terça-feira, 31 de março de 2009

Meio sem rima

Ando meio calado
nestes últimos dias;
parado nas palavras
que sempre dizia.

Ando meio sem graça
de quase tudo;
desgraça pouca, bobagem
querer ficar mudo.

Ando meio desafinado
com o tempo meu,
desconsolado de mim;
algo que se perdeu.

Ando meio sem rima.
Embora saiba que tenho
cisma de escrever bonito,
agora desdenho.

Meio calado,
meio sem graça,
meio desafinado;
rima que passa !

sexta-feira, 27 de março de 2009

Entre flores e estrelas

Caminhou entre as flores,
pisou n'algumas, é certo,
porém, colheu tantas outras;
sentiu ter o céu, tão perto.

Voou sobre as nuvens,
umas negras, outras brancas,
que guardavam uns orvalhos
para enfeitar suas tranças.

Passeou nas estrelas,
viu o brilho de muitas luas;
do sol, quis ficar longe,
para guardar a pele nua.

Depois, abriu os olhos
e surpresa, então piscou,
pensando que foi um sonho,
os lugares por onde andou !

quarta-feira, 25 de março de 2009

Timidez

Procuro meias palavras, palavra inteira
e ela, engasgada na oca garganta,
escondida lá, no cantinho da boca,
insiste em não sair, feito pergunta;
jeito de cena um pouco indiscreta
onde a vergonha se faz e se junta.

Procuro meio sem jeito, meio safado,
jeito meio louco, me escancaro todo,
tento te mostrar algo de mim
e sem querer, quase sempre me fodo
porque não consigo nunca me doar;
me engulo, me aquieto e não explodo.

Então, fico calado, fico sem jeito,
deixo a vontade de ter-te, passar.
Me estrangulo, dou um nó no peito
e o que faço agora, é só te olhar.

Neuróticos

Tantas perguntas
carecendo de respostas,
parecendo que somos todos
interrogações, questões.
Tantos assuntos
parecendo acintes
para quem nos lê;
falando só em tesão,
impressão que somos
sem sentidos,
despidos.

Que, quando de tão eróticos,
nos tornamos neuróticos,
é bom falar um pouco de amor,
de dor, de pássaros e estrelas,
As sacanagens,
de vez em quando,
é bom não vê-las !

terça-feira, 24 de março de 2009

Procura

Sabe que te procuro ali,
entre as cores e as flores,
entre as estrelas e luas,
entre tantos outros amores ?

Sabe que te busco ali,
entre as notas musicais,
entre solfejos e sons,
entre começos e finais ?

Sim, sabes que te busco agora,
entre as letras dos teus versos,
emtre as rimas dos sonetos;

dentro de mim e lá fora,
por caminhos mais diversos,
quantas loucuras cometo !

segunda-feira, 23 de março de 2009

Perfeição

Singela igual flor no cabelo,
aconchego de lã em novelo,
esse poema com teu jeito;
rima no tempo perfeito.

Minha senhora das belas letras
que chegam coloridas ou pretas,
invadindo em falas e abusos,
tecendo de um jeito difuso.

Que me diz, nas entrelinhas,
como se fazendo em carinho
de ousadias e de amores.

E se antes, chegava sózinha,
trás agora o verbo inteirinho;
leva embora todas as dores.

domingo, 22 de março de 2009

Poema inacabado

Meia hora ali, parado,
fitando não se sabe o quê,
olhando não se sabe prá onde.
A caneta muda, esperava por ela
e ela não vinha.
No papel, o poema quase pronto,
inacabado, esperando por alguém
que teimava em não chegar.
Êle podia senti-la pairando por ali,
fazendo cócegas na mão,
pronta prá sair, mas não saia.
Pensou até em por outra no lugar;
rimava do mesmo jeito,
mas, não combinava porque não era ela.
Cansado de esperar por quém não vinha,
resolveu sair, dar uma volta, espairecer.
Quem sabe, não pensando mais,
ela viria.
Largou a caneta,
deixou o papel em cima da mesa e saiu.
Mal abriu a porta, parou.
Mistura de surpresa, espanto e decepção.
Do outro lado da rua, passando, ela,
solta, leve e bela, muito bela,
abraçada com alguém que êle não conhecia.
Estampado no rosto, um sorriso,
aquele sorriso que êle bem conhecia.
Triste, deu meia volta,
guardou a caneta,
rasgou o poema e jogou no lixo.
A certeza de que nunca mais iria termina-lo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Múltiplos

Meus cinquenta e uns
e seus vinte e poucos,
poderiam bem se somar,
virar números inteiros.

Sem dividir, na cama
seríamos mil gozos,
multiplicaríamos valores,
amores seriam infinitos.

Ficaríamos múltiplos
em abraços e beijos.
Para que a subtração,
súbita ação de tirar ?

Nossos anos somados,
daria uma conta e tanto;
juntando nossos amores,
noves fora, seria encanto !

segunda-feira, 16 de março de 2009

Escárnio

Sou poeta, sou pateta,
sou patético ao escrever,
ao ver teu riso escárnio
escarrado em mim.
Eu, que um dia,
coube inteiro em ti,
agora, já não caibo aqui.

Sou pateta, sou poeta,
sou poético, à chorar
um blues ou um fado.
À sentir tua distância,
repugnância ou dó...
feliz, alegre talves,
ao saber-me tão só !

sábado, 14 de março de 2009

Lobo bobo

O passo curto,
à meio trote,
a vontade de urinar;
do quarto pro banheiro,
do banheiro pro quarto.

O passo curto,
parecendo um xote,
a vontade de dançar,
de segurar cintura fina;
cintura fina, nunca mais.

O passo curto,
querendo ser bote,
ter outra vêz a idade do lobo.
Que bobo !
Querer ovelhinhas prá brincar,
se agora, o que faz,
é de meia em meia hora,
se levantar prá mijar !

sexta-feira, 13 de março de 2009

Na cama, inteiros...

Somos metades da mesma moeda,
você é a cara, eu sou o coroa.
Farinha do mesmo saco,
você é a massa, eu sou a broa.

Somos roupas do mesmo pano,
você é a gola, eu sou a manga.
Rimas do mesmo verso,
você é o riso, eu sou a zanga.

Um do outro, somos metades,
um é a razão, o outro, loucura,
enquanto um fica, o outro chama.

Um do outro, sente saudades,
um é espera, o outro é procura
para acabarem na mesma cama.

Meia foda

Sou meia juba,
meia boca,
meia lua.
Sou meia cara,
meia hora,
meia rima.
Sou meio triste,
meio foda,
meio metido.
Sou meio lado,
meio claro,
meio escuro.

E nesse meio,
meia fala, meio mudo,
de saco cheio
de ser meio em tudo !

quarta-feira, 11 de março de 2009

Nossas mulheres

Nossas mulheres são todas lindas,
com seus sorrisos, seus prantos,
com suas luas e sóis,
suas cores e seus encantos.

Nossas mulheres são todas meigas,
com seus cantos, seus amores,
com suas rezas e queixas,
seus sentimentos e suas dores.

Nossas mulheres são flores
que desabrocham antes ou após
e em perfumes, se fazem.

São arco íris de muitas cores,
que se tornam tantas, em nós
e quantos prazeres, nos trazem !

segunda-feira, 9 de março de 2009

Inocência

Por horas e horas, olha o aquário.
Ao lado, o avô, que de vêz em quando diz:
olha só, que peixinhos bonitinhos !
Mas, o que o avô não sabe, é que
não é a beleza o que atrai o menino;
êle só está imaginando, como será
que aquelas criaturinhas
conseguem respirar dentro d'água !

Teu colo

O teu corpo, para mim é tudo,
onde me perco, onde me acudo;
tão macio colo, puro aconchego
onde me acho, onde me achego.

O teu corpo, para mim não mente,
sei de cor, tudo o que êle sente;
tão quente, doce e sempre perto,
onde me encaixo, onde me acerto.

Ah! Teu corpo, que solto no meu,
me faz acreditar, deixar de ser ateu.

E meu corpo, que preso no teu,
perdeu a chave, de sair, esqueceu.

sábado, 7 de março de 2009

Cisma


Olhando de baixo
prá cima, a cisma
de que tudo é grande,
faz brilhar
os olhinhos do menino.
A mãe, grandona,
o pai, grandão
e êle, tão pequenino !

sexta-feira, 6 de março de 2009

Flor mulher



Mulher. Única flor

que nasce, cresce

e a si mesma,

humedece !



quinta-feira, 5 de março de 2009

Sem pé, nem cabeça

De repente,
já não tenho mais corpo,
nem copo;
já não tenho mais pé,
nem cabeça.
Sou goles e garrafas à esmo,
já não sou eu mesmo.

De repente,
já não tenho mais alma,
nem vida;
já não tenho mais rumo,
nem rima
e fico na cisma, se ainda sou,
se ainda vou.

De repente,
embaralho tudo, falo bobagens
e embarco nessa viagem
que não me leva mais ali.
Então, me esqueço,
adormeço e fico por aqui.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Arcaico

Tão arqueado.
Tão alquebrado.
Tão arcado,
morreu, arcaico.