
com raiva de mim mesmo,
vontade de ficar à esmo,
não ligar prá coisa alguma;
lacuna em minha alma.

Levantei meio que tonto,
um tanto sem jeito,
talves, até insatisfeito,
vontade de xingar,
mandar tudo a merda.

Quem sabe, amores desfeitos
façam isso com a gente,

nos deixem assim, doentes,
corpo e alma, imperfeitos.

ATEU DEUS

Lá em cima,
o teu deus,
por inércia
ou cisma,
finge não ver
teus problemas
e os meus.

Cá embaixo,
você e eu,
cabisbaixos;
crentes ou ateus,
hipócritas
resignados,
à cometer
pequenos ou
grandes pecados.

Então, continue
sim, irmão,
à esperar
tua absolvição,
que continuo eu,
à pecar
os pecados
da paixão !

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Castidade

Sorvendo bocas e línguas,
você, tão pura e casta,
imagina e quer sempre mais;
ela tão dura e basta !

Se esfregando e gemendo,
você, tão ingênua, linda,
goza e pede à êle, tudo
aquilo que não tem, ainda.

Ah ! Não fôsse a imaginação
e o teu travesseiro amigo,

o que farias com esse tesão
que está sempre aí, contigo ?

Oração

Pus-me de joelhos
no teu oratório
e rezei.
Pedi aos santos,
comunguei.
E que delícia
de óstia, provei.

Teu corpo santo
se entregou
e fomos ao céu
em gozos e rezas,
em cios e entregas.

Catedral sagrada
dos amantes e pecadores,
dai-nos todo o sempre
a derradeira gozada
dos eternos amores,
puros ou indecentes.

sábado, 22 de novembro de 2008

Adeus com puta dor

Não, não quero
mais te lamber
igual cachorro vadio,
nem mais comer
esse teu corpo no cio.
Que me bastaram
teus gemidos enganosos,
teus sorrisos dados,
teus olhares chorosos,
teus lábios melados.

O mel que corre em ti,
prá mim é veneno,
molhando telas e teclas.
Tão barato, vendendo
gozos e beijos
como se fossem
cocadas e queijos.
Agora, quando te vejo,
teclo delete
antes que tu fales:
amor, vem, mete.

Então, adeus com puta dor,
com puta amor !

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Estranha escrita

Estranha escrita
essa, da vida,
à escrever lindo
ou às vêzes, feio;
à nos falar sorrindo,
outras vêzes, meio.

Tão alegre, tão séria,
encabulada até
ou volta e meia
arreganhos de dentes,
à mostrar-nos cheia
de frutos e sementes.

Bela essa nossa vida,
pena que um dia finda;

recolhe-se na guarida,
prá renascer, tão linda !

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Plantar poemas

Que tantos encantos
há de se contar
e tantos poemas,
saem desse cantar.
Muitos contratempos,
haverão de passar;
contra tudo e todos,
vai-se enfim, lutar.

A vida é travessa
e poemas escritos,
saem às avessas
dos verbos malditos.
Flores esperanças,
em versos e rimas,
em trovas crianças
de filhos e primas.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Feito Ouro

Te fazer um poema,
eu tentei.
Não pensei
fôsse tão difícil.
Que em côres
eu te via,
eu te bulia
feito um ouro.

Te fazer versos
tão gostosos,
tão amorosos,
é assim;
faltam rimas
prá te cantar,
prá se falar.

Então, silenciei,
só te olhei;
não rimei.
Fosse tão fácil,
com palavras,
eu calei,
só te amei !

Ponto de Encontro

Meus chapéus são os acentos,
os pontos são meus encontros
e das cedilhas e vírgulas,
teço estórias que te conto.

Em tudo, vejo as palavras,
tantas rimas, quantos poemas;
fico louco com as letras,
não bastasse, vem o trema.

Que vírgulas, pontos, acentos,
dão-se as mãos em poesias;

então, das frases que invento,
saem tristezas e alegrias !