sábado, 31 de outubro de 2009

Fado e Blues

Tristeza é blues, saudade é fado,
melancolia e dor.
Estar-se longe de alguém amado,
sofrer por amor.

Ser corpo e alma em bagaços,
procurar sempre os pedaços.

Tristeza é blues, saudade é fado;
canto pelo amor que é finado !

Igual a Poe

Igual a Poe (o Edgar),
sou corvo, cobra e peste.
sorvo o que me sobra,
recolho o que me reste.
E nas dobras da capa,
escondo um mundo atroz;
se me segue, te aviso :
guarda um pouco da voz.
Que o grito será teu,
pelos pecados que cometo.
Vê aquela estrela, longe ?
Pois ela, não te prometo.

Tenho cá meus segredos
mas, dar-te, não posso
sem revelar os teus medos
ou os de todos, os nossos.

Não, contigo não posso ficar,
os meus pesadelos são outros;
iguais aos de Poe (o Edgar).

Do avesso

Esse mundo diferente,
de meninas e meninos.
De mulheres másculas
e de homens femininos.

Esse mundo indecente;
obscenidades medonhas
em magrezas extremas
e trejeitos sem vergonhas.

Esse mundo que é tão louco,
ainda crê n'alguma salvação.
Querem tudo, crêem pouco;
coitados, quanta pretensão !

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Teu poema

Se me couber o teu poema,
venha êle de caneta ou pena,
que chegue logo ou demore,
que vá embora ou aqui more.

Se me conter em tuas rimas,
me enxergar no que ensinas,
que seja o verso que procuro
na tua luz ou no teu escuro.

Se me couberem tuas letras,
que caibam em mim por inteiro
e me preencham com o que for.

Que sejam coloridas ou pretas,
mas, que alegrem o meu janeiro
e que me dêem o teu amor.

Agouro

Parecemos outros.
De dia, nos aninhamos,
à noite, nos embebedamos;
parecemos mortos.

Parecemos diversos.
De um, nos multiplicamos,
de muitos, um só ficamos;
parecemos inversos.

Parecemos brilhos.
Em claridade nos damos,
no claro, nos danamos;
parecemos empecilhos.

Parecemos sim,
o que é certo ou torto,
um do outro, peso morto.
Bom ou ruim,
vivemos do que gorou;
nosso resto que sobrou.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Dark

Não lamba os lábios assim,
molhados ainda, do sangue
que me tomaste;
o vermelho se espalha
e te mancha,
desmancha o teu prazer.

Que tua boca andou em mim,
em mordidas loucas.
E enquanto nos teus braços
eu definhava,
crescia aqui, meu amor,
na dor dos teus dentes.

Não vá pra outro mundo
sem me levar.
A minha vida, agora,
é te acompanhar.
Abra as negras asas
e me aconchegue
no perpétuo carinho
dos vôos que tens.
Sei que sempre voltas,
quando a noite vem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cigana

Não sei se foi o negro dos cabelos
ou o negro dos olhos
ou o claro da alma.
Sei que chegou com festa,
entrou pela minha fresta
e se acomodou.

Não sei se foi o bordado que fazia
ou o gingado que trazia
ou a alegria que havia.
Sei que ficou por perto,
armou tenda no meu deserto
e se instalou.

Não sei muita coisa sobre ela
mas, sei que é criança
e é tão triste, às vêzes.
E sei que quando dança,
traz o mundo aos seus pés.
E sei que quando se deita,
não é cigana qualquer,
é só uma doce mulher !

Desabafo

Eu, sinceramente não entendo
qual é o prazer besta,
do sujeito ficar tecendo críticas
à respeito do que as pessoas escrevem.
Não entendo e não aceito !
Será o crítico tão cego assim,
a ponto de não perceber
que são corações que se abrem,
derramando sentimentos
em forma de palavras ?
Então, porque querer rimas,
métrica e os cambau,
no que se escreve ?
E nem adianta perguntar
se esses críticos não tem mais
o que fazer, do que ficar
dizendo bobagens sobre
as supostas "bobagens"que
escrevemos.
Ora, a perfeição se encontra
nas fórmulas matemáticas,
que são necessárias mas,
que são também chatas
pra caramba.
Criticar sentimentos,
é no mínimo uma tremenda
falta de respeito.
E não me venham com aquela
velha estória de que quem
se expõe assim, publicamente,
está sujeito a todo tipo de opiniões,
boas e más.
Se você não tem o que fazer,
não venha fazer aqui,
no nosso recanto.
Vá pro diabo que o carregue !
E me desculpem pelo desabafo,
(que está aberto à comentários
de preferência bons).

Fugaz

Onde estava eu,
quando ela passou
naquela pálida beleza,
na timidez da pele;
em dúvidas e incertezas ?

Estivesse eu, mais além,
tudo bem.
Mas, cego do meu jeito,
só percebi os defeitos
e a deixei passar.

E quando estendi a mão,
tarde demais.
Quando enfim, ouvi o coração
no descompasso da coisa bela,
tive que me contentar
apenas com o perfume dela.

Onde estava eu,
quando ela passou ?
Ah ! Razão,
foi você que não notou !

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O escuro

É noite.
Hora de recolher-mos os corpos,
procurar-mos nosso céu
lá embaixo, junto aos mortos.

É escuro.
Passamos do tempo da vida
e nos desonramos.
Agora, qual será a saída ?

Porque o negro, nos envolveu
e nossos pecados apareceram.
O paraíso, nos devolveu;
anjos não nos reconheceram.

Do claro que é lá fora,
não mais nos lembramos.
Então vem, que já é hora;
somos agora penumbra.
Pecamos !

Anciando

Por trás daqueles grisalhos,
talves exista a moleca,
a que faz festas e farras;
uma pererê bem sapeca.

Moleque chamando vó.
O ranho pedindo dó.

Por trás daquelas rugas,
talves encontremos a boneca,
a que dança e namora;
menina levada da breca.

Moleque pedindo vó.
Porque não quer ficar só.

Danadinha, tricotando ficou
com saudades à esperar,
a nova bengala que ganhou,
pra nova vida poder gozar !

Vai um docinho aí ?

Nunca te falaram
que a acidez das palavras
corrói corações ?
Por isso, não compreendo
quem destila frases preparadas
no caldeirão do mau humor
e servidas no prato dos mal amados.
Ah ! essas pessoas birrentas.
Elas precisam é de muito carinho,
mas, mais do que carinho,
precisam de amor, bastante amor,
pra se sentirem aos poucos,
bem amadas e queridas.
Aí, descerão daquela montanha de sal
e sentirão que quem ama,
tem uma pedrinha de açúcar
bem na ponta da língua,
que adoça cada palavra e cada beijo dado.
Vai um docinho aí ?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Um segredo

Por trás do teu sorriso,
eu sinto, mais do que vejo,
um inexplicável cansaço
disfarçado de desejo.

Através do teu olhar,
posso sentir, mais do que ver
a cor que tua alma tem,
que é de dor ou de prazer.

Mas, não sei sentir tudo;
em máscaras, você se esconde.
Então, escolho ficar mudo
e te recebo, não sei de onde.

Disfarçada de Anjo

Gosto da tua escrita,
falando de amores, rancores,
de ser caneta proscrita
que lança pedras e flores.
Gosto dos teus poemas,
bondosas, malcriadas letras
que xingam ou são amenas,
são coloridas ou pretas.

Teus versos matam e morrem,
sangue e esperma, derramam
e antes de sair, êles correm,
nas tuas veias, reclamam.
Tua boca se abre em poço,
escancara o peito e sai.
Não sei, se da fonte ou fosso;
lambo o verbo que cai !

O salgado e o doce

Eu morri muitas vêzes
e chorei minhas próprias mortes;
prantos em forma de adeus,
na carne, a dor dos cortes.

Eu sorri muito, também,
quando achei que tive sorte;
sorrisos e encantos vários
no abraço querido e forte.

E provei do açucar e do sal.
E tomei chuva e tomei sol.
O dia e a noite vieram sempre,
uma hora triste, outra contente.

domingo, 25 de outubro de 2009

Juntando pedaços

O que mais lembro de ti.
Tua capacidade de juntar
os meus pedaços
e devolve-los à mim,
em ordem e em abraços.

O que mais gostava em ti.
Tua bondade em pegar
os meus cansaços
e tira-los todos de mim,
do jeito que não faço.

O que mais amava em ti.
Tua doçura de ficar
na minha solidão
e espanta-la para longe,
preencher o meu coração.

O que mais quero contigo,
é traze-la para o hoje, para cá,
é poder pegar o ontem, o ido
e impedir que você se vá.

Indagorinha me procurei

Indagora procurei meus versos
nos diversos cantos da minh'alma,
mas, poucas letras encontrei;
sem rimas, sem rumos, sem palmas.

Indagora procurei meus amores,
no coração, que até ontem amava,
mas, também não os encontrei,
que partiram, quando eu não olhava.

Indagorinha, olhei pra mim mesmo,
me procurei nas minhas esquinas
e admirado, surpreso e entristecido,

acabei achando o que estava à esmo.
E se eu,não tenho mais meninas,
bom seria, se eu tivesse também partido.

Um louco a mais

Hoje, acordei inspirado,
escrevi três poemas.
O primeiro sobre amor,
o segundo sobre dor
e o terceiro, sobre o que for.

Menti, apaixonado assim,
enganei que está doendo;
se fui, se sou, se serei fim.

Hoje, acordei inspirado
para ouvir a Gal ou Bethânia,
para ser o tal
ou simplesmente infâmia.

Mas, fui consumido por mim,
me joguei fora apenas,
não ouvi as cantoras, enfim
e fiquei só, com os poemas.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Pequena

Ela é tão pequena,
que se esconde entre nós,
entre sóis, estrelas e luas.
E eu aqui, nesse tamanho,
a imagino linda, nua.

Em tão pequeno tamanho,
talves não caiba
a largura do meu amor,
o comprimento de mim
e a quentura desse calor.

Ela é tão pequena,
que em flores a imagino;
um mimo de coisa amena,
doce no carinho que tem.
E eu a imagino, apenas...

Soneto para ti

O poema que eu quis fazer,
estava escondido, não vi
e por mais que eu quisesse,
ele não aparecia por aqui.

O poema que você guardava
e buscava em letras e sons,
por mais que se buscasse,
eram rasuras, faltavam tons.

O poema sempre esteve ali,
entre nossas almas separadas
e para que chegasse enfim,

tive que me aproximar de ti.
E entre poentes e alvoradas,
ele nasceu, tão lindo assim !

Sombras

Quando andávamos lado a lado,
separados por centímetros, decerto,
nossas sombras iam de mãos dadas
por aqueles caminhos tão certos.

Quando deitávamos os dois, juntos,
o aconchego da cama era puro
e as entregas eram preces nossas;
essa paz, ainda hoje, procuro.

Agora, nossas sombras se separaram,
nossos corpos não mais se colaram.

Centímetros, metros viraram distâncias
e eu te procuro ainda, nessa ânsia.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Calidamente em mim

Foi um momento único, só meu
e quem me disser que foi imaginação,
feliz, abro meu peito e mostro
toda a felicidade do meu coração.

Aquela brisa que ontem esteve aqui,
tinha o teu cheiro, o teu aror
e eu, senti aqui, bem perto de mim,
que estava voltando o amor.

Que impressão, a gente encontra
em tudo quanto é lugar
mas, como explicar o que senti,
sem nem mesmo, te enxergar ?

Molecagens

Vez em quando, é bom a gente
relembrar o tempo de criança.
O primeiro brinquedo,
o primeiro dia de aula,
a primeira namorada, primeiro beijo.
Lembrei então, da minha primeira calça comprida.
Eu e meu irmão mais velho,
deviamos ter por volta de dez anos,
quando fomos obrigados a vestir as pernas.
Aquilo pra mim foi o fim do mundo
ou melhor, o fim da infância,
fim da traquinagem.
O simples fato de vestir calça comprida,
foi como se me obrigassem
a entrar à força no mundo crescido,
mundo de gente grande.
Não lembro se meu irmão chorou;
eu, abri o bocão.
Foi o fim e o início de muitas coisas pra mim.
Fim da liberdade, do ventinho nas pernas
e da alegria de ser moleque.
Início de outro mundo
e de responsabilidades,
coisa que confesso, não sei direito o que é.
Com filhos e netos, continuo ainda
a não saber muito bem o que é ser responsável.
De uma certa maneira e no bom sentido,
continuo a não honrar a calça que visto.
Continuo cá, a fazer as minhas molecagens.

Jeito criança

A nossa prosa, nossa feição,
quando fala e quando ri
tem jeito de amor, de tesão,
jeito de moleca e guri.

Da nossa alma, nosso corpo,
bebemos feito coca cola;
somos o reto e o torto,
música e dança que rola.

E rimos feito duas crianças,
viramos um do outro brinquedo,
pirulitos, banbolês e diversão.

Dançamos com gosto a dança
e ficamos felizes mais cedo;
eu no teu, você no meu coração.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A corcunda de Eva

Não que eu goste do bizarro,
mas, era apaixonado pela
corcunda de Eva.
E, ao contrário do que se pensa,
corcunda macia,
gostosa de se acariciar.
Tinha a impressão de que eram
seios que eu segurava.
Feia ? De modo algum;
dava à ela, um ar de anciã,
coisa que não é.
Me imaginei várias vezes
em carícias, que iam do
estranho ao rude.
Amor, não fizemos;
não tive coragem de me declarar.
Deixou-me aqui, com vontade
de, depois do amor,
adormecer não nos seus seios,
mas, na sua corcunda.
Sentir em carícias,
a bondade daquele pedaço à mais.
De repente, o gozo poderia
estar ali e seria multiplicado por mil.
Eu a acariciaria,
jurando amor eterno
e acordaria todos os dias,
contemplando não as montanhas,
mas, aquele monte,
bem ali, ao meu lado.
Saudade da corcunda de Eva.

Melancolia

Só uma infinita tristeza
por detrás daqueles muros;
monturo de almas e corpos,
mortos que passeiam ainda.

Tristeza infinita, só uma,
no branco do cal pintado,
lavado em lágrimas e dor;
cor que se chama solidão.

E naquela triste pobreza,
que é tão séria e crua,
morre também a lua
em melancólica beleza.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Bainha

Faca afiada aquela,
a do pai,
lhe rasgando toda noite;
corte profundo e gostoso.
E ela, sem poder dizer um ai,
que ao lado, a mãe à dormir
ou à fingir.
Se ao menos, ela viesse
lhe acudir.

E aquela ponta,
no corte reto que tinha.
E o seu pai,
a lhe chamar de rainha.
E a sua mãe,
que demorava e não vinha.
E a quentura gostosa,
a lâmina, a bainha.

Só não entendeu,
quando no viço de coisa nova,
chegou rindo, quando viu
a barriga que brotou
e mãe, não sorriu,
só chorou !

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Seca canção

Uma canção seca,
árida como a terra de Elomar;
sertão que não virou mar.
Que se engole à seco,
apenas no som da viola;
nota esturricada,
que queima e esfola.

Uma certa canção
que se diz:
nasceu do peito sofrido,
magro e esfomeado.
Aquele canto esquecido,
na teimosia que encanta,
feito pedinte qualquer,
porque foi desgarrado
um dia, de pais, de filhos
e de mulher.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Consolo

Quanto tempo perco eu,
fazendo esses poemas,
procurando a palavra
que um dia se perdeu;
o verso perfeito que foi,
dizendo que já voltava.

E quanta coisa ganho eu,
que o tempo perdido me dá
aquilo que foi embora,
aquilo que era meu;
que volta agora, mais forte,
na poesia que me consola.

Nossas mentiras

Se fosse pra ser encanto,
seríamos dois, pra não dizer mil,
ficaríamos solitários em qualquer canto
e nem precisaríamos ver o que se viu.

Se fosse pra ser agrado,
pegaríamos nós, o que restasse
e mesmo que fosse errado,
acharíamos algo que nos bastasse.

Desceríamos dos altos,
dos muros e dos altares
e em pé, sobre nossos saltos,
choraríamos nossos olhares.

Um pouco diferente

Hoje, acordei com vontade
de ouvir o insosso Tom Zé,
de pular o muro do vizinho
e chupar a laranja no pé.

Hoje, acordei com cãibra
mos dedos, que não uso mais,
na alma, que sente a saudade
e finge que tanto faz.

Hoje, acordei com esse jeito
meio diferente e largado,
assumindo todos meus defeitos,
me deixando um pouco de lado.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Desencanto

Porque se olhar assim,
com jeito de mimo;
desatino
porque teu espelho é cruel ?
Então, faz-se menestrel
também da tristeza,
mostra pra todo mundo
que o triste é beleza.

Porque se enxergar assim,
com modos de pranto;
desencanto
porque tua cama é fria ?
Então, reinventa o que havia,
traz pra ti outros calores,
outras fontes e rios;
cria teus novos amores !

Nas alturas

Quero ter contigo, um prazer
que seja mais do que isso,
se transforme no que fazer
no teu corpo, no teu viço.

quero ter contigo o céu,
que pode ser de pecado,
pode ser coberto em véu
ou, que pode ser dourado.

Quero ter contigo um gozo,
que nos leve às profundezas
ou nos dê outras alturas.

Quando nos der-mos gostoso,
veremos sim, toda a beleza
que pode haver na procura.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Mesmas línguas

Te darei um longo beijo,
pra falar a mesma língua;
essa palavra tua,
língua romântica
e cheia de tesão.
Tens o coração na boca,
que às vêzes,
penso que és louca.
E não és pouca;
és muitas fantasias,
sem hipocrisias.


Dá-me teu gosto,
esse gosto de amora,
gosto de fruta pecado,
do verbo trocado
e do verbo torto.
Me faz renascer;
eu, já quase morto,
quero reviver em ti
e no prazer da tua boca.
Quero ficar aqui.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Procurando estrelas

Dei um pulinho nas estrelas,
só pra ver se te encontrava;
porque a solidão, me pesava
e eu precisava tanto vê-la.

Procurei nas crateras da lua,
me perdi em galáxias tantas
e aquela luz, que me encanta,
engana, quando vista da rua.

Dei um pulinho nas estrelas,
procurei nas crateras da lua;
não encontrei o que buscava.

Esperanças, acabei por perde-las,
na vã procura, por coisas tuas.
Ver-te, é só o que me bastava !

domingo, 4 de outubro de 2009

Pela raiz

No corte da faca que se afia,
não basta o corte bem feito;
precisa ter um fio bem fino,
pra cortar bem rente ao peito.

Não se tira do peito um amor
que morou e viveu aqui, sempre;
se arranca só com muita dor
o que pra sair, agarra e prende.

E não se mede nunca a saudade,
como se fosse algo comum,
tão simples de se esquecer.

Porque ela fica presa de verdade,
faz você ser qualquer um
ou até mesmo, não querer ser !

Gostosinha

O teu gosto, imagino,
deve ser de framboesa
ou quem sabe, de amora;
gosto de sobremesa.

O teu cheiro, imagino,
deve ser d'alguma flor,
a mais cheirosa, eu sei;
cheirinho do meu amor.

Todinha você, eu imagino,
deve ser gostosinha demais,
do gosto, do cheiro, do jeito
que a gente quer sempre mais.

Flamenco doído

No terreiro de terra batida,
a saia rodada,
as castanholas;
espanholas.
Circos, palcos, tablados
e janeiros
e fevereiros,
todos findos;
poderiam ser lindos.

Que eu já tive
uma Espanha em mim
mas, é passado
e é ruim.

No flamenco,
a rosa resvala do cabelo
e o suor que cai
em gotas, entre os seios,
é o motivo desses ais;
beijo que nunca mais veio !

Cinquentona

A mulher de cinquenta
não tenta, não inventa
e nem ostenta.
Ela se contenta
na maturidade
da melhor idade.
A mulher de cinquenta
não jura, não exconjura
e nem procura.
Ela só atura
netos pequenos;
jovens, mais ou menos.
A mulher de cinquenta
não machuca, não insulta
e nem consulta.
Ela só exulta
seu coração, sua emoção.
E se for paixão,
diz que é só tesão !

Falsidade

A boca parada,
não diz, não faz nada;
é um sorriso só,
que faz até dó.

Se escancara doce,
igual sorriso fosse,
em dentes abertos
de sorrisos incertos.

A boca parada,
naquele sorrir sem graça,
se escancara doce;
que alegria, que desgraça !

Me bastam versos

Ser poeta, é o que me resta,
porque já fui nessa vida,
tudo aquilo que não presta.

Ser poeta, é o que me sobra,
porque já passei da conta
e agora, a vida me cobra.

Ser poeta, é o que me basta;
por isso, faço versos e cantos
e enquanto a escrita me arrasta,
me basto eu, em poemas tantos !

sábado, 3 de outubro de 2009

Plantar poemas, colher sorrisos

Num dia destes, descobri-me vivo,
vendo a morte pela tevê.
Noutro dia, descobri-me torto,
embora nem enterrado, nem morto.
Então, respirei bem fundo,
peguei a mochila,
enchi de risos e alegrias,
de canções e poesias
e fui procurar outros corações.
Ah ! que belo dia
pra plantar poemas
e colher sorrisos !