segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ao amigo que partiu

Segue em paz, amigo.
Lá, terás a companhia de iguais.
Sabemos que vais abrir um "parateco"
(mistura de paraíso, com boteco)
para a freguesia que conhecemos aqui,
mas, que se mudou antes do tempo.
Aliás, dizem que lá, a cachaça é outra;
mais gostosa, não desce queimando,
ao contrário, alivia o espírito, lava a alma.
Lá, roda de samba, é feita no arco das nuvens
e tem um ritmo gostoso,
malandramente angelical,
onde niguém desafina.
E antes que eu me esqueça,
lá também tem putaria;
claro, que um pouco mais comportada
do que a daqui de baixo.
Vêz em quando, os santos liberam geral
e até caem na farra, porque são santos,
mas, não são de ferro.
Então, não ficaras tão mal assim.
Aqui, sentiremos mais que você,
porque vai bater a saudade
e o remédio, vai ser tomar
umas e outras prá disfarçar.
Vai com Deus, amigo.
Mas, não esqueça de deixar
umas cervejas pagas pra quem fica...

sábado, 28 de novembro de 2009

À luz de velas

Que romântico, dançar
ao som de um bolero,
morrer à luz de lamparinas.
Porque das minhas mortes,
sei eu; você só imagina.


Que romântico cantar
a música do Roberto,
soltar a voz para as portas.
Porque da minha solidão,
sei eu; você não se importa.


Que romântico e triste,
as velas para a ceia,
as velas para os mortos.
A noite triste e feia;
velhos barcos sem portos.

Mal entendido

Um dia, Deus ficou triste comigo,
mandou-me alguns castigos
e te levou para bem longe.
Um dia, fiquei revoltado com santos,
que não enxugavam meus prantos
e não ouviam minhas preces.
Um dia, Deus ficou bravo comigo,
levou embora amores e amigos
e fechou a porta do céu.
Um dia, fiquei puto com anjos,
troquei minha harpa, por banjos
e caí na noite, embriaguei-me.

Um dia, senti Deus assim, tão mal.
Um dia, pensei que eu fosse o tal.
Quem sabe, um dia nos encontremos,
eu e êle e então, nos desculpemos.
É, quem sabe...

Virtual carinho

Nos encontramos nas madrugadas
de tantas dores e cores,
no brilho triste das telas
daquelas almas sem amores.

E na confusão das letras
que jorram iguais mil brilhos,
vemos e buscamos esperança;
carinhos, feito amantes ou filhos.

Nos encontramos nas madrugadas
das insônias desesperadas,
querendo achar não se sabe o que;
adivinhar sobre o que não se vê.

Ilusão

Esse anjo no meu rosto,
esconde o roto e o torto.
Esse mel nas palavras,
é fel, a te enganar.
E se te falta o ar,
sou eu à te esganar
e a te falar dos enganos,
que durante anos
te trouxeram até aqui.
Porque quando te vi,
carreguei-te docemente;
eras uma semente.
Hoje, em flor,
te sufoco a dor
e não te deixo ser.
Tua sina, é comigo morrer.
Pobre mulher,
que diz me querer !

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tristes olhares

Sem conhecer, fiz poemas
para aquele belo rosto;
melancólicos olhares,
vindos daquele agosto.

Sem saber, quis rimar
outros tantos amores,
na intromissão sempre tola
de curar alheias dores.

Coisa de poeta, tolice a minha
querer melhorar tantos mundos,
sem saber que eu mesmo tinha
no olhar, sofrimentos profundos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Filhos

Queria ter mais tempo,
pra ficar com aquela moça
que chegou tão tarde em mim;
ter mais tempo, antes do fim.
Queria ter sorrido mais,
sofrido um pouco menos.
Ter partilhado muito
da minha vida, com os filhos,
porque se tivesse feito isso,
não estaria agora,
querendo ridículamente,
compensar com os netos.
Não queria ter escolhido
entre muitos, tantos amigos,
porque os escolhi errado;
deveria ter guardado
sómente aqueles três.
Porque quando parecia
que não combinávamos,
nem notei que naquelas horas,
é que nos uniámos em torno
das idéias contrárias.
Agora sei, (talves um pouco
tarde demais), que diferenças,
nem sempre são desavenças.

Verdade, que pode ser tarde
pra muitas coisas, mas,
ainda dá tempo de pegar
o que me restou de carinho
e abraça-los fortemente.
Dizer à esses três amigos :
- Eu os amo, meus filhos !
E quanto àquela moça,
aproveitar a sua presença
ao menos, enquanto durar
do tempo, um restinho !

A Maria da minha vida.

Um dia, nós nos amamos;
acostumados um com o outro,
hoje, só nos aturamos,
sem jeito de outras vidas.

Filhos, impediram recomeços;
agora, começam suas vidas,
tem seus próprios tropeços
e colhem suas próprias glórias.

A Maria da minha vida,
era outra, que não essa
e eu, também não era assim.

Não procuramos saída;
agora, já não há pressa
de tirar a Maria de mim.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Saudade mata

Agora sei. Não morrerei
de uma morte qualquer;
de um ataque cardíaco ou,
do podre de alguma parte.
Ou, de todas.
Morrerei de saudade !
Então, que Deus me ajude,
porque essa morte é doída.

Lamentos de Altemar, dores de Lupicínio

Por sentir falta dos teus carinhos,
isolo-me em noites sem estrelas;
fecho os olhos, para não vê-las
e me procuro em tristes canções.

Me vejo nos lamentos de Altemar
e as lágrimas que tantos choram,
me caem indiscretas e rolam
pela eterna dor de Lupicínio.

Por sentir falta dos teus carinhos,
imploro, nem sei para quem
e sinto em mim, a triste solidão.

Que não aprendi a ser sózinho
e espero ainda, por alguém
que traga de volta meu coração.

Partilha

Me mostras duas flores;
uma estampada no sorriso,
outra, escondida no coração
e que só eu, tenho a visão.
Me mostras tuas dores
e põe na minha mão,
tua alma, que não sei
se mereço.
Então, contigo padeço.

Nossas vidas agora, são assim;
vida nossa, uma só,
porque nos unimos,
nos entranhamos,
nos despimos da solidão.
A emoção, esta nós repartimos.

Uma do Mineirinho

Diz que é bom de cama,
bom de bola, bom de bala.
E o Mineirinho, cala.

Diz que é bom de copo,
bom de pá, bom de enxada.
E o Mineirinho, nada.

Diz que é bom de cena,
bom de rosto, bom de cara.
E o Mineirinho, para.

Diz que é bom de lado,
bom de traz, bom de frente.
E o Mineirinho, indiferente.

Diz que é bom de boca,
bom de foda, bom de beijo.
E o Mineirinho, queijo.

Diz que é bom naquilo,
bom de fato, bom de tudo.
E o Mineirinho, mudo.

E diz pro mineirinho :
- O patrício não fala nada ?
Mineirinho disfarça, cisca,
tira o palito mascado e fala :
- Não, uai ! Que me atrapaio.
Só to esperano tua mãe,
pra mó de nóis faze o caraio !

Sem rimas

Segurou a caneta
e enquanto esperava a rima,
pensou nela, entrou no clima.
O verso veio lindo, solto;
contraste com o rosto
vincado, rude,
ar de quem sofreu amiúde.
Parou no meio da poesia.
Achou melhor não acabar
-outro motivo para chorar-.

E ficou poema inacabado,
resto que não rimou.
Coração triste, apertado;
a caneta de lado, ficou.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

E os olhos sorriram

Cansados de chorar,
já estavam
e de olhar, muito mais;
mesmo assim, fitavam
meio sem jeitos,
feito brilho desfeito.

Cansados de esperar,
não contavam
com a luz, que chegou
de repente e,
surpresos ficaram
tão sómente.

Então, sorriram
e vieram as cores;
o amarelo fez-se verde
e conquistaram amores !

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mortes são assim

Chegou um arrepio.
Dizendo que você veio,
que agora está aqui,
meio brisa, vento feio.
Soprou ao meu ouvido
uma língua já doída,
uma parte me xingando,
dizendo que foi traída.

Chegou aqui, meio puta,
feito anjo que voou
e chegou até aqui
à procura do que sobrou.
E eu olhei, disfarcei,
até um pouco fingi.
Então, eu te olhei;
naquela hora, morri !

O buraquinho

Meteu-se naquele buraquinho
e de lá, não queria sair.
Lugarzinho apertado mas,
tão gostoso. Quenturinha fofa.
É certo, que vez em quando,
sentia um estremecer e se molhava.
Explicação não tinha.
Só, que aquele molhadinho
era diferente de chuva,
o envolvia suavemente;
aroma adocicado, garoa cheirosa.
E êle estava gostando.
Ouviu lá fora, alguém chamar.
Não ligou. Se enfiou ainda mais
e esqueceu que tinha trazido
consigo, um monte se preocupações.
Deixo-as de lado.
Se pudesse, ficaria ali para sempre
mas, veio a fome e a sêde.
Ia dar uma saidinha rápida,
mas voltaria. Correndo !
Ah ! Que buraquinho gostoso !

Felicidade

Contigo, quero juntar as jubas,
quero comprar jujubas
e naquele banco da praça,
iguais crianças, acharmos graça
daquele palhaço imaginário,
que está só em nós.
Quero comprar balões de gás,
um amarelo, outro azul
e fazendo planos à esmo,
irmos para o Norte ou Sul
ou ficarmos aqui mesmo.
De mãos dadas,
corações entrelaçados,
contemplarmos a vida,
ficarmos um no outro.
Acho, que isso é felicidade.

Devoção

Esperou a hora da missa
e como acreditava, benzeu-se.
Meio sem jeito, fez o sinal da cruz,
rezou umas rezas;
atrapalhou-se no Pai Nosso
(talves porque não tivesse pai,
ou, porque não tivesse pão).
Pegou a hóstia, porque estava
até aquela hora em jejum.
Não ligava muito, porque diziam
que jejuar faz bem ao espírito.
Isso, não sabia. Só sabia,
que fazia mal ao corpo;
dava uma fraqueza danada
(com o perdão da palavra).
Mas, bem que o senhor padre
podia também, dar um golinho
daquele vinho, que ia cair bem.
Só vez em quando, era uma
cachacinha (que uma moeda pagava).
Acabou a missa. Levantou-se
e foi até o velário. Não acendia velas,
mas, esquentava as mãos,
porque com esse frio...
Foi-se embora, pensando que a igreja
é coisa boa. Não vê, que ela dava
tanta coisa e não pedia quase nada ?
Só entrar, sentar, rezar o Pai Nosso.
Se bem que errava naquela parte
(talves porque não tivesse nem pai, nem pão).
mas o resto, rezava direitinho.
Com devoção.

domingo, 22 de novembro de 2009

Maldição

Morreria com todas as dores,
deixaria todos os amores,
se me pedisses.
Se eu abrisse
todas essas minhas almas,
ficaria nú, ao espelho,
se me olhasses.
Se eu ficasse
sem o meu corpo
e me entregasse todo,
por certo estaria morto.
Me enterraria,
me contentaria
em viver só em ti.
Daria adeus aos anjos
e aos demônios,
para morar contigo.

Se eu pudesse
e se eu quisesse,
moraríamos um no outro,
comeríamos um ao outro;
beberíamos da taça
que é nosso ser.
Mas, o que fazer,
se somos a invenção
de tantos contrários
e por mais que tentemos,
continuamos sózinhos ?
Ah ! Que tristeza,
esses nossos caminhos !

sábado, 21 de novembro de 2009

Do outro mundo

Aquele amor era tudo.
Amaldiçoado pelo ministro,
bem visto pelo sinistro,
começou igual brincadeira.
Do lado de cá, light,
do lado de lá, dark.

O que queriam, estava ali,
mistura de luzes e trevas,
confusão de cruzes e pregas,
no claroescuro dos dois.
Do lado de cá, coca cola,
do lado de lá, argolas.

Mas, o que parecia eterno, não foi.
Num acesso do mais puro amar,
a dark um dia, comeu o light
e usou os ossos para um colar,
que não era tão pesado assim;
esqueleto leve, pôs no pescoço
e sorrindo, foi para a night !

Solo sagrado

Você está na moda.
Você está dark !
E eu sei lá, o que quer dizer isso ?
Só sei que no escurinho,
ela me dá uma claridade enorme.
Traz estrelas de presente.
Trouxe até o sol !
Ontem mesmo, deu-me a lua
e uivamos juntos a noite inteira.
Se o Drácula esteve por perto,
ficou com uma inveja danada.
E só não se intrometeu,
porque ali é solo sagrado.
Todo amor, é sagrado.
Até pra quem está dark !

Ops ! Foi mal !

Só agora lembro, que não escrevi
uma linha sequer, sobre o
"Dia da Consciência Negra".
Me desculpem todos os que têm a tal
"Consciência Negra".
É que foi má criação mesmo !
Só me lembrei de quem tem a
"Consciência Branca".
Me perdoem.

bd

O meu dê, quer casar com o teu bê,
o teu bê, desconversa, faz beicinho
e diz que só casa com o meu dê,
se êle der casa, comida e carinho.

Aí, o meu dê, fala para o teu bê:
tudo isso te dou, com um porém,
o teu bê, tem que dar para meu dê
todo dia, para a gente ter neném.

O teu bê sorri, porque quer um bebê.
O meu dê sorri, porque também quer.
Combinados, então se enroscam,
a letra do homem e a da mulher.

Pobres palavras

Encontrei jogadas lá fora,
um punhado de palavras;
mendigas de quem foi embora
e que só de paixão, falava.

Dariam para fazer versos,
depois que fossem bem tratadas.
Mas, de amor já não converso,
com letras tão maltratadas.

Então, que ficam ao relento
e sofram as duras penas,
de quem só falava em paixões.

Iguais à elas, arranjo e invento,
tenho aqui, mais de centenas,
cansadas de procurar corações !

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Minhas medidas

De tanto me esfregar em ti,
perdi o cheiro, fiquei com o teu,
perdi a pele, fiquei com a tua;
você, escorrendo nos vãos meus.

De tanto me conter em ti,
perdi todas as minhas medidas
e não caibo mais em mim;
fujo e escorro pelas saídas.

De tanto querer por demais,
me esqueci n'algum canto qualquer
da tua alma e do teu corpo.

E não sei, se bem me faz,
querer-te inteirinha, minha mulher,
que já não sou eu, meu porto !

Musical

Acaricio o teu braço,
deitas em meu abraço
e cordas, pra que te quero.
Teu som vem. Te espero.

Espero na curva de ti;
dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.
Fecho os olhos na melodia,
abro o peito na nostalgia.

E bailo contigo, agora,
no acorde dedilhado
das músicas que soam.

Notas saem, vão embora,
correm aí, pro teu lado;
no teu coração, ecoam !

Certos olhares

Será que é esse teu olhar,
que me prometeram e esqueceram
um dia, de me avisar.
Porque nos meus porres, por aí,
não sei se os vejo ou imagino;
tenho impressão que os vi.

Eu, que não enxergo um palmo
além do próprio nariz,
vejo tua íris, que me diz
e que me recita agora, um salmo.

Eu, que me fecho para o mundo,
esqueço a porta aberta
e você, entra incerta
e fica em mim; olhos profundos.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Perdido

Basta. Vou dar um perdido,
sair pelo mundo afora
em busca dos olhos
que me foram prometidos.

Incerto caminho que busco,
esquinas outras, contramão,
no desvio das avenidas;
do brilho que me ofusco.

Basta. Vou dar um perdido
e chorar um pouco menos.
Aconchegar o peito sofrido,
nos teus olhares amenos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dasdores, das ruas

Escondeu o rosto, a cara de pau,
com vergonha da puta que a pariu.
Não olhou para trás;
simplesmente pegou seus restos
e nunca mais, alguém a viu.

Se escondeu por aí, apanhou na cara,
virou sem vergonha, criou craqueiros
que não olharam para trás;
só pegaram os magros corpos
e a carona nos brancos cheiros.

Virou amiga das prostitutas,
ficou companheira dos viados,
dos travecos malcriados.
Empinou a bunda e foi à luta.
E de fome, não morreu
mas, sofreu. Ah ! como sofreu !

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Olhares esquecidos

Eu sonhei tanto com aquele encontro.
Quando aconteceu, decepção !
Perguntei :
- Onde estão teus olhos verdes ?
Respondeu :
Ah ! Esqueci-os lá em casa.
Levei um tempo para entender.
Como pode alguém esquecer
os próprios olhos ?
Magoei. Deixar a alma em casa.
Ela não deveria ter feito isso.
Não deveria...

Colos

A gente aconselha daqui,
aconselha dali e mesmo sem querer,
acaba se intrometendo na briga
e leva até umas porradas,
pra aprender a não se meter
onde não foi chamado.
E o pior, é que nunca aprende.
Aí, a gente conforta uns,
conforta outros e quem é
que conforta a gente ?
O ombro virtual, que está
a quilometros de distância ?
Ora, e lá fica bem, eu cá
com meus cinquenta e poucos,
procurar colos por aí ?
Sei que não é justo,
porque você também tem
seus problemas, mas,
tenho uma vontade enorme
de me aconchegar em você
e rir um pouco, chorar muito,
desabafar tudo e quando estiver
mais leve, te receber inteira.
Porque terei certeza,
que aqueles espinhos que eu carregava,
você os tirou todos, então,
não poderei te machucar nunca.

Poeira

Eu me sopro e me sacudo,
para espantar tanta poeira
que cobre o meu coração;
solidão parada na minha soleira.

Eu me vigio e sempre me sirvo
de besteiras para o tempo passar,
bobagens que invento e começo,
termino, para de novo recomeçar.

Talves seja tempo de estrelas,
outros sóis, novas alegrias,
porque sou novo e a vida continua.

Mas, me distraio sem vê-las
e não reparo nos outros dias.
A saudade me cai, nua e crua.

domingo, 15 de novembro de 2009

Leitura dinâmica

Te quero naquela capa,
na contra-capa, no mapa.
Te quero na minha estante,
pra te ler à todo instante.

E, quando enjoar de ti,
digo que já te li;
passo da tua letra,
passo reto, vou direto.
Ou me finjo analfabeto.

Domingos

Um domingo igual outro qualquer.
Um Renato Russo, melancólico,
na voz de quem sabe, próximo,
aquela que sempre vem
pra levar amores, levar alguém.

Domingo de chuva ou de sol,
não importa tanto assim,
porque o sol, tem também
sua parcela de melancolia,
na tristeza de todo dia.

São domingos que vem e vão
e passam iguais; descortinam
a próxima semana e avisam
que tudo poderá ser melhor.
Mas, não importa. Quem sabe,
teremos sim, o que nos cabe.

sábado, 14 de novembro de 2009

Graúna

Me perguntam se não tenho medo
de viajar nas tuas negras asas,
embarcar no teu vão calabouço,
espremido entre costelas casas.
Respondo que o medo que sinto,
é o de perder tua sombra amiga
e perder mais do que eu tenho,
que não seja a tua foto antiga.

Me perguntam se não tenho medo
da tempestade que te acompanha
e da peste que fere feito espinho.
Digo que é prazer, sentir teu dedo
no arranhão que fere e que lanha;
quero a sombra do teu ninho !

Verdes Íris


Foi um claro, que aqui passou,
um raro verde, da mesma cor
do terno olhar, que me fitou;
coloridos olhos daquele amor.

Foi o céu, que deu licença
àquele arco íris, dessa vêz,
que deu o tom da presença;
verdes íris, quando se fêz.

Mas, deu-se justo o contrário;
a tempestade veio depois,
ribombou aqui, no meu peito.

E porque vejo este cenário,
sem poder, me divido em dois.
Vê, que eu fiquei desse jeito ?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Olhares

O tempo nos encontrou
despreparados,
um pouco mudados.
E nos ensinou
através de olhares,
que éramos pares.
As esmeraldas
que tens no olhar,
teimaram em me falar
de muitos poemas;
o rubi do teu coração,
brilhou na escuridão.

O tempo nos encontrou
em separados caminhos.
Quem sabe, sózinhos,
poderíamos parar,
admirar com calma;
enlaçar as almas.
O castanho que tenho
nesse meu olhar,
parou para admirar
teu rosto ornado.
E até se esqueceu,
que outro, a recolheu.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Esmeraldas

Vi teus olhos verdes
e êles me olharam,
levaram para o fundo;
profundos olhos falaram
de fadas e anjos,
das cores d'outros mundos.

Vi teus olhos verdes
e êles me enterneceram,
ofereceram as dores;
tons que escorreram
através das lágrimas,
despejando tuas cores.

Vi teus olhos verdes,
que pensei, não existissem;
iguais florestas que se abrissem
mostrando o mais puro.
Duas esmeraldas à olharem,
verdes olhos à me fitarem.

A última da Dadinha

A Dadinha me contou noutro dia,
que depois de um relacionamento virtual
(vê se pode uma coisa dessas),
resolveu conhecer o "virtuoso".
Então, marcaram dia, hora e lugar.
Como é que iam fazer pra se reconhecer,
já que desconfiavam (belo início de relação),
que no troca-troca virtual, as imagens
talves, não correspondessem à realidade ?
Ela pediu a descrição das roupas
que êle usaria e malandramente,
o enrolou um pouco e acabou não
falando das suas (repararam na esperteza ?).
E lá foi a Dadinha.
Conforme combinado, na hora certa, êle apareceu.
Ela perdeu o fôlego, engoliu seco
e pensou que estava sonhando,
porque o que viu ali, era um sonho;
Robert Redford, ainda com seus trinta anos.
Ou quarenta, que seja.
Se aproximou, apresentou-se
e ficou vesga, de olhar naquele olhar.
Derreteu-se toda, com o toque daquela mão
e quase morreu, quando êle a conduziu
pra outro lugar, qualquer lugar.
Hipnotizada, nem reparou na mansão,
na piscina, no jardim.
Meu Deus ! Não queria acordar daquele sonho !
Mas, acordou. E da pior maneira possível,
quando foi apresentada pro amigo virtual real
(se é que isso pode realmente existir).
Até hoje, só tem uma vaga lembrança
da cueca samba-canção.
Do restante, não lembra, nem faz questão.
Segundo ela mesma diagnosticou, sofreu
um surto-bipolar-traumático-amnético,
ou seja, só lembra da melhor parte (Redford).
Da outra parte (Ford Bigode), não lembra.
Engraçado, né ?

Incenso no ar

Você falou em solidão
e se abriu, feito abismo,
fez um buraco no chão
e se foi, toda cinismo.

Você falou em tristeza,
chorou, pegou meu lenço
e lambuzou de incertezas;
misturou batom com incenso.

Mas, não sabe que aqui,
sou essa insônia terrível
das noites mal dormidas.

E, imagino o que não vi,
no arremedo tão sofrível
das tuas tristes recaídas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Promessa boba

Hoje, eu prometi
que não iria sair de casa.
Mudei de idéia;
darei um pulinho aí.
Vou preparar minhas asas,
minha mochila velha,
o resto, eu deixo aqui.

Hoje, eu prometi
que iria ficar sossegado.
Resolvi só agora,
um pouco de mim, largar.
O cachorro vai ao lado,
latindo à toda hora,
louco pra passear.

Me espere feito princesa,
avise o sol e a lua
pra cada um, aparecer.
A toalha florida na mesa,
uma flor na orelha tua
e um sorriso pra me receber !

Curumim

Escuta, faz um poema
bem bonito só pra mim.
Me diz palavras bonitas
pra eu ficar alegrim.
Depois, recita no ouvido,
com jeito gostoso, assim,
que aí, eu me arrepio,
me dá tesão, fico doidim.

Escuta, faz uma graça,
pra poder tirar de mim
essa tristeza de tudo,
que me consome inteirim.
Depois, me leva pra passear,
lá dentro do teu jardim;
fica sendo minha Yara
e eu, o teu Curumim.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Quem mandou ter o giga pequeno ?

Por esses caminhos da Internet,
conheci a Dadinha.
Meses e meses de conversas,
até que veio a pergunta :
- Você quer meter ?
Fiquei meio sem jeito,
a pergunta partiu dela.
Respondo que sim, queria,
ou, será que eu mentia ?
Aí, veio a outra pergunta :
- E o teu giga, é grande ?
Outro baque. Não entendi.
Será giga de gigante ?
Pergunto pro meu filho
e êle me explica o que é.
Volto pra Dadinha
e respondo sobre meu giga.
E pergunto também :
- Mas o que tem a ver
metida com giga ?
Rindo, ela responde :
- É que dependendo
do tamanho do teu giga,
eu ia te mandar a minha foto
em tamanho natural,
pra você me ter.
Só que com esse teu giga,
só dá pra mandar uma parte.
Escolhe aí, qual você quer...
Será que foi piada ?

Nas trevas, há luz !

Queria gostar do teu branco,
mas, algo me mostra o escuro,
a ponta, o fio e o tranco;
as letras negras no muro.

Do calmo, às vêzes, enjôo,
vomito os carinhos que comi.
Então, fico mais leve e vôo,
esqueço o amor, que engoli.

Queria amar o teu claro,
igual amo o preto e o opaco,
igual amo o sujo e o breu.

E não sei porque, o meu faro
já percebeu que o meu fraco
é o teu imundo; mundo teu !

Coisas de criança

Ela escreve com as letras bem pequetititas e iguais,
que tem que se apertar os olhos pra ler.
Ninguém sabe a quem puxou,
já que a mãe, tem a letra graúda e formosa,
bem feita: tipo de letra que se lê com prazer
de tão bonita que é.
Seu pai, tem a letra desigual, ora caída pra cá,
ora caída pra lá, meio bêbadas. Muitas vêzes,
pensa que talves, seja por causa da cerveja que êle bebe,
mas, isso é coisa da cabecinha dela, já que não existe
nenhuma prova científica quanto à isso.
O fato é que aqueles mosquitinhos no caderno,
têm sido, não poucas vêzes,
motivo de reclamação da professora.
E aí, é ela que não entende.
Fessora mais boba. Será que não vê que é letrinha de criança ?
Criança não é pequenininha ? Então, tem que ter
letra pequena, de acordo com o tamanho.
Quando eu for grandona igual à mamãe,
aí sim, vou ter uma letrona que nem a dela.
Só não quero letra igual a do papai,
que ficam se escorando umas nas outras.
Olha lá, se um dia destes, não resolvem
sair tropeçando por aí...

Ode a um quase morto

Que teimosia a tua,
insistir em permanecer forte,
contrariando amigos teus,
que rezam pela tua morte.

Vão fazer o que,
com todas aquelas velas
compradas no barateiro,
mas, que são todas belas.

Que chatice a tua,
debochando, com esse sorriso;
parece que não quer morrer,
não quer ver o paraíso.

Vai fazer o que,
a pobre coitada da mulher;
ter que requentar tua sopa,
onde outros querem por a colher.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Espelhos

Esconder-se igual a um ladrão,
da vida que te oferece o brilho;
cortejar com desmesurada alegria,
a morte que te carrega o filho.

Pairar feito nuvem, ao acaso
e escolher ser só tempestades
ao invés do ameno frescor,
que traz a delicada saudade.

Mirar-se no espelho, todo dia,
afeiçoando-se cada vêz mais
àquela pálida beleza que tens,

é acreditar que não caberia
o triste ar da feiura, jamais;
é querer o sol que não vem.

Rugas

Do cheiro suave e doce, nada mais,
agora, só o odor quase azedo
de tanto passado, tanto arremedo.

Do riso franco e gostoso, resta
o frouxo da boca, falta dos dentes,
na muda presença do ausente.

Da saia rodada, aquelas cores
são agora, tecidos gastos no corpo;
nas rugas que dão ar de dores,
da bengala, escorando o torto.

Mordendo a língua

Que se danem as ditas cujas,
dizendo impropérios, besteiras;
pobres coitadas, línguas sujas.

Tão avessas aos amores.
às meiguices e carinhos;
são só desconforto e dores.

Se danem as bocas malvadas,
fazendo das esquinas e praças,
canteiros onde plantam desgraças.
Que tenham as línguas salgadas !

Trago uma, traço outra

Sou mais uma cerveja tomada,
do que tua cara emburrada
me chamando pra discussão;
isso que é falta de tesão !

Sou mais da pinga, um trago,
do que o certeiro estrago
que vai fazer nossa conversa;
o bar me chama, tenho pressa !

Ali, com as loirinhas, me dou.
São lambidas e carícias
que acalmam e dão prazer.

Olha que qualquer dia, vou
ficar com as loiras delícias;
que porre de amor, vou ter !

Um poema, tantas rimas

Nossos poemas saem,
giram, volteam e caem
n'algum outro coração
lá, do lado de fora,
depois, vão embora.

Nossas rimas pedem
o simples e medem
o tamanho das almas;
se combinam com umas,
ou não acham nenhuma.

Os versos disfarçam;
brincadeiras que passam.
E cantam, encantam,
se acham engraçados.
Ah ! Versos amados !

Renascer

Dei um corte na morte
que chegava mansa,
me chamava pra dança.
Fui louco, fiz pouco
do que eu queria,
do que eu podia.

Dancei pra vida,
suei na subida
e descansei tanto;
cantei meu canto.

Chamei pra dança,
quem estava tristonho.
Parecendo um sonho,
fui novamente criança !

sábado, 7 de novembro de 2009

A metade da ausência

Tenho medo de entrar
nos teus olhos,
porque se me afogo
ou se me molho,
me perderei pra sempre
e não quero me perder;
quero ficar ainda gente.

Desculpe, se te olhei
com estes olhares fome
e te chamei de amor,
sem saber teu nome.
Depois que me acostumei,
veio o incômodo receio
de perder algo de mim
e ficar só com meio.

Agora, vou pensar melhor
e vou pensar diferente;
ver se ficar metade, é pior
do que ter você ausente.

Anuro

Sem claro,
sem olhos,
sem faro.
Sem dias,
sem fins,
sem tia.

O pobre sem rabo,
sem rabo viveu.
Desrabado, morreu.

Sem cores,
sem noites,
sem flores.
Sem risos,
sem rimas,
sem juízo.

Se quiseram enrabar,
ninguém sabe, ninguém viu.
Do jeito que veio, sumiu.

Imperfeição

O poema perfeito,
se plantou, brotou, cresceu
dentro do peito.

Era pra ser o verso
das cores, das almas;
que falasse de amor.
Mas, à meio caminho
dali, esqueceu de por
do açucar, um tantinho.

O poema perfeito,
se desgarrou, chorou, morreu.
E ficou imperfeito.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Amigos

Eu tinha um amigo.
Tinha tantos amigos,
que um dia, se foram
pelas estradas do Norte;
caminhos da morte.

Eu tinha seus sorrisos,
êles tinham meu siso
que ia sempre encontra-los
nos goles das cervejas,
nas alegrias e tristezas.


Eu tinha suas purezas.
E pureza adulta, é a beleza
do simples das amizades,
das conversas corriqueiras
e das raivas passageiras.

Eu tinha um amigo;
palavra, gesto, olhar.
Eu tinha tantos amigos,
que nem carece falar.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Meu ocaso, por acaso

Gosto do teu escuro,
por isso te caço assim,
te busco e te procuro
como se buscasse à mim.

Fico em gozo descanso,
tua sombra me acolhe;
bravio, fico tão manso,
quando você me recolhe.

E me encolho ou sobro
em suspiros e malícias;
me desmancho, desdobro
em sussurros e carícias.

Gosto do nosso escuro,
( fiquei penumbra também)
e não por acaso, eu juro,
teu ocaso me faz tão bem !

Melodias e flores

Porque não se abre mais,
porque não fala teus sonhos
em poemas tais ?
Será que não cabe aqui,
teus desejos, que eu sei,
mas que eu nunca vi ?

Porque não se cala pouco,
porque não solta a voz
mesmo com jeito louco ?
Será que não sabe ainda
da própria felicidade
que veio assim, tão linda ?

Ora, teus desejos são também
loucuras que seguem além.
E nós todos, somos amores,
somos melodias e flores !

Poema pra Kássia

Quem pode te falar do mar,
são os peixes e as serpentes.
São as estrelas e as sereias,
que moram lá, indiferentes.

Nós, podemos só admirar
o bravio ou doce rumor,
o verdeazul que faz querer
que êle nos traga um amor.

E o mar, quando se esparrama
e calmo, nossos pés vem beijar,
se não traz o bem que se ama,
rápido, se apressa em voltar.

Esquina do mundo

Quero ocupar nesse mundo,
um espaço bem pequeno.
Uma caixa de sapatos
onde caibam sonhos amenos.

Um lugar para acomodar
o que o exagero não quer;
acostumado com pouco,
basta uma esquina qualquer.

Quero um lugar ao Norte,
ou ao Sul, também pode ser.
E se eu tiver uma boa sorte,
um canto encanto pra viver.

O sexo dos mosquitos

Um dia destes, maravilhado e surpreso,
vi dois mosquitos transando.
Ou brigando, pra ver quem é que
metia o ferrão (ou ferrinho) em mim.
Então pensei : o que é a natureza;
a harmonia (ou desarmonia),
já vem das pequenas coisa.
E da pequenas causas também.
Naquele campo, ou melhor
naquele espaço aéreo, estavam lá
os dois, um trepado no outro
-por isso, minha primeira impressão
da sacanagem.
Volta e meia ou vôo e meio,
trocavam de lugar;
ora um, ora outro ia por cima.
Embora tentasse, não consegui
ouvir o que murmuravam,
porque mosquito, a gente só escuta
mesmo é ao pé do ouvido.
Aquele zum zum zum chato,
até vir de cá, a chapuletada
que ou mata o danado em plena
chupetinha, ou nos deixa surdo.
Mas, me digam : como é que
se mata um mosquito,
sem acertar a própria orelha ?
Bem, voltemos ao ato em si,
que aliás, não sei como é que acabou,
porque eu, puto da vida
com a falta de respeito dos dois,
os mandei para aquele lugar.
Aí pensei : e se estivessem só
tirando no cara ou coroa,
pra ver quem ia me chupar ?
Bom, eu acho que dá no mesmo,
afinal, prazer sexual a gente
sente primeiro através
da boca. Não é ?
Agora é tarde. Mas, eu devia
pelo menos, ter perguntado
qual dos dois era a mulher.
Quem sabe, eu não a deixasse
viva e faceira, pra continuar
dando para os taradinhos por aí,
ou chupando os taradões...