sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Aos goles

Não quero tilintar de copos
ao meu redor.
Quero só uma cerveja
que seja da mais barata.
E que venha a melancolia
e que ela me bata.
Depois, volto pra casa,
minha ou de quem seja.
Cara cheia, saco cheio
dos outros e de mim mesmo.

Não quero beijos nem abraços,
não quero corpos inteiros
ou aos pedaços.
Só quero eu mesmo, assim,
aos poucos e aos goles.
E não me importo que gozes
nem da minha cara cheia,
nem do meu saco cheio.

Hoje, só quero ficar meio;
meio da noite, meio da rua.
E ser da saudade, inteiro,
enquanto choro pra lua.

Um passeio pelo teu poema jardim

Sempre que passeio em ti,
torno-me reticências...
porque não sei o que vi :
se anjos ou indecências.

E todas as vezes que a alma
que se revela no teu olhar,
tem ar de pureza e calma,
só tenho vontade de ficar.

Sempre que livre passeio,
por essa alma tão nua,
pelos teus versos e prosas,

pelos teus cantos e meios
e pelas ricas rimas tuas,
sinto-te flor, sinto-te rosas.

Guerra santa

Observar tantas batalhas
entre demônios e deuses,
faz parte de nossas vidas.
Vê-los ganhar ou perder,
em meio à relâmpagos,
trovões e asas feridas.

Entre céus e infernos,
são todas as guerras.
Branco e vermelho se misturam
e daí, a cor enjoada
de sóis e luas tantas;
amor e ódio nos procuram.

E nossos santos, fugiram.
Os demônios venceram.
Preces não se ouviram.
De nós, se esqueceram.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mudanças

Mudo de casa,
não mudo de mim;
sou sempre o mesmo.
Sei lá, se sou bom,
sei lá, se ruim.

Mudo de vida,
não mudo de nada;
continuo sendo igual.
Sabe-se lá das andanças,
sabe-se lá da estrada.

Mudo de tudo
ou penso que mudo.
Que continuo parado
e não mudo de planos.
Só eu e meus anos.

Angelical

Nasceu só, na rudeza
de uma Cora Coralina
ou na pura beleza
de sem querer menina.

Viveu só, no amor
ou quem sabe, nem isso;
poderia muito bem ser dor
o que lhe roubou o viço.

Morreu só. Ou não.
Acompanhada de desaforos
e carregou em si, perdão
e pecados d´algum namoro.

Cegueira

Não sei dos teus olhos
que me viram,
nem do teu corpo, nem de você,
na réstia daquele sol
que se apaga e não se vê.

Dos meus olhos, sei eu,
porque te enxergaram de longe,
em tão escura noite que tu fostes.
E meus pálidos dias
se tornaram açoites.

Não quero que nossos olhares
se vejam assim,
tão tristes e embaçados.
Então, tire seus olhos de mim,
que os meus, já estão fechados.

Pés de poemas

Plantei pés de poemas maduros,
das frutas que colhi de mim,
de tão doces, de tão puras;
maduras frutas assim.


De tantas laranjas e figos
foram os versos que te fiz.
E das rimas que agora digo,
em pontos e virgulas se diz.


Que me veio assim, tão doce
de se chupar e se comer.
Ah ! Se o poema me fosse,
tão fácil no teu prazer.

Bem vinda

Quero um abraço
de paz e boas vindas,
que pode ser de mãe
ou de alguém
que não chegou ainda.

Quero um sorriso
que me faça também
gargalhar meus ossos
em sacudidos risos
do palhaço que me vem.

E quero a melancolia
de olhar a fina garoa,
decerto na companhia
da alma que me chegou,
trazendo alguma pessoa
que abra o meu sorriso
que outrora, alguém levou.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Diferente

Diferente aquele urubu.
Cor de rosa.
E não come carniça,
só come coisas gostosas.
Solitária, aquela ave voa só
e voa alto; perto do sol
e de todas as solidões.
Não estranha a sua cor
tão diferente.
Mas, os outros estranham.
E não lhe acompanham
em seus voos de alturas.

Prefere odores de rosas,
ao podre cheiro da carne.
Por isso, um dia cismou
e colheu a flor mais bela.
Aí, foi escorraçado.
Hoje, vive ao lado das garças.
Sequer ergue olhares saudosos.
Deixou o céu, que às vezes é negro;
fica na água, que é sempre azul.
Ou verde. Ou rosa.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Meus céus e infernos

Já não lembro mais,
se fui parido por uma santa
ou por uma mulher,
à muito tempo atrás.
E desde então,
venho percorrendo
corpos dos mais bonitos
ou mais estranhos;
dos mais pequenos,
aos sem tamanho.

Já não lembro mais,
se fui por santos, abençoado
ou se fui maldito.
Sei, que desde à muito,
me distribuo em sorrisos
e me engulo em choros.
E tão sem juízo,
me cabem dos outros,
umas tantas bençãos,
uns tantos esporros.

Não lembro sequer
das asas que outrora tinha,
ou d'outro membro qualquer.
Só sei que às vezes,
me coçam costas e testas
e sei que também,
me chegam infernos e festas.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Partes desiguais

Dividi-me em dois.
Uma parte, está comigo
e da outra, não sei.
Somei-me em mil.
Mil pedaços de você,
nenhum pedaço de mim.
E sei lá, se me multiplico
para conseguir de ti,
todas as partes.
Porque algumas, estão aqui,
outras estão algures.

Ou dividi-me em mil.
Ou somei-me em dois.
Que loucuras faço eu,
se tiro partes de mim
e despudorado, me dou.
Se somo partes de ti,
sem saber sequer quem sou !

Só depois

Não posso, não quero
e nem devo morrer agora.
Não, sem antes te encontrar
e sentir teu gosto em mim.
Depois, terei a vida toda
para finalmente, morrer.

Quero passar janeiros,
despertar em fevereiros
e adormecer em marços.
Quero ter-te em setembros
e resmungar nos outubros
em que não te verei.

Não posso, não quero
e nem devo morrer agora.
Não, sem antes sentir-te
em adoráveis perfumes
e olhar tuas cores.
Depois, terei toda uma vida
para ser queixumes;
sentir mortes e dores.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Asas guardadas

Outro dia, encontrei-te
naquelas esquinas
onde almas se encontram.
Naquelas ruas
onde anjos se aprontam
para passear em nós.

E o anjo em mim, olhou-te.
O anjo em ti, apenas sorriu
e ousadamente,
apenas por um momento,
em alma, se abriu.

Nossos anjos descarados,
fazem das madrugadas
céus de estrelas e luas;
asas minhas, asas tuas
que se embolam
em desmedidos prazeres.

Até o sol chegar.
Aí, nos guardamos.
E até o próximo sonho,
asas e almas, desarmamos.

Os mortos que chorem por si mesmos

Não sou de chorar por mortos,
muito menos pelos vivos.
E não remexo nunca em covas;
sou mais de dar-me boas novas.

Não me sinto à vontade
em minha própria pele,
porque ela se dobra,
se curva e se desgasta
feito couro de cobra;
da minha saliva veneno,
me engulo e sequer tremo.

E se anjos me vierem,
serão muito bem vindos.
Mas, não descarto infernos
nem a sede de diabos e putas.
Sou eu mesmo, em mim
e sendo rezas ou pragas,
luto sozinho as minhas lutas.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ao avesso

Não te quero assim,
tão certa,
tanto quanto pelo avesso.
E faço-me torto,
que para iludir teu riso,
fico-me travesso.

Não te quero assim,
tão bela,
nos azuis dos olhares
que me dás
e nas canções
dos teus dançares.

Não te quero assim,
tão mais,
para fazer-me tão pouco.
Quero-te só feito dama,
nas travessuras dos loucos
que amantes, são chamas.