sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Gozo

Escorre em finos fios
pela clara pele
que brilha no escuro lá de fora.
Escorre em leves gotas,
como se prantos
que se choram agora.

Basta-nos essas brancas asas
que nos guardam tudo.
Os sussurros, espasmos e gozos,
e gritos nossos, agora mudos.

Envelhecer

A velha idade
que se fez moça
ao longo do tempo,
que se pos ligeira
em risos e danças,
hoje, cansou.

Jovem demais
em amores e corações.
Tarde demais
em madrugadas e canções.

A velha idade já foi feliz.
Pareceu até nova,
nos seus muitos anos.
Corrompeu-se logo
e tardiamente calou-se.

A velha idade,
de tanto que sofreu,
tão cedo ou tarde morreu.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Vitrines e Paisagens

Não quero mais vitrines.
Quero paisagens
que me falem algo,
que me levem à ti.
Vitrines são manequins,
retos, eretos e quietos,
parecendo querer dizer algo
que não conseguem.

Paisagens dão-me tudo.
Embora, sem brisas,
fiquem assim,
desse jeito tão mudo.
E sempre combinam comigo,
pensativo e secreto,
contemplativo e quieto.
Acho até, que paisagens
levam-me até você.
Ou trazem-te aqui,
entre ventos e folhagens.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Aridez

As pernas finas,
finas tripas feito cipós.
Os olhos secos,
secas rugas feito nós.
Carregando cacos,
pendurados sacos
de mamicas vazias,
onde já não mamam mais
filhas perdidas.

Um triste deserto,
decerto um ermo
de lonjuras e nadas;
de oásis, só um pedaço,
tiquinho de nada:
um coração
que carrega ainda
esperanças caducas,
que apesar de tudo,
teima e sobrevive.
Ainda.