domingo, 2 de maio de 2010

Quaresma

Não quero mais ver-te todos os dias,
nem quero teu rosto dando conselhos.
Leve daqui teus grisalhos cabelos,
leve embora esse teu cansaço
para bem longe do meu espelho.
Sem saber explicar porque,
até hoje, esses teus olhos
que me olham diariamente,
são olhares que enganam,
são olhares de quem mente.

Não quero mais ver-me tão triste,
porque perdi a conta dos dias
em que tentei sempre consolar-me
e via teu dedo em riste.
Concluo que não gosto de espelhos,
nem das verdades que ele mostra;
nu e cru, incapaz de mentir,
mostra-me imagens que quero esquecer.

Então, cubro agora nossas faces,
silencio as acusações dos olhares
e já que não me entendo comigo,
vou-me embora, levando pesares.

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