quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Despoema

Meu arco íris,
é o chão;
descolorido, descabido
de qualquer emoção.
E se procuro aqui,
minha poesia,
é que cansado estou
de céus e luas;
estrelas que já
não posso ver.

Meus sonhos,
são folhas
de descoradas
e pálidas agonias;
saudade do que em mim havia.


Meus poemas,
são para quem se ilude ainda,
com um simples,
discreto sorriso.
Para quem espera,
quem sabe,
ilusório paraíso.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Aos goles

Não quero tilintar de copos
ao meu redor.
Quero só uma cerveja
que seja da mais barata.
E que venha a melancolia
e que ela me bata.
Depois, volto pra casa,
minha ou de quem seja.
Cara cheia, saco cheio
dos outros e de mim mesmo.

Não quero beijos nem abraços,
não quero corpos inteiros
ou aos pedaços.
Só quero eu mesmo, assim,
aos poucos e aos goles.
E não me importo que gozes
nem da minha cara cheia,
nem do meu saco cheio.

Hoje, só quero ficar meio;
meio da noite, meio da rua.
E ser da saudade, inteiro,
enquanto choro pra lua.

Um passeio pelo teu poema jardim

Sempre que passeio em ti,
torno-me reticências...
porque não sei o que vi :
se anjos ou indecências.

E todas as vezes que a alma
que se revela no teu olhar,
tem ar de pureza e calma,
só tenho vontade de ficar.

Sempre que livre passeio,
por essa alma tão nua,
pelos teus versos e prosas,

pelos teus cantos e meios
e pelas ricas rimas tuas,
sinto-te flor, sinto-te rosas.

Guerra santa

Observar tantas batalhas
entre demônios e deuses,
faz parte de nossas vidas.
Vê-los ganhar ou perder,
em meio à relâmpagos,
trovões e asas feridas.

Entre céus e infernos,
são todas as guerras.
Branco e vermelho se misturam
e daí, a cor enjoada
de sóis e luas tantas;
amor e ódio nos procuram.

E nossos santos, fugiram.
Os demônios venceram.
Preces não se ouviram.
De nós, se esqueceram.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mudanças

Mudo de casa,
não mudo de mim;
sou sempre o mesmo.
Sei lá, se sou bom,
sei lá, se ruim.

Mudo de vida,
não mudo de nada;
continuo sendo igual.
Sabe-se lá das andanças,
sabe-se lá da estrada.

Mudo de tudo
ou penso que mudo.
Que continuo parado
e não mudo de planos.
Só eu e meus anos.

Angelical

Nasceu só, na rudeza
de uma Cora Coralina
ou na pura beleza
de sem querer menina.

Viveu só, no amor
ou quem sabe, nem isso;
poderia muito bem ser dor
o que lhe roubou o viço.

Morreu só. Ou não.
Acompanhada de desaforos
e carregou em si, perdão
e pecados d´algum namoro.

Cegueira

Não sei dos teus olhos
que me viram,
nem do teu corpo, nem de você,
na réstia daquele sol
que se apaga e não se vê.

Dos meus olhos, sei eu,
porque te enxergaram de longe,
em tão escura noite que tu fostes.
E meus pálidos dias
se tornaram açoites.

Não quero que nossos olhares
se vejam assim,
tão tristes e embaçados.
Então, tire seus olhos de mim,
que os meus, já estão fechados.

Pés de poemas

Plantei pés de poemas maduros,
das frutas que colhi de mim,
de tão doces, de tão puras;
maduras frutas assim.


De tantas laranjas e figos
foram os versos que te fiz.
E das rimas que agora digo,
em pontos e virgulas se diz.


Que me veio assim, tão doce
de se chupar e se comer.
Ah ! Se o poema me fosse,
tão fácil no teu prazer.

Bem vinda

Quero um abraço
de paz e boas vindas,
que pode ser de mãe
ou de alguém
que não chegou ainda.

Quero um sorriso
que me faça também
gargalhar meus ossos
em sacudidos risos
do palhaço que me vem.

E quero a melancolia
de olhar a fina garoa,
decerto na companhia
da alma que me chegou,
trazendo alguma pessoa
que abra o meu sorriso
que outrora, alguém levou.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Diferente

Diferente aquele urubu.
Cor de rosa.
E não come carniça,
só come coisas gostosas.
Solitária, aquela ave voa só
e voa alto; perto do sol
e de todas as solidões.
Não estranha a sua cor
tão diferente.
Mas, os outros estranham.
E não lhe acompanham
em seus voos de alturas.

Prefere odores de rosas,
ao podre cheiro da carne.
Por isso, um dia cismou
e colheu a flor mais bela.
Aí, foi escorraçado.
Hoje, vive ao lado das garças.
Sequer ergue olhares saudosos.
Deixou o céu, que às vezes é negro;
fica na água, que é sempre azul.
Ou verde. Ou rosa.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Meus céus e infernos

Já não lembro mais,
se fui parido por uma santa
ou por uma mulher,
à muito tempo atrás.
E desde então,
venho percorrendo
corpos dos mais bonitos
ou mais estranhos;
dos mais pequenos,
aos sem tamanho.

Já não lembro mais,
se fui por santos, abençoado
ou se fui maldito.
Sei, que desde à muito,
me distribuo em sorrisos
e me engulo em choros.
E tão sem juízo,
me cabem dos outros,
umas tantas bençãos,
uns tantos esporros.

Não lembro sequer
das asas que outrora tinha,
ou d'outro membro qualquer.
Só sei que às vezes,
me coçam costas e testas
e sei que também,
me chegam infernos e festas.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Partes desiguais

Dividi-me em dois.
Uma parte, está comigo
e da outra, não sei.
Somei-me em mil.
Mil pedaços de você,
nenhum pedaço de mim.
E sei lá, se me multiplico
para conseguir de ti,
todas as partes.
Porque algumas, estão aqui,
outras estão algures.

Ou dividi-me em mil.
Ou somei-me em dois.
Que loucuras faço eu,
se tiro partes de mim
e despudorado, me dou.
Se somo partes de ti,
sem saber sequer quem sou !

Só depois

Não posso, não quero
e nem devo morrer agora.
Não, sem antes te encontrar
e sentir teu gosto em mim.
Depois, terei a vida toda
para finalmente, morrer.

Quero passar janeiros,
despertar em fevereiros
e adormecer em marços.
Quero ter-te em setembros
e resmungar nos outubros
em que não te verei.

Não posso, não quero
e nem devo morrer agora.
Não, sem antes sentir-te
em adoráveis perfumes
e olhar tuas cores.
Depois, terei toda uma vida
para ser queixumes;
sentir mortes e dores.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Asas guardadas

Outro dia, encontrei-te
naquelas esquinas
onde almas se encontram.
Naquelas ruas
onde anjos se aprontam
para passear em nós.

E o anjo em mim, olhou-te.
O anjo em ti, apenas sorriu
e ousadamente,
apenas por um momento,
em alma, se abriu.

Nossos anjos descarados,
fazem das madrugadas
céus de estrelas e luas;
asas minhas, asas tuas
que se embolam
em desmedidos prazeres.

Até o sol chegar.
Aí, nos guardamos.
E até o próximo sonho,
asas e almas, desarmamos.

Os mortos que chorem por si mesmos

Não sou de chorar por mortos,
muito menos pelos vivos.
E não remexo nunca em covas;
sou mais de dar-me boas novas.

Não me sinto à vontade
em minha própria pele,
porque ela se dobra,
se curva e se desgasta
feito couro de cobra;
da minha saliva veneno,
me engulo e sequer tremo.

E se anjos me vierem,
serão muito bem vindos.
Mas, não descarto infernos
nem a sede de diabos e putas.
Sou eu mesmo, em mim
e sendo rezas ou pragas,
luto sozinho as minhas lutas.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ao avesso

Não te quero assim,
tão certa,
tanto quanto pelo avesso.
E faço-me torto,
que para iludir teu riso,
fico-me travesso.

Não te quero assim,
tão bela,
nos azuis dos olhares
que me dás
e nas canções
dos teus dançares.

Não te quero assim,
tão mais,
para fazer-me tão pouco.
Quero-te só feito dama,
nas travessuras dos loucos
que amantes, são chamas.

sábado, 30 de outubro de 2010

Mudança

Minhas coisas todas
cabem em uma caixa
de papelão.
Minhas cismas, minhas dores,
minh'alma, meus ossos
e meu coração.

Nossas coisas todas
não nos cabem mais,
nem sabem de nós.
Por isso, jogamos fora
nossas pedras e pós.

Das coisas nossas
que ainda ficaram,
tão restos, tão cacos,
são rotos, são trapos
que nos restaram.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ritmo

Busco uma lógica,
em cada espirro que dou.
Sinto-me tanto aqui,
mas a cada suspiro, me vou.

Busco uma métrica,
em cada espaço que fico,
que me guarda ou me cabe,
quando encolho ou estico.

Busco alguma rima
em cada poema que faço,
à cada novo amor que me apego.
Aí, vem-me a cisma
e todo eu, me embaraço;
sem lógica ou métrica, me entrego

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Olho gordo

Ando mesmo sem tempo
de ler poemas.
As letras e as moças
passam por mim,
sem eu notá-las.
Depois dos teus olhos,
não olho para mais nada;
tropeço em calçadas
e em escadas.

Fiquei doido e nem notei.
Minha vida agora, é andar
à procura do teu olhar,
que são tão tristes.

Quero por alegria no teu olhar.
Ou então, não mais te enxergar.

O mesmo gosto

Algumas vezes, fui tantos,
outras vezes, fui nenhum.
Algumas vezes, foste uma,
outras vezes, foste muitas.
E nos misturamos em vários,
ou então, em coisa alguma.
Fomos unos ou contrários;
tantas almas, ou nenhuma.

Algumas vezes,
nos desencontramos,
outras vezes,
um no outro ficamos.
E sentimos ainda o mesmo gosto,
embora, não mais nos tenhamos.

Os anjos se foram

Nos lambuzamos de liberdade
e de amor
enquanto podíamos.
Fomos asas pra que te quero,
sonhos do que queríamos.
E voamos tão alto
com os anjos de nós.

Nos desencontros
que às vezes se encontram
em certos caminhos da vida,
corremos atrás de verões.
E sem querer, sem saber,
fomos as próprias solidões;
perdemos asas e anjos.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Algumas

Fosse eu apenas,
tão só seria, mas, sou centenas.
Me reparto em todas
e me recordo em tudo.
Sou as muitas vidas
em que vivi iludido.
Sou as muitas mortes
que morri escondido.

Fosse eu apenas,
seria todo só eu, mas,
sou também helenas
e isauras e marias.
E me retiro em todas.
Rezo as rezas santas,
sem ter um anjo sequer
que fique dentro de mim.

De muitas, sou só algumas,
de todas, sou uma só.
Que seja melhor assim !

Melancólicamente falando

Os meus silêncios
e as minhas tristezas
se enganam, quando
querem ficar à sós.
Juntam-se à elas,
toda a tristeza do mundo,
todo o silêncio de muitos.

Os meus silêncios
assustam, de tão calados.
As minhas tristezas
choram, de tão doídas.
E eu, quieto e triste,
junto-me à todos
e invado solidões;
invadem-me meio sorrisos,
alagam-me choros intensos.


A melancolia que sinto,
é a mesma que é tua.
E sei, que a cura
se derrama em nós mas,
escorre depressa,
porque somos feitos tristezas
e somos melancólicos silêncios.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quase triste

Pode ser preto ou branco,
pode ser pouco ou tanto.
Mas, dói-me mais teu silêncio,
do que o teu pranto.
É feito de que, este teu calar ?
D'algumas águas passadas
ou de ventos idos ?
Decerto, de amores perdidos.

Por isso, teu olhar quase triste
e perdidamente azul,
se perde em infinitas lonjuras.
E as tuas longas procuras
se fazem tão quietas
nos teus olhares parados.
Há sim, tristeza no teu pecado.

domingo, 17 de outubro de 2010

Descorado

Não sei se sentirei por você,
a ternura inquieta
que noutros tempos senti.
Sei porém, que notei
a doce tristeza do teu olhar
e também me entristeci.

Vi na solidão que ainda virá,
uns pedaços de tempo
nos traços teus;
retalhos, talvez,
que você costurará
igual um tapete colorido
e que não terá pedaço meu.
Pena, que já me descorei;
aqui por dentro,

fiquei branco e sem sentido.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Solidões

Triste, viver  como nós,
de medíocres vergonhas
e pequenas mentiras.
Triste, viver tão sós,
em solidões e tristezas,
em covardias medonhas.

Viver assim, como nós,
é morrer todos os dias
e descrer em amores.
Exasperar em fantasias,
entristecer em dores.

Triste arrastar de chinelos
por ermos lugares que ontem,
eram nossos e eram belos.

Silêncios

O silêncio passou por mim,
depois, morreu em você.
Não foi um simples calar
de frases e poemas;
pesou-me muito, não falar.
Senti falta dos verbos
e senti falta de amores.
Senti falta dos versos
e doei-me às dores.

O silêncio pesou em mim,
depois, correu em você.
Fugiu daqui feito vento
e te assobiou passarinho;
caiu em ti, tão calmo,
meu silêncio, meu carinho.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Separados

Desculpe, se pisei corações
com meu jeito descuidado.
Desculpe se pisei em calos
e desviei-me dos teus vãos.
Pensando que me fazia bem,
te fiz somente tanto mal.

Se estamos sem assunto,
culpa minha ou culpa tua,
por não estarmos mais juntos.
E se desculpa não nos cabe,
esqueçamos nossos perdões;
Sigamos diferentes ruas.

Sem graça

Terríveis tempos de guerra.
Palavras desabaladas,
nas discussões hipócritas
que já não cabem mais
nas arruinadas vidas de nós.
Um simples dar de ombros,
foi o que nos trouxe aqui.
E não queremos admitir
que nada mais nos resta;
agora, só o que não presta.

Assim, passa a vida,
nesta nossa feia noite;
nossos sorrisos amarelos,
no lugar do branco riso.
Perdemos sim, juízos.
A brandura que havia,
agora é falta da graça,
da piada que havia.

Uns bobos poemas

O poeta que em mim existe,
é teimoso e não desiste
de fazer poemas.
Para a moça que é de longe
e para a moça da janela.
Às vezes, uns poemas sem graça,
outras, uns doces poemas.

A moça que é de longe
e a moça da janela,
recebem poemas de amor.
Uma, não sei se os lê,
outra, nem sei se os vê.

O poeta que em mim existe,
tem duas musas:
uma tão longe, outra na janela;
meus poemas são para elas.

sábado, 25 de setembro de 2010

Coisas de poeta

Quero que teus olhares
andem um pouco por aqui
-loucuras que poetas inventam-.
Afinal, eles têm olhos
que vão à todo canto
e têm asas que voam
em todo e qualquer encanto.

Quero que teus olhares
falem um pouco de ti
-sonhos que poetas acalentam-,
pois, eles têm olhos que vão
desde um simples pranto,
à sorrisos de meninas;
tão sábias, no entanto.

Quero que teus olhares
se encontrem com os meus,
nas boas novas da vida;
pode ser na volta ou na ida,
dos bonitos olhos teus.

Mistérios

Andei por aí, esquecido,
procurando uns perdidos.
Fiz das noites, dias,
voei em ventos calmos;
me percebi palmo à palmo.
E senti um medo ruim,
de ainda ter-te em mim;
porque ando sem coragem
de ver-te novamente;
coração, às vezes mente.

Andei por aí, meio confuso,
até notei o sorriso sério
que tens para tudo.
Quisera eu, poder desvendar
o teu doce mistério
e enxergar-me no teu olhar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

À alguém, que não sei se existe

Às vezes, me chega um vento
que é do norte ou do sul.
Um leve cheiro de mar azul,
que é aquele sem as asperezas
das cristas ondas.
Com tristezas e melancolias
que não fazem mal;
só um sossego de final de dia.

Às vezes, me chega algo,
que não sei dizer o que é.
Algo que à tempos eu perseguia
ou, que me seguia
desde quando eu me vi.
Que quando olhei no espelho,
procurei uns olhares
que não eram os meus;
desenhei uns sorrisos,
nos lábios que serão teus.

Às vezes, me chegam ventos
que me trazem alecrins.
Então, fecho os olhos e sinto.
Te sinto parte de mim.

Quem tem b...vai à Roma

Tinha tantas caras e bocas,
que dava caras à tapas
e dava bocas à beijos.
Às vezes, os tapas eram carinhos
e os beijos, eram soquinhos.
Mas, doíam.

Tinha tantas caras e bocas,
que um dia, lavou a cara
e com a boca, foi pra Roma.
Juntou a cara e a boca,
à bunda que já tinha
e em Roma, arrumou Amor.

De Roma, virou rainha.

Bocas e ouvidos

Que se fale ou se cale.
Que se cale ou se fale.
Porque o falar e o calar,
são um.
Palavras e silêncios
são irmãs;
quando uma fala,
a outra se cala.
Uma fala para explicar,
outra entende,
porque sabe calar.

Que se use verbos e sons.
Que se silencie os tons.
Porque são vozes poemas
e são silêncios iguais.
O que dizemos
e o que calamos,
nunca nos será demais.