sábado, 25 de setembro de 2010

Coisas de poeta

Quero que teus olhares
andem um pouco por aqui
-loucuras que poetas inventam-.
Afinal, eles têm olhos
que vão à todo canto
e têm asas que voam
em todo e qualquer encanto.

Quero que teus olhares
falem um pouco de ti
-sonhos que poetas acalentam-,
pois, eles têm olhos que vão
desde um simples pranto,
à sorrisos de meninas;
tão sábias, no entanto.

Quero que teus olhares
se encontrem com os meus,
nas boas novas da vida;
pode ser na volta ou na ida,
dos bonitos olhos teus.

Mistérios

Andei por aí, esquecido,
procurando uns perdidos.
Fiz das noites, dias,
voei em ventos calmos;
me percebi palmo à palmo.
E senti um medo ruim,
de ainda ter-te em mim;
porque ando sem coragem
de ver-te novamente;
coração, às vezes mente.

Andei por aí, meio confuso,
até notei o sorriso sério
que tens para tudo.
Quisera eu, poder desvendar
o teu doce mistério
e enxergar-me no teu olhar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

À alguém, que não sei se existe

Às vezes, me chega um vento
que é do norte ou do sul.
Um leve cheiro de mar azul,
que é aquele sem as asperezas
das cristas ondas.
Com tristezas e melancolias
que não fazem mal;
só um sossego de final de dia.

Às vezes, me chega algo,
que não sei dizer o que é.
Algo que à tempos eu perseguia
ou, que me seguia
desde quando eu me vi.
Que quando olhei no espelho,
procurei uns olhares
que não eram os meus;
desenhei uns sorrisos,
nos lábios que serão teus.

Às vezes, me chegam ventos
que me trazem alecrins.
Então, fecho os olhos e sinto.
Te sinto parte de mim.

Quem tem b...vai à Roma

Tinha tantas caras e bocas,
que dava caras à tapas
e dava bocas à beijos.
Às vezes, os tapas eram carinhos
e os beijos, eram soquinhos.
Mas, doíam.

Tinha tantas caras e bocas,
que um dia, lavou a cara
e com a boca, foi pra Roma.
Juntou a cara e a boca,
à bunda que já tinha
e em Roma, arrumou Amor.

De Roma, virou rainha.

Bocas e ouvidos

Que se fale ou se cale.
Que se cale ou se fale.
Porque o falar e o calar,
são um.
Palavras e silêncios
são irmãs;
quando uma fala,
a outra se cala.
Uma fala para explicar,
outra entende,
porque sabe calar.

Que se use verbos e sons.
Que se silencie os tons.
Porque são vozes poemas
e são silêncios iguais.
O que dizemos
e o que calamos,
nunca nos será demais.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Penitência

Capaz de te carregar
igual um ponto de luz
ou, igual à uma cruz,
por toda a eternidade.
Só não sei se me carrego
também, de verdade.
Que se você me pesa,
ou não,
tenho meu peso em tudo.

Por isso, te mando flores.
E me penitencio, guardando
em mim, todas as dores.

Prá você

Quero dar-te um mimo,
que não seja só primo
daquele outro que te dei;
porque aquele, comprei.
Quero dar-te um agrado,
que sejam flores do prado
ou que do pântano, sejam
mas, que em cores, vicejam.

E ele, não será só teu.
Desde que saiu de mim,
será um pouquinho meu,
porque te acaricio assim.

Futuro do meu passado

Coceirinha nas costas,
das asas que em mim havia.
Céus que sempre me vinham,
nos voos que eram poesias.
Saudades dos amanhãs,
que não sei como serão.
Esperança de que talvez,
novas asas me nascerão.

Pensamentos de anjos
                   ou demônios.
Desejos de rezas
                   por Marias.
Vontade de pecar
                   por Antonios.
Tristeza pelo que em mim,
                   havia.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Restamos nós

Somos nós, sobras e restos.
Você, mutante de si mesma,
eu, travesti do que não presto.
E procuramos ainda, infelizes,
a felicidade que foi embora.
De tempos em tempos,
sorrimos e nos saciamos
no amor de meia hora;
envergonhados, dormimos.
Nosso desamoroso abraço,
tão frio, que nos queimamos,
não serve aos nosso encontros.
No entanto, sempre teimamos.

Somos nós, restos e sobras.
Você, escondida em teus cantos,
eu, enfiado em minhas dobras.
Assim, sorrimos nossos prantos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cara à cara

A minha cara metade,
que era um barato,
me saiu cara.
Teve a cara de pau
de ir-se embora,
levando a cara e a coroa.
À mim, restou enxugar
lágrimas no rosto
e ter vergonha na cara.
Melhor ser só metade,
porque a outra parte,
além de ser rara,
quando resolve partir,
nos deixa com cara de bobo,
cara de tacho;
sem coragem sequer
de nos olharmos na cara.

Sem alarde

Nos derramamos
em exageradas doses
de sorrisos e lirismos.
Chega  à ser até cinismo,
nossa desregrada alegria.
Nos amamos
em esquisitas poses;
pernas pra que te quero,
mãos, que te espero
já em puro pelo.

E beijo teus bicos
e lambo teus picos,
entre florestas e coxas.
Remexe teus quadris,
remexo tuas entradas
e fico em ti.
Nos amamos, derramamos
sem pressa, enredamos
no gozo que já veio tarde;
sem vergonha, sem alarde.

Calmaria

Pintei meu desassossego
com o jeito que tinhas.
Que não sei se tu vinhas
para o meu aconchego.

Pintei as minhas cores
com os azuis que trazias.
Não sei se me cabias,
em arco íris ou amores.

Pintei-me todo de ti
e o teu verde, invadi.
Alecrim, capim cidrão,
acalmaram meu coração.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sem pressa

Eu tinha toda a pressa do mundo
e hoje, já não tenho;
já não vou, nem venho
com exagerados passos.
Sou calmo no apelo do tempo;
paro, olho e sinto
no rosto, o vento.
Sinto em mim o gosto
de pressentir eu mesmo.

Eu tinha tanta pressa
e hoje, já não me interessa
se sou dias, minutos ou segundos.
Sou apenas, a certeza do tempo
que me resta.
Tempo de colher o que ainda
me presta.

Aos goles

Os domingos me entram,
em todas as geladas cervejas
que bebo para comemorar
não sei o que.
Que bebo para chorar
a tua lonjura.
Os domingos me entram,
para anunciar dias iguais;
que a alegria de antes,
já não me pertence mais.

Nos meus domingos,
fico bêbado
de cervejas e tristezas.
E de gole em gole,
me maltrato aos poucos,
fico um pouco mais louco;
bebo cervejas, perco juízos.

Poema inacabado

Não tenho mais palavras
para te dizer diamantes,
para te escrever pérolas
e nem coragem para falar
todas as letras bonitas
e toda a poesia perfeita.

Já são tuas as rimas;
restaram-me falas chulas.
O teu verbo veio-me azul,
trazendo amenidades
e eu sequer soube
mandar-te minhas cores;
meus coloridos juntos,
prantearam minhas dores.
Mandaste-me tantos dourados,
mandei-te um poema inacabado.

sábado, 18 de setembro de 2010

Rimas e penas

Saísse de ti, algo além
de prosas e poesias,
certamente eu não ficaria
atento apenas aos olhares.
Apreciaria gostosamente
teu café da manhã,
lambendo beiços que,
escorrendo manteiga,
alisariam quentinhas broas
servidas na travessa florida
que foi da tua avó.

Sorrisse um pouco mais
criança e largada
e não esse teu riso sério,
minha coragem de abraços
seria talvez, outra.
Minha ousadia de beijos
espantaria até pardais,
que teimam em ciscar
nestes teus quintais.

Mas, fico eu, só poemas.
Ouço teus passarinhos
que misturam penas,
às rimas que faço sozinho.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Bordados

Os bordados dela são gentis
aos olhares de todos.
Quem olha, tem paz.
Quem olha e torce o nariz,
recebe de volta a colorida
mansidão das linhas.
Quem olha, torce o nariz
e maldosamente critica,
recebe troco sim.
Os bordados não falam; antes,
dão àqueles maldosos olhares,
a tranquila luz dos desenhos
que são só seus.

Os bordados são a cara e o jeito
de quem os têm feitos.
Diariamente, serenamente
encontra deuses e amores
nos alinhavos perfeitos.

Tristes olhos azuis

A moça fez silêncio;
vago abismo sem sons.
Antes, o príncipe encanto
era ruídos
de amorosas frases
aos seus ouvidos.
A moça é triste.
Não queria tanta brancura;
que ontem, seus olhares
enxergavam os azuis
que se perdiam em lonjuras.

Procura agora, a palavra amor,
do moço príncipe
que longe se vai.
E ele, que antes
era tão amigo, tão amante,
sequer volta-se para olhar;
não quer ver lágrimas
naqueles olhos de mar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Maldito poeta bendito

O poeta escreveu uns versos
molhados.
Rimou simples e envergonhado,
nas letras que costuma fazer.
O sofrer dele, é o nosso;
é nosso o seu bem querer.
Por isso, em cada verso,
choramos ou sorrimos,
nos enxergamos naqueles amores.
Ou dores.

Poeta, não remexa tanto
em nossos corações,
com tua xereta caneta,
com teus verbos ilusões.
Da-nos ao menos instantes
do branco e do silêncio.
Da falta da escrita
e da palavra não dita.
Maldita a tua sensibilidade.
Maldito poeta bendito.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Por acaso

Por acaso, bordei-te em mim.
Disse um monte de nãos,
querendo te dizer sim.
Com a cara deslavada que tenho,
chego de manso,
quando achas que não venho.

Não por acaso, fiz bordados
de coloridos céus.
Pintei panos de prato,
pendurei alguns véus.

E se por acaso,
um dia você chegar,
me verá sorrindo,
um arco íris bordar.
E não por acaso,
meus bordados te dar.

Poeta bobo

Despedi-me daquelas putas palavras.
Pobres versos sem vergonhas,
que gozam nas bocas
e que posam de loucas.
Loucura é a minha, achar
poemas naquelas letras,
que balançam em nossos rostos,
parecendo pengas tetas.

Prefiro agora, navegar
nos mansos mares iguais
aos azuis dos olhos teus.
Colher flores e perfumes
na rima que se escreveu.
Quero doces, claros
e simples verbos.
E nem me incomodo,
se me chamarem de bobo;
fiquei bobo, de um bobo poema.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Bocas

Lindas bocas, bocas nuas
à darem-se para tudo,
ainda com cheiros tantos;
tontos todos que as beijaram.
Lindas bocas, nuas, roucas,
à despirem-se despudoradas,
em beijos longos e molhados;
melados das línguas ávidas,
impávidas que se embrenharam.

As bocas todas eram santas,
tantas eram putas bocas,
que um dia se emprenharam
nas salivas daquelas loucas.

Despregando botões

Me descosturo agora, daqui.
Pegue tuas casas de volta,
que volto botão para mim.
Não me alinhavo mais em ti.

E se acaso, tua barra sujou,
larga minhas golas e mangas,
desprega-te do meu bolso,
que por tua causa, furou.

Aproveita os zipers e pregas,
fecha tuas portas e pernas.
E que nas próximas entregas,
tenhas camisinhas modernas.

Idas e vindas

Nossas partidas são muitas.
Às vezes, parto eu,
outras vezes, parte você.
Não são despedidas normais,
porque sabemos das voltas.
E não são sem vergonhices
o que fazemos conosco.
É um ir até a padaria
comprar o cigarro que acabou;
um breve passeio até ali,
para respirar novos ares.

Nossas partidas são assim,
costume de desatar um pouco
nossos nós que incomodam
e nos largarmos um ao outro.
Depois, um novo recomeço,
querendo esquecer tão rápido
o porque do até logo.
Até um novo enganar;
esquisito jeito de amar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Bombocados

Dei-te rosas de chocolate
e brigadeiros de amores.
Juntei um pouco de mim,
em bombocados de flores.

Dei-te em beijos, meu tudo
de pequenas coisas que tinha.
Mandei-te na cesta até,
as cocadas que eram minhas.

Abraços com doces melados,
doçuras nas minhas pipocas.
E jujubas e balas de agrados,
em sorrisos e muitas beijocas.

Réstias e restos

A lua que nos ilumina
é a lua dos pobres.
Em fracas réstias,
mal clareia becos,
onde vagueiam
bichas e bêbados,
lésbicas e inválidos.
Que dá esmolas
de pouca luz,
à quem procura algo
que ainda não perdeu,
à quem lamenta amores
de longínguo passado
e à quem sente ainda
ilusórios odores.

A lua que nos ilumina
nos dá só os restos;
o que sobra dos outros
e que aqui se despeja
em sentidos prantos.
Não deveria ser assim.
Esta lua, deveria
esparramar-se nas ruas
de quem só tem à ela.
Deveria consolar dores
e sofrimentos. Dar-se
inteira e não aos pedaços.
Dar-se toda, à quem não tem
sequer um abraço.

sábado, 11 de setembro de 2010

Casulo

Era para sermos borboletas,
era para termos várias cores.
Não me digam de esplendores
só em caudas de cometas.

Porém, entre ossos e nervos,
prisioneiros somos, de nós.
Feitos de tantos barros e pós;
de alguém, simples servos.

E buscamos espaços e céus,
em asas postiças e tortas,
em voos forçados e tristes.

E levantamos cortinas e véus,
cavamos só coisas mortas
para ver se a vida existe.

À você, filho

Filho, se eu pudesse,
pegaria teu destino em minhas mãos,
para que não sofresses tanto.
Mas, é impossível porque
à cada um, seu destino.
E se sofro com você,
não posso sofrer por você.
Fosse assim, seria rosa tua vida,
seriam bailados e brinquedos;
o mundo teu sem segredos.
Seria até egoísmo meu,
porque tua vida seria então,
insossa e sem sentido algum.
Ora, que posso fazer eu,
a não ser falar de mim,
-que fui você ontem-
para você, que será eu amanhã ?
Dizer que a vida tem um segredo :
retidão.
E quando nasceste, ganhaste
um cadinho de açucar
e uma pitadinha de sal.
Assim, aprenda a usa-los.
Seja honesto com o mundo
e consigo mesmo.
Tempere tudo na medida certa
e a vida não te será injusta.
E quando ela lhe parecer
que assim é, lembre-se :
é só misturar um pouquinho
com a colherzinha do amor.
Amor que carregas em ti
desde à muito, muito tempo.

Carneirinhos

Disseste que tens insônias.
Então, quero ser eu
e quero ser sono também.
Dispensa teus carneirinhos,
fecha os olhos e dorme
com meus carinhos.
Deixa um raio de sol acordar-te
e contarei o que vi;
uma adormecida tão bela,
com um sorriso nos lábios
e um monte de carneirinhos

com tristes olhos vermelhos,
invejando teu travesseiro.

Uma boa razão

Desanimado, pensei :
ninguém comenta meus poemas.
Então, porque poemo ?
Para quem escrevo ?
A resposta,
deu-me outro poeta :
poemas não precisam razões,
nem destinos também.
Só precisam corações,
pois o verso,
sempre chega à alguém.

Tuas presas

Um escuro, de repente.
Um raio, um trovão,
uma serpente.
Desarrumação ruim,
um desarranjo só;
fria pele em mim.

Não me acostumo ao frio
que sempre vem de ti.
Prefiro meu estio,
ao inverno daqui.
Mas, as vezes todas
que se me enrolas,
em festas e bodas,
friamente me controlas.

E no escuro, de repente,
um bote, um veneno,
nosso gozo tão urgente.
A negação do sim,
estando no teu meio;
tuas presas, enfim !

Pequena história de uma moça poeta

Ela queria poetar mais uns dias.
Continuar poeta, não ser estrela;
estrela só nos poemas.
Queria segurar-se aqui. Em vão.
Era puxada para outros cantos
-existirão poemas além ?-.
Gostaria de ficar, mas,
também queria ir.
A alma dolorida, cansava-se
agora, à toa; tanta ânsia
e tanta coisa boa.
Queria poetar mais um pouco;
mais um dedinho de prosa
com amigos, com a vida.

Melhor assim.
Se despedir aos poucos.
Devagar, bem devagar
Ir-se apagando.
Sem apegos, se apagar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Purgatório

Todos pecamos em vida
(atire a primeira pedra...).
A cada um, cabe um céu;
céu sem santos ou anjos,
céu das putas e dos pinguços,
dos travecos e dos normais.
Só o diabo, é demais.
Lá, morremos e nascemos.
Todos os dias aprendemos
a expiar erros. E erramos mais.
Somos alunos e mestres;
a educação continuada,
inventada aqui, aplicada lá.
Parece fácil, mas, se tentamos
enganar, nos enganamos.
E a terra, é só primeiro ano.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sobre poetas

Os poetas estão partindo.
O mundo já não é dos poemas
e das rimas.
Aos poucos, estão indo;
mochilas cheias de letras,
versos pendurados às pencas.
E perfumes.
Odores de rosas e avencas.

Os poetas já não riem.
Onde o sorriso era,
um que de tristeza se fez.
Um pouco de dores,
um tanto de desamores;
toda a insensatez de quem
não quer enxergar cores.
E isso, poetas não entendem.

Na simplicidade
de versos e rimas,
só querem coloridos olhares,
querem só brancos cantares.

Pensamentos de um idiota às duas da madrugada

Duas da madrugada.
Um frio do caralho e eu aqui,
no pé da janela
(que janela tem pé, sim senhor),
esperando que ela
me estenda a mão
(já que não tem tranças de Rapunzel).
Será que vale a pena ?
Acho que sim.
Meu gelado nariz,
acha que não.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Raridade

A minha cara metade é rara.
De uma raridade beleza,
difícil de se encontrar.
Inalcançável estrela
que me brilha ao longe,
tão nua; bela lua
que me ilumina ao vê-la.

É rara a minha metade cara.
E nem sei mesmo se ela existe,
pois só a vejo em claros luares,
em raros cantares.
E quando vem a claridade,
quedo-me em silêncio
na prata que me cai,
tão clara, tão cara,
tão rara quando se vai.