sexta-feira, 30 de julho de 2010

Querendo ficar

Todas as vezes que venho aqui,
carrego flores do teu jardim,
levo prosas no meu bolso
e te guardo um pouco em mim.

E desconverso, envergonhado,
querendo algo mais te pedir;
talvez o céu e as estrelas,
ou, aquele sol que há de vir.

Todas as vezes que venho aqui,
me esforço para ir embora.
E quando me vou, levo teu gosto
que é de framboesa ou amora.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Um passeio no Shopping

Saco cheio das paredes cinzentas
tapando todos os meus sóis,
afugentando minhas estrelas;
saudade dos meus rouxinóis.

Me enfeio, quando me enfio
nestas tantas sujas ruas,
nestes tão tristes becos;
esquinas sem nossas luas.

Impaciente com estes cavalos,
à rebrilharem esquisitas cores;
pangarés flatulentos, malcriados,
tão fedidos com seus odores.

Saco cheio destas multidões
que se preenchem só de vazios,
destas meninas sempre no cio,
dos McDonalds entupindo corações.

Má-criação

Hoje, mandei à merda
aquele falso sorriso
que zombava de mim,
que pendia na boca
feito cigarro ruim.
Só que vez em quando
ele volta meio maroto
e me estampa no rosto
feito uma triste piada
de um incrível mal gosto.

Aí, fico de mal comigo,
não me olho no espelho;
cerro punhos, cego olhos,
tapo ouvidos à conselhos.
Sou eu mesmo que desdenho
no sarro de uma piada,
no riso de quando venho
com essa cara malcriada.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Começou com uma lambida

Dei-lhe lambida, daquelas que só eu sei dar.
Ela olhou-me nos olhos, com aquele olhar
que ora é sol, ora é lua, estendeu a mão e tocou-me.
Naquele instante, senti que queria ser dela,
custasse o que custasse.
Quando me abraçou, quase morri de felicidade.
Uma pena, se eu resolvesse morrer naquela hora,
mas, foi por pouco; meu coração, frágil como é,
quase me pregou uma peça.
No caminho para casa, despenquei-me em emoções;
só faltaram as lágrimas.
Agora, estou no céu e os entardeceres são lindos.
Juntos, contemplamos o por do sol.
Ela, no aconchego da sua cadeira de vime
e eu, feliz, esparramado ao seus pés.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Crepúsculo

Prometo que te olharei
com outro jeito,
com olhares menos gulosos.
E também lerei ao contrário,
tuas orações poemas,
segurando-me ao rosário.
Prometo que meus modos,
agora serão outros mas,
ainda assim, olharei-te enviesado
e talvez, descrente.
Não verei nunca mais
nossos pores de sol;
serei apenas crepúsculo
e te farei de mim, ausente.

Imortal

Para tirar você de dentro de mim,
precisa mais que tempo e distância;
não foi inventado ainda,
um jeito de te tirar daqui.
Para que eu te esqueça,
minha vontade não é própria;
eu, não tendo você aqui,
gosto mais ainda que antes.
Por isso, te falei um dia :
não sei mais do teu amor,
mas, o meu, sei muito bem
o quão eterno é.
Até depois que eu me for,
êle existirá.

domingo, 25 de julho de 2010

Sacro

São feitas todas na cama
as nossas sagradas orações;
olhos fechados, mãos postas
sobre seios e ereções.
Juntos, bebemos do vinho
e comemos nosso pão;
consagramos todo santo dia
o nosso gostoso tesão.

E na parede,
o Cristo crucificado
há de sempre abençoar
nosso sexo sagrado.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A moça e os poemas

Queria deixar seu coração em letras
e cismava com amores já idos.
Queria ficar, mas acabava partindo,
sonhadora, em caudas de cometas;
o arco íris, seus cabelos colorindo.
Ah ! Mas as palavras fugiam,
decerto assustadas e medrosas
com tão insana tristeza.
Ou, quem sabe até saudades
de desconhecidos mares;
peixinhos de doces olhares.
Queria deixar ali, no papel,
seus sentimentos e ilusões.
Mas, que pena, tão cegos
eram aqueles corações !

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O poema que eu queria ter feito

Usei tantas cínicas palavras
e muitas outras indecentes,
só para escrever besteiras
e ser eu todo, incoerente.

Busquei aquele verbo perdido,
em mal iluminadas esquinas
onde putas rimas flertavam
iguais prostitutas meninas.

Nas praças esquecidas de gente,
o poema, esquecido ficou;
que poetas escrevem somente
do amor que um dia findou.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Olhares

Tantas vezes, procurei olhares
um pouco mais diferentes,
que não fossem indecentes;
meninas que eu não via.

Aí, enxerguei os teus olhos,
de um escuro ou de um claro,
verdes ou azuis, de tão raros,
que me encontrei em belezas.

Tantas vezes procurei olhares
até quando não podia enxergar,
até onde não deveria chegar;
encontrei-os aí, nos teus mares !

Femininas

Lembro que éramos mulheres
e compreendíamos tudo,
naqueles olhares mudos.
Sabíamos das dores alheias
e éramos tratadas de putas,
embora fôssemos santas;
sem velas ou rezas tantas,
nos cuspiam águas tragadas.

Lembro que éramos femininas
e nos deitávamos esquecidas
das crianças que eram paridas
já tão velhas e sem rostos.
E embora fôssemos bravias,
nos entregávamos, infantis,
éramos todas tão servis;
dávamos o que em nós havia.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Paixão de poeta

Foi um tanto de Vinícius,
outro tanto de Drummond,
peguei a caneta sem receio
e escrevi sobre a saudade
do teu colo, dos teus seios.

E não se assustem nunca
do meu impudico poetar,
do meu tesão ao escrever
que tenho vontade de ti,
embora isso seja sofrer.

Fui um tanto de tantos poetas
que choraram seus amores
e que no absurdo das paixões,
sofreram saudades inúteis,
enterraram seus corações.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Letras

Poesias já nascem mortas.
Sobre todos estes papéis,
as letras estiradas, tortas,
queriam ter cores e pincéis.

Poemas que queriam tudo,
dentro de mim, gritavam
e ao saírem ficaram mudos
sobre o verbos que faltavam.

Calaram-se, envergonhadas,
na falta do mais puro amor.
E na ausência dele, a dor
cobriu toda beleza sonhada.

Epigrafando

No final, me vejo morto
e em volta de mim,
amigos e irmãos.
Eu, que sempre fui torto,
sinto-me tão amado
e com tantas lágrimas,
acho que me purifiquei;
em prantos, fui lavado.

Com toda a seriedade
que a morte nos traz,
eu, já fora do corpo,
vejo até um meio sorriso
tão próprio de mim,
que sempre fui sem juízo.
Eu, à caminho de céus,
sinto que bem ou mal,
consegui ironicamente
desempenhar meu papel !

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Partida

De repente, a minha vontade
ficou sem querer,
ficou meio broxa.
E eu finjo que ainda quero,
enquanto disfarço tudo,
enquanto me desfaço, mudo.
De repente, não sei mais
se terei futuro
ou se ele agora é
o que vivo hoje.
A esperança já era;
barco tardio que se espera.
De repente, tudo acabou
e eu, como estava, fiquei.
Não sei se fui junto
ou se um coração partido
se foi, mesmo sem a alma,
atrás de um tempo ido.