quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Imperfeito

Sou menos perfeito hoje,
passei todos os meus limites;
eu, que me sentia santo
e não aceitava convites.

Me convidei para a festa
e fui mascarado de luto,
deixei de lado a vergonha,
beijei prostitutas e putos.

Tornei-me imperfeito, eu sei.
Fiz o que sempre quis, pequei.
É para outros, a perfeição;
quero pecados no coração !

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Em casa

Tentei ficar um pouco mais leve,
mas, foi tudo em vão;
minha leveza não ajudou.
Fiquei com meus pesares,
levei junto, meu coração.

Fui para o outro lado,
jantar com quem tinha morrido
de febre, de dores ou de nada,
mas, não me aguardava o outro;
me aguardava eu, tão sofrido.

Tentei ficar um pouco mais leve,
igual se fica quando se vai
e quando afinal, cheguei,
soube que estava em casa.
Agora, uma leve lágrima me cai.

Poetas

Teríamos um imenso vão,
não fossem tuas letras,
colocadas em nós, marcadas
feito verbos em ferro;
berro que com versos,
são rimas enciumadas;
moradas na garganta tua.
Teríamos por certo, solidão,
não fossem tuas vozes
atrozes gritos no escuro.
Então, porque será que eu
mesmo me procuro
nessa tua prosa ?
Seríamos por certo a razão
de tantas amarguras, não fossem
tuas canções de amores;
mágoas à sarar nossas dores !

sábado, 26 de dezembro de 2009

Um mimo

O meu presente, foi um carinho
que ganhei já faz um tempo.
Então, a cada ano que passa,
pego dele, só um pedacinho

que é para que sempre dure,
enquanto em mim, vida houver.
A cada vêz, faço uns mimos
de ti, embora minta e jure

que de você, já não lembro mais;
mentira cruel e deslavada,
à acompanhar-me todo o sempre,
igual o presente de tempos atrás !

Instante distante

Seria bom, se trocássemos olhares,
mesmo que fossem sem querer;
você, tentando se esconder,
eu, escondido em meus pesares.

Seria bom, se tocássemos ombros,
mesmo que fosse um tanto;
você, exalando todo encanto,
eu, perdido em meus escombros.

Bom se aproximassemos rostos,
para ao menos, sentirmos gostos.

Uma pena, estar-mos distantes
e não termos sequer um instante.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Acácia

Descobri porque teus olhos
são tão tristes,
porque tuas meninas choram.
É que embalam uma dor só tua,
um sofrimento que ninguém sabe
e que talves, em ti, não cabe.
Descobri o porque das tuas dores
em tanto o que escreves
e que tantos se perguntam,
se não poderia ser mais leve.
É que choras nos versos,
quando falas de perdidos amores.

Então, sei que serão heresias
os cantares alegres e coloridos,
feitos por um coração
que hoje, ainda soa dolorido.




Um Natal bonito

Para todo mundo,
deveria ser sempre Natal,
deveria ter sempre paz,
mas, pra mim, tanto faz.
A cada ano que passa,
meus Natais são mais tristes,
sem que um sorriso
se abrisse.
Queria ter um Natal bonito.
Traz êle pra mim
e aproveita, vem junto,
feito um lindo presente.

Por tua causa, virei poeta

Por tua causa, virei poeta,
porque nascem da saudade,
os versos que faço;
esses descompassos de dor.

Por tua causa, fiquei descrente,
porque conjugo o desamor,
ou seja lá o que for,
nessa minha solidão.

Por tua causa virei isto,
homem sem sal e sem gosto.
Que me venham outros versos,
em dias e noites sem rosto;
tristes rimas que converso.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Coceirinha

No começo, parecia morte,
mas, com um pouco de sorte,
sobrevivi.
Parecia o triste fim do mundo,
aquele poço profundo
onde cai.
No começo, parecia doença,
que mesmo sem pedir licença,
entrou aqui.

Agora, é só uma feridinha
que às vêzes, ainda coça.
Vontade de tirar casquinhas;
coisas que eram nossas.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Distração

Passaram uns olhos por mim
e eu, distraído, não os vi;
tarde demais, os persegui.

Passou um sorriso por aqui,
daqueles sinceros e doces;
sem querer, deixei que fosse.

Por aqui, vieram tantos amigos
e outras tantas amantes.
Só que agora, já não consigo
achar o que me veio antes.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Canção do juízo final

Amarrem suas cadelas,
que vem o tempo do cio
à descer feito um rio,
rindo das carnes e dores,
dos nervos e dos amores.

Atrelem seus cães,
que vem o dia do juízo,
travestido de paraíso;
dias que apontam para nós,
soprando nossos velhos pós.

Atem seus lados opostos,
que um dia hão de cantar
as canções dos crentes;
bestas falando de Deus,
decifrando corações ateus.
O céu e o inferno são nossos,
pois que a fé já morreu !

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Segredo

Me perguntam do meu amor.
Digo que de quem eu gosto
não é com quem eu moro,
nem com quem namoro.
O meu gostar, tem olhares
de distâncias e de caminhos,
de lembranças e de carinhos.
O meu gostar, tem jeito
de quem eu nunca vi
ou, de quem vejo agora;
de quem em pensamentos,
a gente logo se enamora.

Me perguntam do meu amor.
Digo que em tantos bares,
muitas vêzes me enamorei
e corações se falaram,
balcões nos separaram.
Digo que de quem eu gosto,
não é com quem eu moro,
nem com quem eu namoro.
É porque toda noite,
bebo goles e me engulo
e porque do lado de lá,
está quem eu hoje, adoro.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nós

O nó de nós, me amarrou,
que está difícil desfazer
e mesmo sem querer,
me aperta, cada vêz mais.
Teu nó no meu pescoço,
nem me deixa respirar,
faz só ficar enrodilhado,
até em ponto de dar dó.

Não quero mais teu laço,
esse teu sufoco abraço;
quero mesmo é ficar só,
eu e meu enrolado nó !

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Bobinho

Chegou fazendo charminho,
deixando cheiros pelo caminho
e entrou em mim, devagarinho.

Eu, que estava tão sózinho,
ansiando por um carinho,
me apaixonei pelo denguinho.

Fizemos o nosso ninho,
um do outro, quer colinho
e se não tem, faz beicinho !

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Corpos

Corpos são bons,
são quentes e macios,
são gostosos, escorregadios,
dão prazeres, fazem sons.

Corpos são doces,
são suados ou limpos,
tão agradáveis e lindos,
nos amores que se trouxe.

Corpos são aconchegos,
são esticados ou dobras,
algo que não se cobra;
tão inquietos nos sossêgos.

Corpos são afeições,
são tranquilas emoções,
poços de águas escuras;
clara fonte que se procura.

Subtração

A soma de mim mesmo,
deu o número que não quero;
um algarismo indivisível,
algo parecido com zero.

Eu, que queria ser primo
e ter as tuas adições,
ser soma de número inteiro,
onde caberiam corações.

Mas, não chego sequer a um;
na verdade, nada adiciono,
porque diminuindo do total,
sem você, eu nada somo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Danos

Vêz em quando, abro
o guarda roupa das lembranças,
tiro alguns ossos polidos
de tão gastas esperanças.

E vem a saudade de nós,
dos pós do nosso armário,
das roupas de qualquer jeito
e dos sapatos ao contrário.

Vêz em quando me olho
naquele mesmo espelho,
à procura do que um dia fui
e à espera de conselhos.

Conselhos que já não posso me dar,
porque me ultrapassei em anos
e sei que agora, é besteira ficar
me causando assim, tantos danos

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cara de pau

Posso passar por aí,
te colocar no bolso
e levar para passear ?
Te guardar igual passarinho
e mostrar para todo mundo
onde fizeste teu ninho ?
Posso passar por aí,
sem segundas intenções ?
Porque elas já andam
lá, pelas quintas, sextas
e haja tanta tinta
para dizer quais são.
Posso passar por aí,
jeito de quem nada quer ?
E depois de um suspiro,
te pedir tudo, assim
e com a maior cara de pau,
te guardar sempre em mim.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sem remédio

Tantos dias revirados,
só para encontrar aquelas horas,
só para se perceber perdido
e se sentir esquecido.
E todos os dias revirados,
viraram-se contra nós;
em cada um, um que,
à nos lembrar que somos sós.

Tantas noites inacabadas,
terminadas antes da hora,
em que quase sempre amanhece
na claridade que não esquece.
E todas as noites são cruéis,
no dia que amanhece sempre,
trazendo à luz, o ausente.

Por isso, procuramos novos céus,
buscamos outros breus,
mas, nevoeiros são os mesmos;
são iguais sombras e véus,
cobrindo o sol que morreu.

Tantos dias revirados,
tantas noites inacabadas
porque procuramos passados;
mesmos vícios para nada.

Bom bocado

Guloso que sou, dei-te uma bocada
e te engoli inteirinha.
Você sequer gritou, envolta que estava
pelas minhas bocas, línguas e dentes.
E ainda lambi dedos e beiços.
Que delícia você estava !
Faz de novo, assim;
se unta de mel, se molha de cheiros
e dá pra mim novamente.
Prometo que desta vêz,
te como mais devagar
e ainda guardo um cadinho pra mais tarde !

Renascendo

Preciso me redecorar,
tirar orelhas, por brincos.
Colocar novos olhos
que vejam tudo azul.
Deixar nascer outro nariz,
desacostumado com cheiros
e ranços de velhos suores.
Os braços, quero menores,
porque já não preciso
abraçar o mundo todo.
Tolo, querer tantos dedos;
um só me basta, que preste
para apontar o lado certo,
o lado para onde vou,
com minhas tantas pernas.
Ah ! Isso sim, terei todas
as longas pernas do mundo
para outros horizontes.
E corações, terei muitos,
onde caibam os amores
que daqui em diante, terei.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Distração

Falei para não ir,
não escutou;
além de partir,
também me levou.
Ela poderia ficar,
nem imaginou;
foi de mala e cuia,
para levar, me embrulhou.

Só que ainda não percebeu,
deixou aqui um pedaço.
Então, em tudo o que faço,
sou apenas o que ela esqueceu.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A mesma saudade

O pouco que restou de mim,
guardo, para uma volta, talves.
Enquanto isso, fico eu aqui,
ouvindo a voz quarenta e quatro
da Ana Carolina, cantando
sobre meninos e meninas.
Arremedos de dores,
que o poeta escreve,
em momentos cruéis
e que se ouvem nas favelas,
em loucos decibéis,
para o outro lado do mundo ouvir,
sentir que ainda faz falta.
Mas, se isso resolvesse,
ninguém jamais partiria.
As gargantas gritam e se agitam
em choros tantos e no entanto,
são saudades mal feitas;
desfeitas quando a cerveja vem,
acompanhada daquela moça
que sempre traz um novo amor.
Pois é, saudades são todas iguais...

Padecer

Esqueci n'algum canto qualquer,
a minha alma metade,
que inteira, ela já não existe,
desiste de ser completa.
Uma parte se foi
com a tua partida e deixou rastros
tão fáceis de seguir,
só sair para recomeços;
tropeços de quase sempre.

Então, me encruo, recuo
nos próprios passos
e novamente me esqueço.
Outra vêz, padeço !

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

À quatro mãos

Quando as letras estiverem escritas,
já não serei eu talves, que as diga;
quem sabe, uma alma que as siga
nas asas, que o próprio vento agita.

Quando a prosa já não mais tiver
papas na língua, nem doce saliva,
que desprendeu-se da rima cativa,
não serei eu, o verso que houver.

Virá o verso, acostumado que está,
a tecer rimas que falavam de dor,
desdenhando belezas que outrora tinha.

Rimará a leveza da falta da vida que há,
achando simples agora, falar de amor;
entendendo enfim, o poema que vinha.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Por encanto

Enquanto não for demais,
quero pedir sempre bis de ti,
decifrar-te no que eu li
e continuar querendo mais.


Enquanto não for loucura,
posso me perder no verso
que me soa tão perverso,
mas, que a alma procura.

Enquanto te encontrar nas rimas,
minha ânsia, é querer-te mais,
na construção do verbo que tens.

E, faço dessas minhas ruínas
o castelo, com o que você traz;
me reconstruo, quando tu vens !