sexta-feira, 31 de julho de 2009

Brincadeira de roda

Apressado, ia passando direto,
porque molhada, você esperava.
Mas, parei, fiz a curva no reto,
que a roda, prá brincar chamava.

Brincamos com mãos e cabeças,
fizemos firulas, rodamos bambolê;
brincadeiras gostosas, travessas,
naquele quintal, perto de você.

Jogamos taco, batemos tanta bola,
depois, cansados, fomos nos molhar,
satisfeitos, suados fomos descansar,
que amanhã, outra brincadeira rola !

"Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar,
vamos dar a meia volta,
volta e meia vamos dar.
O anel que tu me deste...".

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Tão raro, tão caro

O meu sorriso tem preço
e claro, que caro é;
custa todo o teu amor,
custa a tua alma até.

O meu pranto custa muito,
os olhos da tua cara;
quando rola, muito vale
e por isso, é coisa rara.

E não tem preço meu amor,
não tem custo, nem valor;
então, não dou, não vendo,
não quero morrer sofrendo !

Sonhos e estrelas

Olhava pro céu
e imaginava um jeito de pegar
aquelas coisinhas brilhantes
prá enfeitar o caderno.
Puxou a cadeira e subiu.
Estendeu as mãozinhas prá cima e...
catapimba !
Não chorou.
Não era dada à chorar
por qualquer besteirinha.
Apenas se aninhou no colo da vó
que isso curava tudo quanto é dor.
E no aconchego e quenturinha
daquele terno abraço, resolveu:
teria paciência;
esperaria crescer primeiro,
ficar do tamanho da mãe.
Aí sim, poderia pegar
todos os brilhos do céu !
Não iria desistir nunca !
Começou daí, a aprender
um pouco das dores
de quem quer um dia,
alcançar sonhos e estrelas.

sábado, 25 de julho de 2009

Poço

O nosso poço,
sêco de águas e sabores.
Desgosto. Imensidão
de escuros descaminhos.

Dêle antes, tirávamos
nosso doce vinho.

O nosso poço,
sêco de águas e amores.
Lama. Talves horrores,
pálidos goles que não saciam.

Bebidos em pretas canecas;
olhos que nos espiam.

Boca negra do nosso poço;
garganta do nosso fosso !

Proseando

Uma visitinha rápida,
um cházinho com limão,
um dedinho de prosa
prá acalmar o coração.

Descalços nesta varanda,
coçando nossos dedões,
o riso de abrindo leve,
espantando as solidões.

Conversa jogada fora,
descarrego de coisa à toa;
troca troca de sentimentos
foi sempre uma coisa boa.

Depois, recolhemos chícaras,
farelos e companhias.
Hora de ir-se embora;
compadre, até outro dia !

Ouvindo Elza

Tempo de solidão,
de ouvir a rouquidão da Elza;
um lamento chegando aqui,
na música prá um guri.
Tempo de conversar
com a alma nossa
e de falar, talves,
um pouco de tristeza
e da incerteza
que o dia seguinte trará.
Tempo de recolhimento,
de escolher pensamentos.

De saber do certo, do errado
ou de mudar de lado,
pegar um outro caminho
onde não andemos sózinhos;
uma estrada mais leve,
que não nos canse tanto.
E, se houver uma reza,
rezemos sem ter a obrigação
daquela procissão;
aquela mesma que passa,
recolhendo almas desgarradas,
aos seus corpos agarradas.

Então, deixemos de vêz
as tolas orações
que já não nos servem.
Brindemos à nós,
depois, sopremos os pós
dos casacos pendurados,
como almas penadas
e sigamos em frente,
rumo ao tudo ou nada.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lareiras

O frio, nos chama ao sossego,
apego de corpos em camas;
chamas de amores e paixões.
Nos chama ao morno,
em torno de fogos e ardências;
querências de luzes e brilhos.

O frio, nos chama à aconchegos,
achegos de abraços e beijos;
queijos, cházinhos e pães.
Nos chama às quenturas,
misturas de carinhos tantos;
encantos de calores, arrepios.

Amores esquentando frios !

terça-feira, 14 de julho de 2009

Ora, bolas...

Quando eu era criança,
acreditava em Papai Noel
e acreditava em Deus.
Hoje, sei que Papai Noel
não existe e Deus,
tão longe, é inatingível,
além de ser invisível.

Quando eu era pequeno,
brincava de bolinha de gude.
Crescido, jogava bola grande
e hoje, das bolas, sei lá.
Cresci. Deixei de brincar
e de tanto acreditar,
virei brinquedo do destino,
à manipular minha vida
e meus amores.
E êle, pródigo,
brinca de transformar
meus quereres em desamores !

Tudo

Você tem o que eu quero,
jeito de rumba e bolero,
de carnaval da Mangueira;
gostinho de erva cidreira.

Digo o que gosto em ti:
canto de sabiá, bem-te-vi,
encantos de mil sonatas
rente à janela; serenatas.

Você tem o que eu sou
e sempre que eu me vou,
deixo aí, minha metade;
a parte que vai, é saudade !

Trovoadas

Fossem trovoadas ou dores,
que crescessem em mim,
eu não ligaria tanto assim;
mas, a falta é de amores.

A falta, é de desejos
na fria noite do coração.
Maltratado pela solidão,
sofro pelo que não vejo.

Choro pelo que não posso,
pelo que poderia ter sido,
pelo resto que tenho e ainda

por um pouco do nosso
que poderiamos ter tido
e que bem sei, agora finda.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Recomeços

Enfim, depois de um longo tempo,
tive um encontro comigo;
encontro de rezas, de orações,
compromisso de almas e corações.
Porque é bom, se encontrar consigo mesmo,
depois de tantos andares à esmo.
Prá dizer, que ainda está-se vivo,
apesar de tudo.
Enfim, tivemos uma conversa franca,
daquelas para a qual, é preciso coragem,
sem contar nenhuma vantagem.
Foi um papo proveitoso,
mas, confesso que não esperava
tanta desonestidade de minha parte.
Sabe, que outra vêz, tentei me enganar ?
Fingir que estava tudo bem ?
Mas, é claro que não consegui,
ninguém consegue fingir o tempo todo,
ninguém consegue fugir de si.
E, prá variar, lá estava eu,
fazendo mais promessas prá mim,
dizendo e prometendo coisas;
refazendo sonhos e expectativas.
Promessas, que não serão cumpridas,
que daqui a pouco, estarão esquecidas
e que só serão relembradas,
quando chegar o próximo encontro.
Até lá, me faltarão outros pedaços,
terei tantos outros pecados
e humildemente, me pedirei perdão.
Me prepararei prá um novo recomeço
que bem sei, faz tempo, já não mereço !

sábado, 4 de julho de 2009

Pequeno comentário

Lendo tua doçura, ou, às vêzes amargura,
decorando teu verbo, ou, o que nele enxergo,
teço comentários ou exageros
e me esmero em compreender-te.

Vendo teu sorriso, ou, às vêzes siso,
devorando tuas letras como se fossem tetas,
desculpas te peço ou as invento
e tento contudo, entender-te.

Tendo poemas na tua cabeceira,
dou-te regras ou falo besteiras
e desarrumo tudo, faço-te mudo.
Então, disfarço e pondero,
não quero, mas minto;
não digo o que sinto !

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Minha virgula no teu ponto...

De braços dados,
embolados em abraços,
seguimos fazendo traços,
despimos almas em poemas
e nos fazemos pontos,
virgulas e tremas.
Somos sonetos desatinos,
meninos brincando risos,
bambolê de rimas e versos,
inversos da vida doída;
doidas frases ao acaso.
Eu caso com tuas letras,
rimando em mim, tua vida
e na ida, levo flores
prá trocar com tuas dores.
Que flores e cores
se encontrando,
se farão nossos amores.

Acho tão linda essa virgula;
minha perninha caída,
pendurada na beiradinha,
pedindo ajuda prá ficar
e se encostar no ponto teu,
que só faz é me chamar !

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Ausência

Não sei, se sou eu mesmo
a seguir em solitários passos,
derradeiros descompassos
nessa caminhada à esmo.

Nem sei, se te vi outro dia,
ainda parada naquele lugar,
como se estivesse a esperar
por alguém, que ainda viria.

Não sei mais de afagos e amores,
porque são vazios esses dias;
qualquer dia desses, ausente,

não poderei conter tantas dores,
nem haverá outras poesias
que curem minh'alma doente.

Doação

Não te dou meu rosto,
prá você dêle fazer
simplesmente, só desgosto.
Não me dou, minha cara,
prá você me olhar assim
com esse jeito de farra.

Não te dou meu corpo
ao teu bico gavião,
que só me vê peso morto.
Não me dou por inteiro,
prá ser aproveitado
só um pouco, só o meio.

Não te dou meu tudo
por prazer de me doar.
Prá fazer você me amar,
é que às vêzes me iludo !

Bombocados

E aquela boca, se abriu prá mim,
rubra de vinho, pecado e amor;
eu, que me perdi noutras línguas
tão secas, áridas, feitas de dor.

Uma boca de criança ou senhora,
a me lamber e sussurrar gostosuras,
a me falar com versos de luxúria;
embalados bombons de ternuras.

Boca que entre tantas, me chamou
de amores, com verbos ousados.

Que quando me viu risos, então calou;
gemendo, gozando, deu-me bombocados.