terça-feira, 3 de setembro de 2013

Comunhão

Hoje, encontrei-me com Ele.
Rezei um pouco.
Só um pouco.
Rezas me cansam.
Não rezei por mim,
nem para mim;
rezei pelos outros,
para os outros.
Por todos que me cercam
ou se acercam de mim.
Durou um minuto minha reza,
mas, foi o suficiente.
Não precisei paletó, nem gravata.
Não precisei igreja, nem centro,
muito menos templo.
Bastou-me fechar olhos.
Reza é isso: comunhão,
não comunicação.

Inacreditável

Não acredito naquele Senhor.
Tão sisudo, tão caladão.
Até hoje, espero Ele
para um jogo de damas
ou uma simples pelada.
Que brincadeiras é que
elevam o espírito.
Rezas, não.

Por que não sorrio mais

Sorrir pra quem,
pra que e porque ?
Se sem você,
não ouso gastar sorrisos.
Se sem você,
os risos também se foram
e sem você,
faltam-me motivos,
sobram-me tristezas.


E então?
Quer me fazer sorrir?
Traz meus sorrisos de volta!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Amigos e inimigos

Tenho poucos amigos.
Bem poucos.
Alguns, devem-me a presença
ou algo mais.
Outros, estão sempre aqui,
dão-me o conforto de estar.

Inimigos, tenho muitos,
a maioria, longe,
alguns, perto demais,
talves desejando virarem amigos.

Amigos e inimigos.
Difícel e complexo separa-los.


Hoje,  mais de meio século vivido,
ainda não o consegui.
Acho que é preciso mais de uma vida
para identifica-los.
Depois, uma eternidade
para conseguir separa-los.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Místico

Colocou óculos escuros
pra esconder a alma.
Olhou flores e postes
com jeito outro.
Não daria o braço a torcer,
seria agora, um novo homem.
Ou seria o mesmo.
No coração, uma certeza,
veria o mundo através
de novos olhares.
Que grande mistério,
renascer outro,
tão místico.


A certeza de que
quando tirasse o óculos,
todos veriam em seus olhos
o brilho de mil estrelas.
Ele as tinha conquistado todas
e iria distribui-las.
Seu coração, repleto delas.
Por detraz das lentes escuras,
seus olhos brilham
quando lembra vagamente
do velho animal
que um dia tinha morado nele.

À quem se foi e à quem fica

O gosto de dizer adeus
ou até breve,
não deve ser igual
ao de dizer benvindo.
Chegamos, e ao mesmo tempo,
 mesmo sem querer,
estamos partindo.

O jeito de dizer que se ama,
não pode ser parecido;
alguns o fazem comédia,
outros o fazem  drama.
Não importa.
Ou importa sim, muito.

Eu disse um adeus
igual desse um até breve.
E senti que, apesar da saudade,
você ficaria bem
e eu, bem mais leve.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Secura

Não esperava que esse passeio
através de ti,
fosse tão diferente.
Esperava-te frágil, meiga,
encontrei-te forte, ácida.
Esperava-te doce, úmida,
encontrei-te seca, tórrida.


Esperava-te tão fêmea, tão nua,
encontrei-te só mulher,
nada mais.
Esquivou-se de mim,
entregou-me só o corpo.
E eu queria tudo,
até a tua alma.
Esperava que fôssemos completos,
fomos só cada um.


Odeio todos os outros
que te fizeram assim.

A procura

Meu irmão saiu de casa
 faz uns dias.
Disse-me que ia procurar
um irmão que se perdeu.
Estranhei.
Nenhum irmão nosso
tinha se perdido.
Enfim, depois de algum tempo,
voltou. Sózinho.
Serenidade no rosto,
bondade no olhar.
Eu soube:
finalmente, tinha se encontrado!

Velho Amigo

Dia desses,
encontrei um velho amigo.
À tempos não nos víamos.
Coração, o nome dele.
Matamos saudades,
conversamos amenidades.
Disse-me ele, que continua
com a velha mania:
se apaixona brincando
e invariavelmente, acaba
quase sempre chorando.


Ah! Velho amigo!
Não mudou nada,
nem eu, tampouco mudei;
entre risos e choros,
entre alegrias e danos,
agora mesmo me apaixonei!

domingo, 5 de maio de 2013

ÀS MÃES QUE NÃO QUEREM SER

Aqui, brincando com letras,
curtindo solidão,
imaginando tantas tetas;
sentindo-me coração.
Aqui, só com os cães
e desejo de mulheres;
saudade de mães.


E que venha o dia delas,
das putas e das cadelas,
porque mães, todas são.
Feliz dia das outras
que não tiveram filhos.
Feliz dia dessas
que não querem
porque têm pressa.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Renascendo

Às vezes, é bom
ficar esquecido no nosso canto,
curtindo um pouco
do nosso próprio encanto.
E só pensar.


Fôssemos outros, meditaríamos,
porém, contentamo-nos
em olhar pra dentro,
medindo nossos ossos,
filtrando nosso sangue,
esticando nervos.
E pensando,
que logo mais, renascidos,
um tantinho mais velhos,
mas, um pouco melhores
e certamente
em nós mesmos crescidos.

domingo, 14 de abril de 2013

Um sapato pra ti, um poema pra mim

Não disse pros outros
que era eu.
Não contei pra ninguém,
apenas me recolhi
em pedaços.
E sofri. Sofri calado;
a dor foi morte.
Só olhei meus sapatos
e reli meus poemas.
Só rasguei alguns ternos
e de ti tive pena.


Não disse pros outros
que foi você,
que foi culpa de alguém,
apenas descansei
nas minhas dores.
E sorri, sorri demais
porque não fui eu
aquele que mais uma vêz
simplesmente morreu.

sábado, 13 de abril de 2013

Pequena oração aos que se acham filhos de Deus

Que pena de ti, filho,
achando-se ungido por Deus.
Achando-se mais,
tornando-se menos;
afastando-se dos ateus.


Que pena de ti, filho,
achando-se tão puro
e sentindo-se preferido.
Tão perto dos anjos
e bem próximo aos bandidos.


Que pena de ti, filho,
querendo estar perto do pai
e distanciando-se dos irmãos.
E orando,
pedindo ajutórios em vão.
Condenando adultérios
e adulterando o próprio coração.

terça-feira, 26 de março de 2013

Arrogância

Não queria achar-me tudo isso;
achar que sou importante
para muitos ou para todos.
Queria achar-me um pouco menos,
achar que valho algo para alguns,
mas, gostar tanto desses poucos.


No entanto, acho-me único
e penso que amo muitos.
Sou um pobre homem;
tenho tantas roupas
e poucas me servem.
Tenho tantos defeitos
e penso que não os tenho.
Sou um arrogante.
E por ser assim, nada sou,
sinto-me por vêzes,

só, muito só.

Utopia

Se talvez, estivesse morto,
não desceria tanto,
encontraria sim, outro pranto
para me consolar,
ou, algum outro canto
para me servir de porto.


Se talvez, estivesse vivo,
desceria mais
e diria que tanto faz
ser pobre ou ser rico.
Viveria sim, na pobreza
ou quem sabe, na riqueza,
com a alegria que ela traz.


Se talvez, eu fosse outro,
ou fosse só eu mesmo,
teria uma outra esperança
de ser velho
ou de ser criança.

domingo, 10 de março de 2013

Pergunta


Perguntam-me porque em vez de

frequentar os bares da vida,

não vou encontrar Jesus nas

 igrejas, templos ou centros.



Se não insistem, não respondo.

Se insistem, digo que não

preciso ir ao encontro Dele.

Faz tempo que ele já veio

 ao meu encontro,

Instalou-se no meu coração

e o carrego sempre,

à todos os lugares para onde vou.


Inclusive aos aos botecos.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Choros e risos *

Todo poeta é solidão
e tristeza,
também ilusão
e beleza.
Todo poeta espelha em você
a dor que sente
e às vêzes, até mente
e a sua mentira
é igual um presente
pra quem queria mentir também.


Todo poeta é simples
e é belo;
conjuga dores e alegrias
e as dá a quem quiser
chegar ou partir,
a quem quiser
chorar ou sorrir.


* Simples homenagem
ao Chorão.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Heróis

Meus heróis não usam capas,
não têm superpoderes.
São comuns, iguais à mim;
todos, tão simples assim.
Meus heróis são completos.
Às vêzes, tão imortais,
sentem-se êles, os tais,
ou então, frágeis, irritam-se
ante suas fraquezas
e nisto, eis suas belezas.


Heróis, poderiam ser todos
e poderiam ser tudo,
mas, são assim, iguais.
E são só nossos filhos
e somos só seus pais.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Tardia

Uma estrela, parece,
sorri para mim.
sorriso encabulado,
meio sem jeito.
Mas, não quero eu,
ter risos de estrelas,
ter olhares meninas.
Não quero eu,
ter gosto em tudo,
desgosto em tanto.


Por isso, enquanto
olho céus estrelados
e encantos sorrisos,
espero-te na manhã
que tão tarde chega,
em mim se aconchega.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Corpos e Almas

Corpos se enroscam,
se chocam e se batem.
Corpos se enrolam.
Mas, almas não,
que são imortais,
são doces e sensíveis.
E são terríveis.

Corpos se falam
ou então, calam.
Almas se doam
e muitas vêzes, voam.
Corpos parecem macios,
envoltórios d'algumas
almas duras;
transitórias armaduras !