quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Entre o chão e o céu

Tentei escrever diferente
e, diferente fiquei eu,
sempre triste, cabisbaixo,
ao contrário do que é teu.

Tentei ser outra pessoa,
mais largada, mais a toa;
me perdi em tanto espaço
e minh'alma já não voa.

Tentei de tudo, um pouco;
outra alma e outro ser,

então, quase fiquei louco
e, não consegui te querer.

Afinal, o final

Juntamos o certo e o torto,
também o vivo e o morto
e então, deu no que deu:
um de nós, se perdeu.

Lado a lado, colocamos
o riso e o que choramos
e terminamos assim:
você, tão longe de mim.

Fomos felizes, um dia,
sonhamos sonhos tantos,

vivemos o que havia
e hoje, enxugamos prantos.

Velhice

Agora enfim, é acostumar-se
com as magras costelas,
mesmos sêcos cabelos brancos
e aquelas tristes remelas.

Nos tantos anos passados,
naqueles ombros e peitos;
então, encolher-se e ficar
assim, arqueado e sem jeito.

Agora enfim, é recolher-se
em tristes bengalas mancas,

se acomodar e conter-se
na velhice das rugas tantas.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sem asas para voar

Um dia, cismei de voar;
tolo sonho de imensidão,
que o homem só foi feito
para ter os pés no chão.

Cismei de sair por aí,
com asas e vôos imensos,
em descabidas procuras,
atrás de algo pretenso.

Mas, voar sem asas, não dá,
porque o corpo, nos segura;

para qualquer lugar que se vá,
é vã, toda a nossa procura.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Mais um dia

Acordo outra vêz de ressaca,
um gôsto de buceta na boca
-aquela que não chupei-,
na roupa, um cheiro de cigarro
-aquele que não fumei-;
cuspe na pia, escarro.
Impressão de foda mal dada
-aquela que eu não dei-,
saudade de alguém incerto,
cãibra nos dedos,
decerto da punheta tocada;
amor solitário, gozo bôbo.
A mulher enchendo o saco
e eu, faltando só um pouco
prá mandar isso tudo
à puta que o pariu.
Dar uma de louco,
sair de casa, apenas
com a roupa do corpo,
fingir que estou morto
e renascer noutro lugar.
Chamar a morena da esquina
e me embebedar.
Namorar outra vêz
o namoro que faz tempo
já não namoro mais.
Deixar para tràz
o resequido corpo
que outrora me queria,
quando ainda não havia
dores prá doer,
lágrimas prá chorar.

Mas, amanhã será tudo igual,
até o dia em que eu resolva
ficar novamente de mal;
virar notícia de jornal
na seção de falecimentos.
Meus sentimentos !

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Teu jeito gilete de ser

Gosto do teu jeito menino
que me cutuca e afunda,
mas, não desgosto também,
da tua parte menina
que se esfrega e que vem,
que se entrega ou domina.

Gosto do teu jeito machão
que se endurece e reclama,
mas, não desprezo tua dama
que se abre e que geme
e que em cima da cama,
diz palavrão e se treme.

Gosto de você assim, por inteira;
algodão doce ou doce pirulito,
espada de são jorge, amor perfeito,
servida na colher ou no palito,
comendo ou dando, desse jeito.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Versos e Rimas

Fico cá com meus poemas,
minhas rimas e meus versos;
com corações e tormentos,
pensamentos mais diversos.

Neste canto que é encanto,
satisfaço minhas vontades,
me embalo e me aninho,
me desfaço em saudades.

Fico cá com meus poemas,
sentimentos tão aflitos

que na verdade, são apenas
choros e risos escritos.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Infausta

Encardiu a própria alma,
perdeu o seu rumo;
virou apenas mais uma
pobre ilusão de consumo.

Foi para o outro lado
e ganhou muito mais dinheiro;
não se sabe se a alma
ou o corpo, vendeu primeiro.

Deixou aqui, amor e paixão,
que dizia e achava eterno;

mas, quem liga para o coração,
quando tem a alma, no inferno ?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Quero me ter

Preciso fazer algo prá me ter,
prá ter só eu, mais ninguém;
ficar em mim, no meu cantinho,
reaprender a ser alguém.

Dos outros, já vi e provei,
comunguei dores e alegrias,
senti o gosto e o cheiro,
participei de rezas e orgias.

Quero agora, ficar comigo mesmo,
sem hora prá dormir ou acordar.

Me encontrar ou andar à esmo
e se você insistir, te re provar.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Colheita Temporã

Enfim, nos encontramos aqui;
parecia que era de queijo,
não é.
Se era parecido com beijo,
teve fim.
Nos encontramos hoje,
sem desejo;
iguais e contrários,
parecidos e diferentes.
Não temos mais sementes
para outros plantios.
Resequidos e largados,
estamos em tempo de estio.

Fomos colheita fora do tempo;
contratempo de nós dois,
que não temos mais o agora
e não teremos o depois.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Comunhão

Andei por tantos caminhos
certos, à tua procura;
no torto, te achei,
tão porto, tão segura.

Busquei nas rezas, igrejas,
altares, pelo teu amor;
na perdição, te encontrei,
tão sedução, tão dor.

Que não és santa, igual Maria,
então, cada gozo é oração

e cada reza é uma orgia;
somos os dois, comunhão !

Loucos poetas

Os poetas
são cômodos
e incômodos.
Ficam com suas letras,
esperam suas rimas,
criam suas cismas.

Os poetas
são metidos
e perdidos.
Se acham tão ilustres,
aguardam a palavra,
a mesma que faltava.

Os poetas
são santos,
nem tanto.
E são capetas também,
embaralham pensamentos,
confundem sentimentos.

Os poetas são loucos
e são poucos,
a buscarem seus pares
em simples olhares.

E quando há o encontro,
põem afinal, um ponto !

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Perfumes

Pode ter cheiro e não ser,
pode te cobiçar e não querer.
Em puro incolor, não se perceber
ou em carmim, até aparecer.

Do teu batom, pode ter o gosto
e se te machucar, pode ser desgosto.
Um rastro deixar ou ser o oposto;
clara tristeza, estampada no rosto.

Pode ser que tenhas paixão
pelo cheiro, pelo gosto, pela cor;

o cantinho da orelha, é prisão
da tua alegria ou da tua dor !

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Perdição

Não sei, se te quero desse jeito,
tão pródiga em contrários,
tão indecente, descarada e puta,
que teus defeitos, são vários.

Não sei, se me quero em você;
tenho mêdo de me perder
nas tuas sinuosas avenidas
e não voltar, de tanto prazer.

Não sei, se fico ou esqueço
teus escuros caminhos,

teus devassos carinhos,
porque contigo, me pareço !