sábado, 30 de janeiro de 2010

Tomando um bronze

Sem brigas e sem racismo.
Apenas tomando um bronze.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sobre nós

Errou Vinícius, ao dizer que é eterno,
acertou o poeta, ao acordar no inferno.

Sobre o amor, falou-se demais,
do que ficou e deixou-se para traz.

Sobre nós, calamos envergonhados,
para não dizer o que teria restado.

Silenciamos sim e seguramos nas mãos
pedras que seriam, outrora rosas;
restaram só palavras mentirosas
e um incerto gosto de perdão.

Basta

Vou parar de escrever
por respeito à ti;
me comparei, me pesei e perdi.
Vou parar de querer
meus quereres abusados,
sem vergonhas e ousados.

Não mereço ser mais quem sou,
que só repito o que se falou;
tão sem jeito fiquei agora
e me basta querer ir embora.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sosseguei em mim

Cansei de ouvir o lado de fora.
Cansei de buscar algures,
o que sempre esteve cá dentro,
só que eu não sabia.
Agora sosseguei. Penso eu.
Me acostumei comigo mesmo.
Estou em paz com meus dramas
que às vezes, viram comédias.
Não corro mais contra o tempo,
não fujo mais de mim;
me bateu um cansaço gostoso
e com êle, fico em paz,
a madorra da alma me cai bem
e me aquieta.
Finalmente, me encontrei
onde nunca havia procurado:
aqui. Só aqui.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ai de ti

Se andássemos nós,
por tão tristes caminhos,
poderíamos melhor entender
e até ouviríamos
alguns tristes consolos
- ai de ti - saídos de bocas
que saciadas, seriam
apenas palavras.
Se andássemos nós,
por aqueles descaminhos,
em meio à vômitos
e choros com gosto atroz,
sentiríamos o sal
e nem repararíamos
no amargo gosto que tem.
Chegariam aos nossos ouvidos
só uns pálidos - ai de ti -
Mas, não andamos sós,
nós, somos apenas nós.
Então, abrir a boca
é tão fácil, para dizer
- ai de ti, Haiti -

Sem notar, passei

Não me pediram licença
para o meu envelhecer,
para levar minha infância,
minha mocidade e meu prazer.

A me pedirem desculpas,
não se dignaram sequer;
pelo sofrimento imposto,
fui eu, um outro qualquer.

E eu, também nem reparei
que passou a minha vida,
passaram-se os meus anos
e infeliz, eu nem notei.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Doce amargura

Gostei de certos sabores.
Com outros, simplesmente
machuquei a língua;
talves daí, foi que tenham vindo
as palavras amargas.
Por exemplo, lembro até hoje
como você era tão doce
e de repente, virou amargura.
Não te cuspi, porque era tanto amor,
que quis de todo jeito,
de qualquer maneira.
E você sequer percebeu
a agonia da minha boca;
pensou talves, que eu sorrisse
Que tolice a minha, engolir-te
sem sequer um copo d´água,
pra descer mais leve.
Hoje, espero um pouco de doçura
pra esquecer completamente
a tua doce amargura.

Conversa besta

Às vezes, me calo
e fico feliz, quieto assim;
perco as minhas palavras
n´algum canto de mim.

Parece que disse tudo,
que me bastaram os verbos.
Tranco as letras, a garganta
e me esqueço dos versos.

E fico com cara de besta
quando leio teus poemas;
aí, com inveja abro o armário
e ressuscito até o trema.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Convite feito

Qualquer dia destes,
perderei a vergonha, o medo
e perderei as roupas pelo caminho.
Te encontrarei no reto
ou na curva da tua cama
e no fofo do teu travesseiro.
Te comerei, serei comido.
Nos satisfaremos de nossas carnes
e de nossos suores.
Se tivermos sede, beberemos
nossos próprios líquidos.
Não seremos um do outro,
antes, estaremos um no outro,
sem hora, nem tempo para sair.
Nos esconderemos do mundo,
em busca do nosso próprio tesouro,
nosso verdadeiro ouro.
E estaremos felizes.
Ou, no mínimo, satisfeitos.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Voodoo

Carrega na cabeça a trouxa
de tudo o que sobrou de seu.
Segue sem rumo, sem amor
mas, seguir para onde, Deus ?

Que destruíram-se as casas,
devastaram-se as vidas.
Aí, vem aquela descrença
e o agouro na fé perdida.

Alguém que lá de cima
ficou assim, tão rude e cruel,
a nos fazer ver e crer;
será que existe ainda o céu ?

Solidão

Não sei se a solidão
foi feita para nós,
mas, nos cabe perfeita,
feita eu e você, sós.

E ela, é feita de tudo,
um pouco do triste, da dor,
um tanto da falta nossa;
a nossa falta de amor.

Às vezes, se abre espaço
que não é porta, é fresta.
Então, sorrateira ela entra
e solidão, é o que nos resta.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O mar


Fiquei com ciúmes do mar,
que lânguido, beijou teu corpo,
despudorado, afagou teu colo,
depois se foi, sem olhar.

O mar é sempre diferente,
o mar, é sempre o mesmo;
trouxe outras e mesmas ondas
e te lambeu com jeito indecente.

Queria eu ser todo esse mar
que entrasse entre teus seios
e acariciasse os teus meios,
sem nunca ir embora. Só ficar.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Moça de longe

Tão perdidos olhares
fitando o que está longe,
agora já perto de mim
teus tristes pesares.

Ah ! Moça que me enxerga
assim, de longa distância,
traz para mais perto
teus olhos de entrega.

Que teus muitos olhares
percorrem minha lonjura
e me trazem tua candura;
cores de outros mares.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Mal traçadas linhas

O mais perto que cheguei de ti,
foi no verso
e assim, converso,
faço de papel o coração,
coloco rimas na emoção.
Olho de longe o teu olhar
e adivinho o triste que há.
Não existe tristeza maior
do que o adivinhar,
o imaginar olhos e mãos,
textura de peles e pelos,
maciez de corpos e cabelos.

O mais perto de nós que ficamos,
foram simples letras;
tão triste é ser assim.
Nosso até logo não é afago,
não são carinhos, nem abraços;
a caneta que faz o traço,
resume só na palavra fim.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Alcançando estrelas

Põe doçura no teu olhar,
me procura, que vou te buscar
onde você estiver.
Desço no rio dos teus olhos
e te procuro, mulher.

Põe uma estrela na tua janela,
que só de vê-la, vou procurar;
linda clareza tua,
no corpo, à reluzir para mim
na clara pele nua.

Faz outros poemas de amor,
com cores e cheiros teus
e então, me oferece.
E, se eu não puder te alcançar,
ao menos uma vez, você desce.

Pinguinhos

Feito estrelinhas,
cairam entre nós;
pinguinhos de gente
que o céu mandou.
Ao nascer, choraram,
pra depois, serem risos;
sorrisos bobos nossos.
Yago, Yuri, pingos
de gente.
Pedacinhos, sementes.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Recomeço

Troquei de pele e de pelo,
deixei o velho
e renasci outra vêz.
Doí as dores de um novo parto,
que no homem,
são iguais enfartos.
Troquei de cama e de par;
novos travesseiros
nos fazem dormir melhor,
os sonhos são bons.
E dos pares que deixei,
levei de cada um, um pouco;
me doei em pedaços também.
Sonhei com outra cor
e agora, recomeço,
seja onde e com quem for.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Judiação

A moça dos meus sonhos
foi embora e levou-me.
Agora, sei a falta que me faço.
Sei da judiação
que meu corpo traz.
A moça dos meus sonhos
partiu, carregando-me
nos braços que eram meus.
Assim, sem nada
e sem dizer adeus.
Quisera que ficasse aqui
e me deixasse também.
Queria ver-me nos olhos dela
toda vêz que acordasse.
Queria ter-me nos abraços,
mas dela, ficou apenas
só mais um traço.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Pergunta

Vi tudo, tudo lindo.
Li nas entrelinhas
que eu era teu,
tu eras minha.
Mas, será que enganos
não acontecem ?
Ou, às vêzes disfarçam,
outras vêzes aparecem ?
Ah ! Eu sei,
foi o poema que me tocou;
o coração posto ali
pra todo mundo ler
e sem nem perceber,
eu me apaixonei
pelas letras,
pelos olhos
e pelo teu jeito.
Tudo tão sem defeito.
Ou, serei eu assim,
tão imperfeito ?

sábado, 2 de janeiro de 2010

Um peso a mais

Para dormir, tiro meus ossos,
as próteses, deixo no armário;
me reviro, todo incômodo,
para não atrapalhar o contrário.

Me dispo de tantas coisas,
tentando ainda ficar algum,
mas, bobagem parecer inteiro,
besteira querer ser um.

E o peso dessa infelicidade,
sem qualquer cerimônia, me cai;
penso se não é verdade,
que um dia, tudo isso se vai.

Upa, upa

Saudades de você,
das nossas cavalgadas;
brincadeiras de cavalinho.
Upa, upa !
Saudades do teu cheiro,
dos inteiros e das metades.
E a saudade parece que sou eu,
porque não sai de mim;
grudou feito chiclete,
brincou de cola comigo.
Agora, as brincadeiras passaram.
Restam-me umas poucas coisas;
brincadeirinhas sem graça,
enquanto a saudade não passa.