segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A morte passou por mim

Olhou-me de soslaio
e passou de chofre.
Não sei, se foi com pena
do magro, arqueado corpo
ou se foi desprezo mesmo;
achou que eu não tivesse
nada para lhe oferecer.
Talves outro dia, quem sabe...
Sorte ou azar, não sei.
Sei que justo naquele dia,
eu estava sem vontade
alguma da vida.
É, talves tenha sido
justamente por isso.
Porque a morte, vocês sabem,
adora quem se apega demais
à sua pequena e miserável vida...

O que ficou

Primeiro, foi o estremecer,
parecendo que era o frio que chegava,
que entrava em mim
com jeito de intruso.
Depois, foi a quentura do suor,
do calor que prostrava.
Então, cai em mim,
percebi que dali em diante,
seguiria só e desamparado,
segurando-me sabe-se lá onde.
Sentindo que agora,
eu seria apenas metade
mas, teria que seguir sempre.
Afinal, estava só meio morto;
a outra parte que ainda vivia,
sei bem, morreria aos poucos.
Aguentaria só mais um tantinho
de vida, agarrada com unhas e dentes
em um fio de esperança.
Essa metade que aqui ficou,
eu sei, é bastante teimosa.

sábado, 29 de agosto de 2009

Cascatas

Você tem dois lagos mansos,
um em cada olhar
e, quando eu os olho,
quase sempre me molho.

Você tem cabelos cascatas,
calmos nos ombros
e, que são delícias,
caindo em mim; carícias.

E tens choros e risos
de emoções tamanhas;
contudo, só por isso,
me conquistas, ganhas !

Conveniências

Todas as noites, me afasto de ti;
fecho olhos, abro bocas, sufoco tesão,
porque sei que já não quer.
Todos os dias, me arrasto para ti;
pego papéis, canetas e imaginação
e escrevo poemas sobre nós.

Que estamos tão sós,
que não temos mais jeito.
Esquecemos qualidades
e enaltecemos defeitos.

Todas as noites, mesmos fingimentos;
arquejos, suspiros à sussurrar,
à espera de um sono triste e minguado.
Todos os dias, mesmos pensamentos
de que afinal, vamos mudar;
uma mudança que não chega.

Uma pena. Nossa vida
se resumir assim,
em sarcasmos e ironias
e tão perto do fim.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Novelo

Ultimamente, ando meio triste,
pelos dias que passam em branco,
pelas noites que passo em claro.

Um desconsolo com o que existe,
desassossego, que chega franco
e que me faz pagar bem caro.

Ultimamente, ando meio calado;
ou porque me fogem as palavras
ou porque me fazem ser atropelo.

Então, paro no meio, cismado,
desvio o olhar, do que eu fitava
e me enrolo, tal qual novelo.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Um colo

Vamos ver se temos imaginação ?
Você daí, eu daqui,
olhos fechados, abraços dados.
Pode ter até beijo, não pode ?
Ah ! Que gostosura.
Que delícia de aconchego !
Acho que vou querer mais.
Vamos marcar prá amanhã ?
Mesma hora ?
Então, tá bom. Até lá !

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Minha amiga

Ah! Minha amiga das doces palavras.
Dos olhos tão claros e meigos,
dos afagos em verbos
e da quentura que chega nos versos
feitos só para agradar
e que eu, meio sem jeito,
agradeço do meu modo; calo.
Não falo que fico abobado
com tantas doçuras vindas daí.
Não digo que fico meio besta
com as coisas lindas que li.

Minha doce amiga,
que se esconde em distâncias e lonjuras
mas, que fica assim, bem pertinho;
tão perto, que sinto o respirar.
Tão próxima, que até abre os olhos
para me mostrar a alma,
no poema que eu queria ter feito,
porque parece ter saído de mim.
Sabe, vou te confessar algo:
a tua sensibilidade me fere,
mas, é uma feridinha gostosa.
coceira de saudade e ternura,
da falta de alguém e de nós.
Daquele aconchego gostoso
nas noites de frio
e dos salgados dos suores
daqueles verões.

Ah! minha amiga,
que embora oculta, se faz presente
e que talves, sem nem mesmo querer,
é alívio e é prazer !

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Loucos poemas

Hoje, resolvi ler loucos;
daqueles que babam no papel
e mancham as letras.
Hoje, resolvi ouvir roucos:
daqueles que gritam ao céu,
uma lastimosa opereta.

Resolvi ser apenas brando
e não maldizer poemas,
não procurar tantos males.
Resolvi olhar, sómente quando
fosse eu ver apenas,
verdes oceanos e vales.

Então, se teus versos chegarem
feitos de tantas loucuras,
que sejam poucos ou bastarem
às minhas loucas procuras !

domingo, 16 de agosto de 2009

Estragos

Me perdi nalguns tragos,
acabei me fazendo estragos;
ainda o gosto da cerveja
que dos poros se despeja.

Me perdi por tanto tempo,
nas horas que eu invento
e quase me arruinei
no perdido que me dei.

Agora, não sei que caminho sigo,
se todos me levam aos bares,
aos goles que eu engulo.

Ora me vejo e quase já não ligo,
nem sei de todos os males
que me trazem versos chulos.

Ventos

Um rosto ao relento,
um aror, um vento;
amor.

Uma brisa que para
leve, em minha cara;
neve.

Sopro de luz, doce
ar teu, que antes fosse
o meu.

Jeito de saudade,
feito de cheiros e cores
e que, por maldade,
traz ventos e dores.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Agosto

Na boca, um gosto de agosto,
um que de desconsolo;
um pedaço de amargo
e tantos outros desgostos.

Nos olhos, a lágrima sal;
gota única, teimosa, à cair.
Recusa do lenço ofertado,
para não dar um sinal.

Foram umas poucas pétalas, enfim,
que deixou escapar, mesmo sem querer.

Não teve missa, pois, guardou assim,
as rezas, para quando um dia, morrer.

domingo, 9 de agosto de 2009

Rubão

Foi-se, afogado em cachaça
e deixou isso como herança;
não teve nenhuma graça,
partir sem deixar lembrança.

Apanhou bastante da vida,
também bateu um bocado
e até na hora da ida,
foi sêco, duro e calado.

À mim, muito pouco deixou;
apenas imagens e retratos.
Jeito de quem quase amou,
não fossem tantos maltratos.

Talves, se vivo ainda,
o boiadeiro ou dono de bar,
teria uma face linda,
que nós todos, íamos gostar.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Zebra Burra

Encantado,
olhava todos aqueles balões.
Tinha de toda cor:
azul, amarelo, verde e vermelho.
Tinha preto também,
mas, do preto não gostava,
não achava bonito;
quem será que tinha inventado
cor mais esquisita?
E tinha o branco,
mas, era tão sem graça...
branco, cor de nada.
Então, pensou:
será que a dona zebra,
de tanto olhar balões pretos e brancos,
não tinha nascida daquele jeito,
toda listradinha?
Porque se foi isso,
foi a maior burrice dela.
Isso sim !!!

À sós

Às vêzes, penso em estender minha mão
e acariciar-te levemente.
Penso em beijar-te de um jeito
que faz tempo, não faço.
Mas, me retraio e bem feito
prá mim, prá você, prá nós;
continuamos juntos, à sós,
continuamos em vagos abraços
onde já não restam aconchegos,
onde não se veêm mais traços
daqueles nossos amores.

Às vêzes, penso em pedir desculpas,
mas, não vejo motivos prá me desculpar;
prefiro sim, te culpar.
Espero que você me procure,
que doe suas lágrimas
e eu, desonesto que sou,
finjo perdão, rindo por dentro,
porque não fui eu quem admitiu,
não fui eu, quem errou.

Mas no fim, reis e rainhas,
irão dormir iguais valetes,
admirando desconsolados pés
que um dia, já caminharam juntos
e lado à lado, descansaram.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Gagá

Gagá me fala certas coisas
que não entendo.
Porque ela é assim,
põe-se a falar de tudo,
mistura assuntos
que aparentemente,
nada tem a ver uns com outros.
Bem, certamente, que prá ela deve ter.
Na confusãozinha da sua cabeça,
algo deve fazer sentido;
eu é que não entendo
e às vêzes, até me pergunto
se não sou eu quem está
ficando gagá, ficando desbotado.
Qualquer dia destes,
vou embarcar nas viagens
alucinatórias de Gagá
e me deixar levar
por suas paragens que aliás,
são as mais esquisitas.
Só estou com mêdo
é de não querer mais voltar.
Vai que eu goste daquele mundo;
o mundo da lua !

domingo, 2 de agosto de 2009

Só um poema

Poesia não tem boca,
que se boca tivesse,
viveria gritando feito louca,
viveria gemendo suas paixões;
recolhendo sorrisos, solidões.

Poesia não tem pernas,
que se pernas tivesse,
andaria em buscas eternas,
andaria em trôpegos passos
até se acomodar no cansaço.

Poesia não tem olhos, nem mãos.
Porque é cega, se perde nos vãos
de tantos, quantos peitos,
procuram o verso perfeito !