quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Imperfeito

Sou menos perfeito hoje,
passei todos os meus limites;
eu, que me sentia santo
e não aceitava convites.

Me convidei para a festa
e fui mascarado de luto,
deixei de lado a vergonha,
beijei prostitutas e putos.

Tornei-me imperfeito, eu sei.
Fiz o que sempre quis, pequei.
É para outros, a perfeição;
quero pecados no coração !

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Em casa

Tentei ficar um pouco mais leve,
mas, foi tudo em vão;
minha leveza não ajudou.
Fiquei com meus pesares,
levei junto, meu coração.

Fui para o outro lado,
jantar com quem tinha morrido
de febre, de dores ou de nada,
mas, não me aguardava o outro;
me aguardava eu, tão sofrido.

Tentei ficar um pouco mais leve,
igual se fica quando se vai
e quando afinal, cheguei,
soube que estava em casa.
Agora, uma leve lágrima me cai.

Poetas

Teríamos um imenso vão,
não fossem tuas letras,
colocadas em nós, marcadas
feito verbos em ferro;
berro que com versos,
são rimas enciumadas;
moradas na garganta tua.
Teríamos por certo, solidão,
não fossem tuas vozes
atrozes gritos no escuro.
Então, porque será que eu
mesmo me procuro
nessa tua prosa ?
Seríamos por certo a razão
de tantas amarguras, não fossem
tuas canções de amores;
mágoas à sarar nossas dores !

sábado, 26 de dezembro de 2009

Um mimo

O meu presente, foi um carinho
que ganhei já faz um tempo.
Então, a cada ano que passa,
pego dele, só um pedacinho

que é para que sempre dure,
enquanto em mim, vida houver.
A cada vêz, faço uns mimos
de ti, embora minta e jure

que de você, já não lembro mais;
mentira cruel e deslavada,
à acompanhar-me todo o sempre,
igual o presente de tempos atrás !

Instante distante

Seria bom, se trocássemos olhares,
mesmo que fossem sem querer;
você, tentando se esconder,
eu, escondido em meus pesares.

Seria bom, se tocássemos ombros,
mesmo que fosse um tanto;
você, exalando todo encanto,
eu, perdido em meus escombros.

Bom se aproximassemos rostos,
para ao menos, sentirmos gostos.

Uma pena, estar-mos distantes
e não termos sequer um instante.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Acácia

Descobri porque teus olhos
são tão tristes,
porque tuas meninas choram.
É que embalam uma dor só tua,
um sofrimento que ninguém sabe
e que talves, em ti, não cabe.
Descobri o porque das tuas dores
em tanto o que escreves
e que tantos se perguntam,
se não poderia ser mais leve.
É que choras nos versos,
quando falas de perdidos amores.

Então, sei que serão heresias
os cantares alegres e coloridos,
feitos por um coração
que hoje, ainda soa dolorido.




Um Natal bonito

Para todo mundo,
deveria ser sempre Natal,
deveria ter sempre paz,
mas, pra mim, tanto faz.
A cada ano que passa,
meus Natais são mais tristes,
sem que um sorriso
se abrisse.
Queria ter um Natal bonito.
Traz êle pra mim
e aproveita, vem junto,
feito um lindo presente.

Por tua causa, virei poeta

Por tua causa, virei poeta,
porque nascem da saudade,
os versos que faço;
esses descompassos de dor.

Por tua causa, fiquei descrente,
porque conjugo o desamor,
ou seja lá o que for,
nessa minha solidão.

Por tua causa virei isto,
homem sem sal e sem gosto.
Que me venham outros versos,
em dias e noites sem rosto;
tristes rimas que converso.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Coceirinha

No começo, parecia morte,
mas, com um pouco de sorte,
sobrevivi.
Parecia o triste fim do mundo,
aquele poço profundo
onde cai.
No começo, parecia doença,
que mesmo sem pedir licença,
entrou aqui.

Agora, é só uma feridinha
que às vêzes, ainda coça.
Vontade de tirar casquinhas;
coisas que eram nossas.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Distração

Passaram uns olhos por mim
e eu, distraído, não os vi;
tarde demais, os persegui.

Passou um sorriso por aqui,
daqueles sinceros e doces;
sem querer, deixei que fosse.

Por aqui, vieram tantos amigos
e outras tantas amantes.
Só que agora, já não consigo
achar o que me veio antes.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Canção do juízo final

Amarrem suas cadelas,
que vem o tempo do cio
à descer feito um rio,
rindo das carnes e dores,
dos nervos e dos amores.

Atrelem seus cães,
que vem o dia do juízo,
travestido de paraíso;
dias que apontam para nós,
soprando nossos velhos pós.

Atem seus lados opostos,
que um dia hão de cantar
as canções dos crentes;
bestas falando de Deus,
decifrando corações ateus.
O céu e o inferno são nossos,
pois que a fé já morreu !

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Segredo

Me perguntam do meu amor.
Digo que de quem eu gosto
não é com quem eu moro,
nem com quem namoro.
O meu gostar, tem olhares
de distâncias e de caminhos,
de lembranças e de carinhos.
O meu gostar, tem jeito
de quem eu nunca vi
ou, de quem vejo agora;
de quem em pensamentos,
a gente logo se enamora.

Me perguntam do meu amor.
Digo que em tantos bares,
muitas vêzes me enamorei
e corações se falaram,
balcões nos separaram.
Digo que de quem eu gosto,
não é com quem eu moro,
nem com quem eu namoro.
É porque toda noite,
bebo goles e me engulo
e porque do lado de lá,
está quem eu hoje, adoro.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nós

O nó de nós, me amarrou,
que está difícil desfazer
e mesmo sem querer,
me aperta, cada vêz mais.
Teu nó no meu pescoço,
nem me deixa respirar,
faz só ficar enrodilhado,
até em ponto de dar dó.

Não quero mais teu laço,
esse teu sufoco abraço;
quero mesmo é ficar só,
eu e meu enrolado nó !

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Bobinho

Chegou fazendo charminho,
deixando cheiros pelo caminho
e entrou em mim, devagarinho.

Eu, que estava tão sózinho,
ansiando por um carinho,
me apaixonei pelo denguinho.

Fizemos o nosso ninho,
um do outro, quer colinho
e se não tem, faz beicinho !

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Corpos

Corpos são bons,
são quentes e macios,
são gostosos, escorregadios,
dão prazeres, fazem sons.

Corpos são doces,
são suados ou limpos,
tão agradáveis e lindos,
nos amores que se trouxe.

Corpos são aconchegos,
são esticados ou dobras,
algo que não se cobra;
tão inquietos nos sossêgos.

Corpos são afeições,
são tranquilas emoções,
poços de águas escuras;
clara fonte que se procura.

Subtração

A soma de mim mesmo,
deu o número que não quero;
um algarismo indivisível,
algo parecido com zero.

Eu, que queria ser primo
e ter as tuas adições,
ser soma de número inteiro,
onde caberiam corações.

Mas, não chego sequer a um;
na verdade, nada adiciono,
porque diminuindo do total,
sem você, eu nada somo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Danos

Vêz em quando, abro
o guarda roupa das lembranças,
tiro alguns ossos polidos
de tão gastas esperanças.

E vem a saudade de nós,
dos pós do nosso armário,
das roupas de qualquer jeito
e dos sapatos ao contrário.

Vêz em quando me olho
naquele mesmo espelho,
à procura do que um dia fui
e à espera de conselhos.

Conselhos que já não posso me dar,
porque me ultrapassei em anos
e sei que agora, é besteira ficar
me causando assim, tantos danos

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cara de pau

Posso passar por aí,
te colocar no bolso
e levar para passear ?
Te guardar igual passarinho
e mostrar para todo mundo
onde fizeste teu ninho ?
Posso passar por aí,
sem segundas intenções ?
Porque elas já andam
lá, pelas quintas, sextas
e haja tanta tinta
para dizer quais são.
Posso passar por aí,
jeito de quem nada quer ?
E depois de um suspiro,
te pedir tudo, assim
e com a maior cara de pau,
te guardar sempre em mim.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sem remédio

Tantos dias revirados,
só para encontrar aquelas horas,
só para se perceber perdido
e se sentir esquecido.
E todos os dias revirados,
viraram-se contra nós;
em cada um, um que,
à nos lembrar que somos sós.

Tantas noites inacabadas,
terminadas antes da hora,
em que quase sempre amanhece
na claridade que não esquece.
E todas as noites são cruéis,
no dia que amanhece sempre,
trazendo à luz, o ausente.

Por isso, procuramos novos céus,
buscamos outros breus,
mas, nevoeiros são os mesmos;
são iguais sombras e véus,
cobrindo o sol que morreu.

Tantos dias revirados,
tantas noites inacabadas
porque procuramos passados;
mesmos vícios para nada.

Bom bocado

Guloso que sou, dei-te uma bocada
e te engoli inteirinha.
Você sequer gritou, envolta que estava
pelas minhas bocas, línguas e dentes.
E ainda lambi dedos e beiços.
Que delícia você estava !
Faz de novo, assim;
se unta de mel, se molha de cheiros
e dá pra mim novamente.
Prometo que desta vêz,
te como mais devagar
e ainda guardo um cadinho pra mais tarde !

Renascendo

Preciso me redecorar,
tirar orelhas, por brincos.
Colocar novos olhos
que vejam tudo azul.
Deixar nascer outro nariz,
desacostumado com cheiros
e ranços de velhos suores.
Os braços, quero menores,
porque já não preciso
abraçar o mundo todo.
Tolo, querer tantos dedos;
um só me basta, que preste
para apontar o lado certo,
o lado para onde vou,
com minhas tantas pernas.
Ah ! Isso sim, terei todas
as longas pernas do mundo
para outros horizontes.
E corações, terei muitos,
onde caibam os amores
que daqui em diante, terei.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Distração

Falei para não ir,
não escutou;
além de partir,
também me levou.
Ela poderia ficar,
nem imaginou;
foi de mala e cuia,
para levar, me embrulhou.

Só que ainda não percebeu,
deixou aqui um pedaço.
Então, em tudo o que faço,
sou apenas o que ela esqueceu.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A mesma saudade

O pouco que restou de mim,
guardo, para uma volta, talves.
Enquanto isso, fico eu aqui,
ouvindo a voz quarenta e quatro
da Ana Carolina, cantando
sobre meninos e meninas.
Arremedos de dores,
que o poeta escreve,
em momentos cruéis
e que se ouvem nas favelas,
em loucos decibéis,
para o outro lado do mundo ouvir,
sentir que ainda faz falta.
Mas, se isso resolvesse,
ninguém jamais partiria.
As gargantas gritam e se agitam
em choros tantos e no entanto,
são saudades mal feitas;
desfeitas quando a cerveja vem,
acompanhada daquela moça
que sempre traz um novo amor.
Pois é, saudades são todas iguais...

Padecer

Esqueci n'algum canto qualquer,
a minha alma metade,
que inteira, ela já não existe,
desiste de ser completa.
Uma parte se foi
com a tua partida e deixou rastros
tão fáceis de seguir,
só sair para recomeços;
tropeços de quase sempre.

Então, me encruo, recuo
nos próprios passos
e novamente me esqueço.
Outra vêz, padeço !

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

À quatro mãos

Quando as letras estiverem escritas,
já não serei eu talves, que as diga;
quem sabe, uma alma que as siga
nas asas, que o próprio vento agita.

Quando a prosa já não mais tiver
papas na língua, nem doce saliva,
que desprendeu-se da rima cativa,
não serei eu, o verso que houver.

Virá o verso, acostumado que está,
a tecer rimas que falavam de dor,
desdenhando belezas que outrora tinha.

Rimará a leveza da falta da vida que há,
achando simples agora, falar de amor;
entendendo enfim, o poema que vinha.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Por encanto

Enquanto não for demais,
quero pedir sempre bis de ti,
decifrar-te no que eu li
e continuar querendo mais.


Enquanto não for loucura,
posso me perder no verso
que me soa tão perverso,
mas, que a alma procura.

Enquanto te encontrar nas rimas,
minha ânsia, é querer-te mais,
na construção do verbo que tens.

E, faço dessas minhas ruínas
o castelo, com o que você traz;
me reconstruo, quando tu vens !

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ao amigo que partiu

Segue em paz, amigo.
Lá, terás a companhia de iguais.
Sabemos que vais abrir um "parateco"
(mistura de paraíso, com boteco)
para a freguesia que conhecemos aqui,
mas, que se mudou antes do tempo.
Aliás, dizem que lá, a cachaça é outra;
mais gostosa, não desce queimando,
ao contrário, alivia o espírito, lava a alma.
Lá, roda de samba, é feita no arco das nuvens
e tem um ritmo gostoso,
malandramente angelical,
onde niguém desafina.
E antes que eu me esqueça,
lá também tem putaria;
claro, que um pouco mais comportada
do que a daqui de baixo.
Vêz em quando, os santos liberam geral
e até caem na farra, porque são santos,
mas, não são de ferro.
Então, não ficaras tão mal assim.
Aqui, sentiremos mais que você,
porque vai bater a saudade
e o remédio, vai ser tomar
umas e outras prá disfarçar.
Vai com Deus, amigo.
Mas, não esqueça de deixar
umas cervejas pagas pra quem fica...

sábado, 28 de novembro de 2009

À luz de velas

Que romântico, dançar
ao som de um bolero,
morrer à luz de lamparinas.
Porque das minhas mortes,
sei eu; você só imagina.


Que romântico cantar
a música do Roberto,
soltar a voz para as portas.
Porque da minha solidão,
sei eu; você não se importa.


Que romântico e triste,
as velas para a ceia,
as velas para os mortos.
A noite triste e feia;
velhos barcos sem portos.

Mal entendido

Um dia, Deus ficou triste comigo,
mandou-me alguns castigos
e te levou para bem longe.
Um dia, fiquei revoltado com santos,
que não enxugavam meus prantos
e não ouviam minhas preces.
Um dia, Deus ficou bravo comigo,
levou embora amores e amigos
e fechou a porta do céu.
Um dia, fiquei puto com anjos,
troquei minha harpa, por banjos
e caí na noite, embriaguei-me.

Um dia, senti Deus assim, tão mal.
Um dia, pensei que eu fosse o tal.
Quem sabe, um dia nos encontremos,
eu e êle e então, nos desculpemos.
É, quem sabe...

Virtual carinho

Nos encontramos nas madrugadas
de tantas dores e cores,
no brilho triste das telas
daquelas almas sem amores.

E na confusão das letras
que jorram iguais mil brilhos,
vemos e buscamos esperança;
carinhos, feito amantes ou filhos.

Nos encontramos nas madrugadas
das insônias desesperadas,
querendo achar não se sabe o que;
adivinhar sobre o que não se vê.

Ilusão

Esse anjo no meu rosto,
esconde o roto e o torto.
Esse mel nas palavras,
é fel, a te enganar.
E se te falta o ar,
sou eu à te esganar
e a te falar dos enganos,
que durante anos
te trouxeram até aqui.
Porque quando te vi,
carreguei-te docemente;
eras uma semente.
Hoje, em flor,
te sufoco a dor
e não te deixo ser.
Tua sina, é comigo morrer.
Pobre mulher,
que diz me querer !

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tristes olhares

Sem conhecer, fiz poemas
para aquele belo rosto;
melancólicos olhares,
vindos daquele agosto.

Sem saber, quis rimar
outros tantos amores,
na intromissão sempre tola
de curar alheias dores.

Coisa de poeta, tolice a minha
querer melhorar tantos mundos,
sem saber que eu mesmo tinha
no olhar, sofrimentos profundos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Filhos

Queria ter mais tempo,
pra ficar com aquela moça
que chegou tão tarde em mim;
ter mais tempo, antes do fim.
Queria ter sorrido mais,
sofrido um pouco menos.
Ter partilhado muito
da minha vida, com os filhos,
porque se tivesse feito isso,
não estaria agora,
querendo ridículamente,
compensar com os netos.
Não queria ter escolhido
entre muitos, tantos amigos,
porque os escolhi errado;
deveria ter guardado
sómente aqueles três.
Porque quando parecia
que não combinávamos,
nem notei que naquelas horas,
é que nos uniámos em torno
das idéias contrárias.
Agora sei, (talves um pouco
tarde demais), que diferenças,
nem sempre são desavenças.

Verdade, que pode ser tarde
pra muitas coisas, mas,
ainda dá tempo de pegar
o que me restou de carinho
e abraça-los fortemente.
Dizer à esses três amigos :
- Eu os amo, meus filhos !
E quanto àquela moça,
aproveitar a sua presença
ao menos, enquanto durar
do tempo, um restinho !

A Maria da minha vida.

Um dia, nós nos amamos;
acostumados um com o outro,
hoje, só nos aturamos,
sem jeito de outras vidas.

Filhos, impediram recomeços;
agora, começam suas vidas,
tem seus próprios tropeços
e colhem suas próprias glórias.

A Maria da minha vida,
era outra, que não essa
e eu, também não era assim.

Não procuramos saída;
agora, já não há pressa
de tirar a Maria de mim.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Saudade mata

Agora sei. Não morrerei
de uma morte qualquer;
de um ataque cardíaco ou,
do podre de alguma parte.
Ou, de todas.
Morrerei de saudade !
Então, que Deus me ajude,
porque essa morte é doída.

Lamentos de Altemar, dores de Lupicínio

Por sentir falta dos teus carinhos,
isolo-me em noites sem estrelas;
fecho os olhos, para não vê-las
e me procuro em tristes canções.

Me vejo nos lamentos de Altemar
e as lágrimas que tantos choram,
me caem indiscretas e rolam
pela eterna dor de Lupicínio.

Por sentir falta dos teus carinhos,
imploro, nem sei para quem
e sinto em mim, a triste solidão.

Que não aprendi a ser sózinho
e espero ainda, por alguém
que traga de volta meu coração.

Partilha

Me mostras duas flores;
uma estampada no sorriso,
outra, escondida no coração
e que só eu, tenho a visão.
Me mostras tuas dores
e põe na minha mão,
tua alma, que não sei
se mereço.
Então, contigo padeço.

Nossas vidas agora, são assim;
vida nossa, uma só,
porque nos unimos,
nos entranhamos,
nos despimos da solidão.
A emoção, esta nós repartimos.

Uma do Mineirinho

Diz que é bom de cama,
bom de bola, bom de bala.
E o Mineirinho, cala.

Diz que é bom de copo,
bom de pá, bom de enxada.
E o Mineirinho, nada.

Diz que é bom de cena,
bom de rosto, bom de cara.
E o Mineirinho, para.

Diz que é bom de lado,
bom de traz, bom de frente.
E o Mineirinho, indiferente.

Diz que é bom de boca,
bom de foda, bom de beijo.
E o Mineirinho, queijo.

Diz que é bom naquilo,
bom de fato, bom de tudo.
E o Mineirinho, mudo.

E diz pro mineirinho :
- O patrício não fala nada ?
Mineirinho disfarça, cisca,
tira o palito mascado e fala :
- Não, uai ! Que me atrapaio.
Só to esperano tua mãe,
pra mó de nóis faze o caraio !

Sem rimas

Segurou a caneta
e enquanto esperava a rima,
pensou nela, entrou no clima.
O verso veio lindo, solto;
contraste com o rosto
vincado, rude,
ar de quem sofreu amiúde.
Parou no meio da poesia.
Achou melhor não acabar
-outro motivo para chorar-.

E ficou poema inacabado,
resto que não rimou.
Coração triste, apertado;
a caneta de lado, ficou.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

E os olhos sorriram

Cansados de chorar,
já estavam
e de olhar, muito mais;
mesmo assim, fitavam
meio sem jeitos,
feito brilho desfeito.

Cansados de esperar,
não contavam
com a luz, que chegou
de repente e,
surpresos ficaram
tão sómente.

Então, sorriram
e vieram as cores;
o amarelo fez-se verde
e conquistaram amores !

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mortes são assim

Chegou um arrepio.
Dizendo que você veio,
que agora está aqui,
meio brisa, vento feio.
Soprou ao meu ouvido
uma língua já doída,
uma parte me xingando,
dizendo que foi traída.

Chegou aqui, meio puta,
feito anjo que voou
e chegou até aqui
à procura do que sobrou.
E eu olhei, disfarcei,
até um pouco fingi.
Então, eu te olhei;
naquela hora, morri !

O buraquinho

Meteu-se naquele buraquinho
e de lá, não queria sair.
Lugarzinho apertado mas,
tão gostoso. Quenturinha fofa.
É certo, que vez em quando,
sentia um estremecer e se molhava.
Explicação não tinha.
Só, que aquele molhadinho
era diferente de chuva,
o envolvia suavemente;
aroma adocicado, garoa cheirosa.
E êle estava gostando.
Ouviu lá fora, alguém chamar.
Não ligou. Se enfiou ainda mais
e esqueceu que tinha trazido
consigo, um monte se preocupações.
Deixo-as de lado.
Se pudesse, ficaria ali para sempre
mas, veio a fome e a sêde.
Ia dar uma saidinha rápida,
mas voltaria. Correndo !
Ah ! Que buraquinho gostoso !

Felicidade

Contigo, quero juntar as jubas,
quero comprar jujubas
e naquele banco da praça,
iguais crianças, acharmos graça
daquele palhaço imaginário,
que está só em nós.
Quero comprar balões de gás,
um amarelo, outro azul
e fazendo planos à esmo,
irmos para o Norte ou Sul
ou ficarmos aqui mesmo.
De mãos dadas,
corações entrelaçados,
contemplarmos a vida,
ficarmos um no outro.
Acho, que isso é felicidade.

Devoção

Esperou a hora da missa
e como acreditava, benzeu-se.
Meio sem jeito, fez o sinal da cruz,
rezou umas rezas;
atrapalhou-se no Pai Nosso
(talves porque não tivesse pai,
ou, porque não tivesse pão).
Pegou a hóstia, porque estava
até aquela hora em jejum.
Não ligava muito, porque diziam
que jejuar faz bem ao espírito.
Isso, não sabia. Só sabia,
que fazia mal ao corpo;
dava uma fraqueza danada
(com o perdão da palavra).
Mas, bem que o senhor padre
podia também, dar um golinho
daquele vinho, que ia cair bem.
Só vez em quando, era uma
cachacinha (que uma moeda pagava).
Acabou a missa. Levantou-se
e foi até o velário. Não acendia velas,
mas, esquentava as mãos,
porque com esse frio...
Foi-se embora, pensando que a igreja
é coisa boa. Não vê, que ela dava
tanta coisa e não pedia quase nada ?
Só entrar, sentar, rezar o Pai Nosso.
Se bem que errava naquela parte
(talves porque não tivesse nem pai, nem pão).
mas o resto, rezava direitinho.
Com devoção.

domingo, 22 de novembro de 2009

Maldição

Morreria com todas as dores,
deixaria todos os amores,
se me pedisses.
Se eu abrisse
todas essas minhas almas,
ficaria nú, ao espelho,
se me olhasses.
Se eu ficasse
sem o meu corpo
e me entregasse todo,
por certo estaria morto.
Me enterraria,
me contentaria
em viver só em ti.
Daria adeus aos anjos
e aos demônios,
para morar contigo.

Se eu pudesse
e se eu quisesse,
moraríamos um no outro,
comeríamos um ao outro;
beberíamos da taça
que é nosso ser.
Mas, o que fazer,
se somos a invenção
de tantos contrários
e por mais que tentemos,
continuamos sózinhos ?
Ah ! Que tristeza,
esses nossos caminhos !

sábado, 21 de novembro de 2009

Do outro mundo

Aquele amor era tudo.
Amaldiçoado pelo ministro,
bem visto pelo sinistro,
começou igual brincadeira.
Do lado de cá, light,
do lado de lá, dark.

O que queriam, estava ali,
mistura de luzes e trevas,
confusão de cruzes e pregas,
no claroescuro dos dois.
Do lado de cá, coca cola,
do lado de lá, argolas.

Mas, o que parecia eterno, não foi.
Num acesso do mais puro amar,
a dark um dia, comeu o light
e usou os ossos para um colar,
que não era tão pesado assim;
esqueleto leve, pôs no pescoço
e sorrindo, foi para a night !

Solo sagrado

Você está na moda.
Você está dark !
E eu sei lá, o que quer dizer isso ?
Só sei que no escurinho,
ela me dá uma claridade enorme.
Traz estrelas de presente.
Trouxe até o sol !
Ontem mesmo, deu-me a lua
e uivamos juntos a noite inteira.
Se o Drácula esteve por perto,
ficou com uma inveja danada.
E só não se intrometeu,
porque ali é solo sagrado.
Todo amor, é sagrado.
Até pra quem está dark !

Ops ! Foi mal !

Só agora lembro, que não escrevi
uma linha sequer, sobre o
"Dia da Consciência Negra".
Me desculpem todos os que têm a tal
"Consciência Negra".
É que foi má criação mesmo !
Só me lembrei de quem tem a
"Consciência Branca".
Me perdoem.

bd

O meu dê, quer casar com o teu bê,
o teu bê, desconversa, faz beicinho
e diz que só casa com o meu dê,
se êle der casa, comida e carinho.

Aí, o meu dê, fala para o teu bê:
tudo isso te dou, com um porém,
o teu bê, tem que dar para meu dê
todo dia, para a gente ter neném.

O teu bê sorri, porque quer um bebê.
O meu dê sorri, porque também quer.
Combinados, então se enroscam,
a letra do homem e a da mulher.

Pobres palavras

Encontrei jogadas lá fora,
um punhado de palavras;
mendigas de quem foi embora
e que só de paixão, falava.

Dariam para fazer versos,
depois que fossem bem tratadas.
Mas, de amor já não converso,
com letras tão maltratadas.

Então, que ficam ao relento
e sofram as duras penas,
de quem só falava em paixões.

Iguais à elas, arranjo e invento,
tenho aqui, mais de centenas,
cansadas de procurar corações !

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Minhas medidas

De tanto me esfregar em ti,
perdi o cheiro, fiquei com o teu,
perdi a pele, fiquei com a tua;
você, escorrendo nos vãos meus.

De tanto me conter em ti,
perdi todas as minhas medidas
e não caibo mais em mim;
fujo e escorro pelas saídas.

De tanto querer por demais,
me esqueci n'algum canto qualquer
da tua alma e do teu corpo.

E não sei, se bem me faz,
querer-te inteirinha, minha mulher,
que já não sou eu, meu porto !

Musical

Acaricio o teu braço,
deitas em meu abraço
e cordas, pra que te quero.
Teu som vem. Te espero.

Espero na curva de ti;
dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.
Fecho os olhos na melodia,
abro o peito na nostalgia.

E bailo contigo, agora,
no acorde dedilhado
das músicas que soam.

Notas saem, vão embora,
correm aí, pro teu lado;
no teu coração, ecoam !

Certos olhares

Será que é esse teu olhar,
que me prometeram e esqueceram
um dia, de me avisar.
Porque nos meus porres, por aí,
não sei se os vejo ou imagino;
tenho impressão que os vi.

Eu, que não enxergo um palmo
além do próprio nariz,
vejo tua íris, que me diz
e que me recita agora, um salmo.

Eu, que me fecho para o mundo,
esqueço a porta aberta
e você, entra incerta
e fica em mim; olhos profundos.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Perdido

Basta. Vou dar um perdido,
sair pelo mundo afora
em busca dos olhos
que me foram prometidos.

Incerto caminho que busco,
esquinas outras, contramão,
no desvio das avenidas;
do brilho que me ofusco.

Basta. Vou dar um perdido
e chorar um pouco menos.
Aconchegar o peito sofrido,
nos teus olhares amenos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Dasdores, das ruas

Escondeu o rosto, a cara de pau,
com vergonha da puta que a pariu.
Não olhou para trás;
simplesmente pegou seus restos
e nunca mais, alguém a viu.

Se escondeu por aí, apanhou na cara,
virou sem vergonha, criou craqueiros
que não olharam para trás;
só pegaram os magros corpos
e a carona nos brancos cheiros.

Virou amiga das prostitutas,
ficou companheira dos viados,
dos travecos malcriados.
Empinou a bunda e foi à luta.
E de fome, não morreu
mas, sofreu. Ah ! como sofreu !

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Olhares esquecidos

Eu sonhei tanto com aquele encontro.
Quando aconteceu, decepção !
Perguntei :
- Onde estão teus olhos verdes ?
Respondeu :
Ah ! Esqueci-os lá em casa.
Levei um tempo para entender.
Como pode alguém esquecer
os próprios olhos ?
Magoei. Deixar a alma em casa.
Ela não deveria ter feito isso.
Não deveria...

Colos

A gente aconselha daqui,
aconselha dali e mesmo sem querer,
acaba se intrometendo na briga
e leva até umas porradas,
pra aprender a não se meter
onde não foi chamado.
E o pior, é que nunca aprende.
Aí, a gente conforta uns,
conforta outros e quem é
que conforta a gente ?
O ombro virtual, que está
a quilometros de distância ?
Ora, e lá fica bem, eu cá
com meus cinquenta e poucos,
procurar colos por aí ?
Sei que não é justo,
porque você também tem
seus problemas, mas,
tenho uma vontade enorme
de me aconchegar em você
e rir um pouco, chorar muito,
desabafar tudo e quando estiver
mais leve, te receber inteira.
Porque terei certeza,
que aqueles espinhos que eu carregava,
você os tirou todos, então,
não poderei te machucar nunca.

Poeira

Eu me sopro e me sacudo,
para espantar tanta poeira
que cobre o meu coração;
solidão parada na minha soleira.

Eu me vigio e sempre me sirvo
de besteiras para o tempo passar,
bobagens que invento e começo,
termino, para de novo recomeçar.

Talves seja tempo de estrelas,
outros sóis, novas alegrias,
porque sou novo e a vida continua.

Mas, me distraio sem vê-las
e não reparo nos outros dias.
A saudade me cai, nua e crua.

domingo, 15 de novembro de 2009

Leitura dinâmica

Te quero naquela capa,
na contra-capa, no mapa.
Te quero na minha estante,
pra te ler à todo instante.

E, quando enjoar de ti,
digo que já te li;
passo da tua letra,
passo reto, vou direto.
Ou me finjo analfabeto.

Domingos

Um domingo igual outro qualquer.
Um Renato Russo, melancólico,
na voz de quem sabe, próximo,
aquela que sempre vem
pra levar amores, levar alguém.

Domingo de chuva ou de sol,
não importa tanto assim,
porque o sol, tem também
sua parcela de melancolia,
na tristeza de todo dia.

São domingos que vem e vão
e passam iguais; descortinam
a próxima semana e avisam
que tudo poderá ser melhor.
Mas, não importa. Quem sabe,
teremos sim, o que nos cabe.

sábado, 14 de novembro de 2009

Graúna

Me perguntam se não tenho medo
de viajar nas tuas negras asas,
embarcar no teu vão calabouço,
espremido entre costelas casas.
Respondo que o medo que sinto,
é o de perder tua sombra amiga
e perder mais do que eu tenho,
que não seja a tua foto antiga.

Me perguntam se não tenho medo
da tempestade que te acompanha
e da peste que fere feito espinho.
Digo que é prazer, sentir teu dedo
no arranhão que fere e que lanha;
quero a sombra do teu ninho !

Verdes Íris


Foi um claro, que aqui passou,
um raro verde, da mesma cor
do terno olhar, que me fitou;
coloridos olhos daquele amor.

Foi o céu, que deu licença
àquele arco íris, dessa vêz,
que deu o tom da presença;
verdes íris, quando se fêz.

Mas, deu-se justo o contrário;
a tempestade veio depois,
ribombou aqui, no meu peito.

E porque vejo este cenário,
sem poder, me divido em dois.
Vê, que eu fiquei desse jeito ?