sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Profanos e sagrados

Que belas piadas
nos contaram os santos.
Piadas dos seus tantos pecados,
quando não eram ainda sagrados.
Anjos nem sempre tiveram asas,
nem sempre habitaram
celestiais moradas.
Eles andaram entre nós.
Por isso, nunca nos sentíamos sós,
como nos sentimos agora.

Nos cutucavam e nos sorriam.
Nos acariciavam e nos feriam.
Santos e anjos, éramos todos.
Por isso, bonés em lugar
de auréolas.
Por isso, as costas coçadas.

N'algum estranho momento,
nos perdemos.
E nem nos lembramos mais.
Saudades das asas.
Saudades da perdida fé.

Incerto

Quem sabe, algum dia,
eu consiga dar outra vêz,
aquele sorriso largo
que engole mundos,
aquele abraço firme
com jeito de algo profundo.

Quem sabe, algum dia,
volte à sonhar acordado
e adormeça em mim,
feliz e já sarado,
daquelas coisas tão ruins.

E quem sabe, seja um riso
que me já foi dado;
abraço sem nenhum juízo,
antes que me fosse tirado.

Ao largo

Falta de um bater de asas
rumo aos corações;
tão tristes emoções,
sem rimas e sem prosa,
sem a palavra generosa.

Falta de um simples corpo
ao lado do meu.
Um só, que se abrisse
igual flor graciosa
e me desse tudo,
qual uma rosa.

Falta da alma amiga
e da vida que sem querer,
tornou-se simplesmente
minha maior inimiga.
E na falta de tudo,
só calar e me ver ao largo.
E como um barco,
só me ver passar.