terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Ontem, outra morte

Foram tantas mortes
que me chegaram
e umas poucas vidas
só me restaram.
Nalgumas, morri de amor,
noutras, morri de dor.
Tantas vidas desperdiçadas
e outras, maltratadas,
na ânsia de acertos
e poucos nortes,
à me trazerem sorte.

E despi-me e depurei-me.
Com poucos corações, consolei-me.
Então, continuo igual,
tão fraco e tão forte.
Tão poucas vidas,
para tantas mortes !

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ansiosos ossos

Porque despencar em remorsos,
se sou só nervos e ossos,
se sou pernas quando corro
dos meus próprios erros.
E me entristeço e morro,
faço-me eterno enterro
para desconjuntar-me
e em cacos, rejuntar-me,
me colar tão torto.
Ser apenas olhos e bocas,
que para rir ou chorar
e ter só algum conforto,
se fazem de loucas.

Sou sim, só nervos e ossos,
querendo tudo ser.
Ansiando por fazer
até o que já não posso.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Perdidão

Dei uns tiros no escuro.
Talvez tenha acertado
no cachorro,
ou no gato,
ou nas putas
que me acompanhavam.
Não importa.
Balas perdidas, sempre encontram
alvos pelo caminho.
Fez-se alvo minha cabeça.

Aconchego

Rabisco em guardanapos
e às vezes, sem querer
enxugo dores e lágrimas
em velhos panos de pratos.

Me arrisco, me recolho
e depois, me desdobro
nalgum outro claro dia,
dia em que nada escolho,
tempo em que me recobro.

Me resisto e me enrolo
em sonhos e em letras;
poemas que faço por ti,
à me acolherem feito colo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Linhas tortas

Nem tão tristes ou lindas,
nem tão pretas ou coloridas,
as letras deste meu poema;
talves, alegres ou doloridas.

Nem tão claras ou profundas,
nem tão retas ou tortas.
Alinhadas sem jeito, sem pauta;
linhas vivas ou quase mortas.

À esperar em esquinas e ruas,
que olhares os venham ver,
tortos versos desta alma nua,
que acariciam à quem os ler.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Varais

Passo à ferro minhas tristezas.
Penso e repenso-me
e me embrenho solitário.
Fujo da minha feiúra,
da parte de mim que engana.
Tenho ânsia de comes e bebes,
sede de águas e neves.

E lá fora, nada acontece.
Tudo passa tão igual,
na tranquilidade deste quintal;
tristeza das roupas brancas,
que se estendem solitárias
neste nosso triste varal.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Gozo

Escorre em finos fios
pela clara pele
que brilha no escuro lá de fora.
Escorre em leves gotas,
como se prantos
que se choram agora.

Basta-nos essas brancas asas
que nos guardam tudo.
Os sussurros, espasmos e gozos,
e gritos nossos, agora mudos.

Envelhecer

A velha idade
que se fez moça
ao longo do tempo,
que se pos ligeira
em risos e danças,
hoje, cansou.

Jovem demais
em amores e corações.
Tarde demais
em madrugadas e canções.

A velha idade já foi feliz.
Pareceu até nova,
nos seus muitos anos.
Corrompeu-se logo
e tardiamente calou-se.

A velha idade,
de tanto que sofreu,
tão cedo ou tarde morreu.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Vitrines e Paisagens

Não quero mais vitrines.
Quero paisagens
que me falem algo,
que me levem à ti.
Vitrines são manequins,
retos, eretos e quietos,
parecendo querer dizer algo
que não conseguem.

Paisagens dão-me tudo.
Embora, sem brisas,
fiquem assim,
desse jeito tão mudo.
E sempre combinam comigo,
pensativo e secreto,
contemplativo e quieto.
Acho até, que paisagens
levam-me até você.
Ou trazem-te aqui,
entre ventos e folhagens.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Aridez

As pernas finas,
finas tripas feito cipós.
Os olhos secos,
secas rugas feito nós.
Carregando cacos,
pendurados sacos
de mamicas vazias,
onde já não mamam mais
filhas perdidas.

Um triste deserto,
decerto um ermo
de lonjuras e nadas;
de oásis, só um pedaço,
tiquinho de nada:
um coração
que carrega ainda
esperanças caducas,
que apesar de tudo,
teima e sobrevive.
Ainda.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Fome de ti

Descubro-me magro.
Sinto-me com uma fome
tão intensa,
à revirar-me tripas,
à revirar-me todo.
Então, fico ao contrário de mim
e a favor das rugas
e da saudade.
Desabo-me carente
do alimento que tens
e desviro-me e fico nu,
à procurar-me pelos desvãos
do meu próprio corpo.
Sinto que em vão,
te procuro no que é meu;
desdobro-me em cruas dores,
enquanto a tarde cai
numa beleza que me dói.
Dói-me na alma
todas estas tristes cores
da falta que vem de ti.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Bobagens

Chorar por quem,
se não sabemos quem morreu;
se foi você,
ou se fui eu.
Que lágrimas derramar
dos secos olhos
que aqui ficaram,
dos nossos olhares
que sequer choraram.

Chorar por quem,
se foi apenas um adeus
sem dor e sem rosto;
sem o gosto dos lábios teus.
Porque teu corpo,
à muito, longe estava
e em cada procura minha,
não era em ti que tocava.

Tão perto, tão distante,
que me fazia morrer
à todo dolorido instante,
por assim te querer.
Então, chorar para que ?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tolices

Sinto-me um tolo curioso
olhando pelas frestas alheias,
querendo enxergar tristezas
que não são as minhas;
tentando olhar alegrias iguais
de como quando vinhas.
Assim, de tolice em tolice vivo
e em passos mal dados, sigo.

Sinto-me um desses tais
que acorda todas as manhãs,
que pelo carinho do sol agradece
mas, conforme segue o dia,
sem explicação alguma, entristece.
Que de tristeza em tristeza,
viaja por tantos corações
e diz em poemas suas emoções.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Um poema apenas

Procuro um poema
que seja a sua cara.
Uma música, uma letra
que expresse minha tara.

Busco ter-te em tudo
e se for em rimas,
nas prosas te vejo;
é em corpo e alma
que te desejo.

Mas, este é um poema apenas,
igual á tantos outros,
parecido com um só,
ou imitando várias centenas.

Por acaso

Um esguio corpo,
uns brancos cabelos.
E nós, os dois em pelo,
ansiando cada um
à encontrar seu porto.

Nem sei se nos merecíamos,
nas douradas manhãs,
nos ocasos dos dias;
algo por acaso, surgia
se nos bebíamos aos goles
ou nos arrancávamos
em pequenos pedaços.
Se nos engolíamos tudo,
naquela ânsia vã.

Que inocentes, não éramos,
naqueles nossos abraços.
Tão sós, tão juntos
em que cada um, adormecia
em seu próprio cansaço.

Passado

Passarei depressa rumo às solidões,
não sei se terei outros invernos, verões.
E nos meus escuros, sem luz alguma,
pequenas lembranças, até que me suma.

Mas, não é de morte que agora falo,
é dos meus silêncios onde me calo.

E não é de sofrimentos, nem de dores;
é da escura falta dos meus amores.

Incertos dias

Tem dias que acordo triste,
dias que acordo morto
e morto, caminho pra noite;
noite da minha morte.
E até me acho com sorte.

Tem dias que são assim,
dias que são felizes,
felicidade sem motivo algum.
Um que de alegria no ar,
mas, que logo se esvai,
se vai sem querer ficar.

Tem dias que são os meus,
dias que roubo dos teus,
porque nossos dias se foram.
Tão claros eram os dias,
tão noites os dias ficaram.

Vulgaridade

A boca banguela sorriu
um sorriso sem dentes,
um riso sem graça
da infeliz vida dela.
E a mesma boca que riu,
xingou a desgraça pouca
que chegou tão depressa,
demorou-se um pouco mais
à tirar-lhe tantos ais.

Olhos estranhos esses,
que não mostram almas,
só riem assim, tristes.
Uns pálidos olhares
que não são janelas
de ninguém e de nada;
só mostram a tristeza,
de serem tão vulgares.

Momento

O que passou por aqui,
foi um fio, momento tesão.
E foi tão frio meu verão,
naquele adeus que morri.

O que passou, por fim,
foi um raio, um trovão.
E agora, saio em solidão,
sequer rezando por mim.

Um maldito gozo ela deu;
gozo que sempre guardava
para outrem ou mesmo eu,
enquanto fingia que amava.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Intenções

Poemo na primeira pessoa,
para segundos olhos lerem,
para terceiras almas terem.
Mas, não sei se sou eu
que falo de mim.
Não sei se são os outros
que me lêem assim.


O mundo e suas dores
cabem em letras tão miúdas.
Fazem de traços e linhas,
aquela saudade que se tinha.
Amores, tristezas e solidões,
é o que o poeta canta.
Abre sorrisos, chora lágrimas,
não se explica, mas encanta.


Poemo na primeira pessoa,
com segundas intenções.
Querendo pegar desprevenido,
querendo sentir espremidos
em mim, tantos corações.
Malvadeza, é só o que faz
todo poeta triste

Constatação

A solidão.
Essa, embrulho em pequenos pacotes,
que guardo em meu coração.
E me conformo, quando penso
que ser só, é guardar lembranças
de quando era-se dois.


A saudade.
Essa, aliso com ferro quente,
desdobrando pregas,
desfazendo amassados.
E me transtorno, porque 
não posso tira-la.


O passado.
Esse, estará em mim,
sempre presente
em cada novo dia que amanheça.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Amargo

Saudades que me fazem mal.
Por isso, rezo aos meus mortos
e oro pelos meus vivos,
que não sei onde estão.
E recordo e acho alguma graça
de certos momentos vividos,
porque não consigo chorar.

Sentimentos que me caem igual
véu de lembranças amargas,
por não saberem ao certo,
de paragens e distâncias,
de querências e ânsias.

E porque abalam minha serenidade
nas lágrimas que não me caem,
só relembro e penso
nessas marcas que resistem
e que mesmo querendo, não saem.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Profanos e sagrados

Que belas piadas
nos contaram os santos.
Piadas dos seus tantos pecados,
quando não eram ainda sagrados.
Anjos nem sempre tiveram asas,
nem sempre habitaram
celestiais moradas.
Eles andaram entre nós.
Por isso, nunca nos sentíamos sós,
como nos sentimos agora.

Nos cutucavam e nos sorriam.
Nos acariciavam e nos feriam.
Santos e anjos, éramos todos.
Por isso, bonés em lugar
de auréolas.
Por isso, as costas coçadas.

N'algum estranho momento,
nos perdemos.
E nem nos lembramos mais.
Saudades das asas.
Saudades da perdida fé.

Incerto

Quem sabe, algum dia,
eu consiga dar outra vêz,
aquele sorriso largo
que engole mundos,
aquele abraço firme
com jeito de algo profundo.

Quem sabe, algum dia,
volte à sonhar acordado
e adormeça em mim,
feliz e já sarado,
daquelas coisas tão ruins.

E quem sabe, seja um riso
que me já foi dado;
abraço sem nenhum juízo,
antes que me fosse tirado.

Ao largo

Falta de um bater de asas
rumo aos corações;
tão tristes emoções,
sem rimas e sem prosa,
sem a palavra generosa.

Falta de um simples corpo
ao lado do meu.
Um só, que se abrisse
igual flor graciosa
e me desse tudo,
qual uma rosa.

Falta da alma amiga
e da vida que sem querer,
tornou-se simplesmente
minha maior inimiga.
E na falta de tudo,
só calar e me ver ao largo.
E como um barco,
só me ver passar.