sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Querência

É igual fome de comer,
igual sêde de beber;
uma coceirinha gostosa
de dentro para fora,
sem jeito de se coçar,
com medo de se roçar.


É igual procura sem rumo,
igual verso sem rima,
que a gente espera fazer
e não encontra verbo certo.
A palavra hoje tão rápida,
traz o arrepio tão lépido.

E a gente fica sem saber,
ou quem sabe, sem acreditar
que é a natureza mexendo,
a beleza querendo se mostrar.
Então, a gente fica sem querer,
fica só nesse sonhar
que é querência de amar.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Maria do mundo

A Maria de todas as Marias,
é aquela que vai à cadeia
visitar o filho, o marido
que a muito tempo não via.

Que vai catar sobras na feira,
com a alegria de quem vai
ao supermercado da esquina
e volta com a sacola cheia.

A Maria de todas as Marias,
é aquela que vai ao samba,
arrumar namoro de uma noite,
que some quando clareia o dia.

Que conta o minguado salário
para pagar o quarto e cozinha,
com direito à banho coletivo
e um cadeado no armário.

A Maria de todas as Marias,
ainda nina o filho de alguém
e com o tempo que já não tem,
canta canções e fala poesias.

A estrela de nossos olhares

Mesmo barco,
mesmos remos,
mesmas rimas;
então, me ensina
porque não vemos.
Mesmo lado,
mesmos risos,
mesmas dores;
então, dá amores,
tira-me juízos.
Mesmo querer,
mesmos defeitos,
mesmas verdades;
então, qualidades
ficam sem jeito.

Mesma estrela
aquela que olhamos,
com diferentes olhares,
em diferentes lugares;
por isso, nos damos !

Solo de celo

Quando a morte aqui chegar,
quero ser embrulhado em jornal,
ter mortalha de todas as letras;
ser sepulto em rimas, afinal.

Quero um solo de celo,
no lugar de choros e velas,
ter cobertor de muitas folhas,
sejam elas claras ou amarelas.

As escritas, que me levem,
que delas, livrar-me não quero.
Em vida, gastei muitas tintas,

em palavras que me servem;
agora, na morte, só espero
que falta delas, não sintas !

Borboletas beija flôres

Vi a moça borboleta
e o beija flor criança,
em brincadeiras e danças,
em sorrisos e caretas.
Asas coloridas, voando
em volta das flôres;
arco íris de cores.
Tanto encanto rimando.

Beija a flor, borboleta flor.
Flor borboleta, seja amor,
em canções azuis, amarelas
feitas alegrias singelas !

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Serenidade

Está caindo chuva fina,
molhando nossas almas,
molhando nossos ossos;
chuva leve, chuva calma.

Tempo de contemplação,
dos pássaros nos ninhos,
dos bichos nas tocas;
hora de estar sózinho.

Está caindo chuva fina,
regando corações ressecados,
renascendo nossa saudade.

Voltaram lembranças de Regina,
dos bons momentos passados;
garoa nos dando serenidade.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Inversos

Coloquei uma exclamação,
onde cabia interrogação.
Sou feliz, ou não ?
Espantei vírgulas e pontos,
refiz outra vêz o conto
para êle ser encontro.

Hoje, não rimei poemas,
não gastei as penas;
escrevi bobagens apenas.
Gastei minhas letras
em sonetos pernetas,
da solitária caneta.

Que não se escreve
sempre sobre amores,
também não se deve
contar certas dores.

Quantas vêzes, se morre
em versos perfeitos,
enquanto a alma, de porre,
os faz com defeitos.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ariosto

E quando chegavas
quase aqui,
te desviaram
do nosso caminho.
Te levaram longe
do nosso carinho.

Tantos brinquedos
foram quebrados.
Ficaram prá depois
os sorrisos dados;
olhares, abraços,
seriam de nós dois.

Ficou sendo então,
só anjo Ariosto;
alma e coração,
estrela sem rosto.

Poemas futuros

Vamos fazer agora algo,
com aquilo que não é;
você entra com sonhos,
eu entro com a fé.

Deixemos os fantasmas
naqueles outros cantos,
joguemos fora os restos,
benzamos nossos espantos.

Beber de águas passadas
nos dá sêde demais;
aqueles tristes rostos,
rotos, enrugados, jamais.

Poemas futuros faremos,
com nossas luas e sóis;
à quem perguntar, diremos:
morreram outros, ficamos nós !

Poema, pode

O poeta pode tudo;
relembrar passados,
enaltecer presentes,
especular futuros
e chorar ausentes.

Sorrir companhias
com seus escritos,
com suas poesias.

O poeta pode tudo;
enxugar lágrimas,
cantar canções,
fabricar esperanças
e consolar corações.

Enfeitar os dias
com seus ditos,
com suas folias.

O poeta pode tudo,
porque se não pudesse,
melhor que fosse mudo
e poemas não nos desse !

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sonhos poemas

Um sonho alado,
sonho poeta,
sonho bom de ser sonhado.
Ícaro, em forma de poema,
forma de versos,
em busca de mil sóis;
músicas estrelas,
em solfejos e bemóis.

Sonho os sonhos teus,
me imagino fitando luas
que são apenas duas;
teus olhos, nos meus !

Yin e Yang

Ela, culta demais se comparada com êle.
êle, curto demais se comparado com ela.
Mas, acharam de se encaixar, juntar os trapos, ficar Yin e Yang,
manjam ? Um colado no outro, tipo o sêlo e a língua.
Na verdade, se perguntados o porque de se aproximarem
um do outro, é certo que não saberiam responder.
Tão diferentes e no entanto, tão iguais.
Ela, cursando o último ano de jornalismo, fazendo estágio
e se desdobrando prá mostrar serviço.
Êle, mecânico. Isso mesmo, mecânico, mas,
não um qualquer, que já tinha feito até curso sobre injeção eletrônica.
Se conheceram quando ela levou o carro prá fazer revisão.
O motor estava falhando.
O que falhou, foi o coração dêle; amor à primeira vista.
Abençoado carro ! Bendita injeção eletrônica !
Foram tomar um café, depois trocaram tel.
e veio o primeiro encontro, primeiro beijo, primeira transa
e tantos gozos !

Discutem muito. E riem muito também, quando resolvem
procurar as afinidades entre si.
Elas simplesmente não existem.
Será assim o amor ? Feito de contrários ?
Porque explicar, ninguém explica. Nunca !

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Doces amargos

Meus poemas parecem doces,
se desmancham feito cocadas.
Outras vêzes, são amargos;
tristes lágrimas salgadas.

Que são feitos todos para ti,
te buscam com ânsia e amor
e quando não te encontram,
ficam malcriados, viram dor.

Meus poemas são tão claros,
a te buscarem no escuro;
estrelas com teu endereço.

E em momentos tão raros,
em que no universo, procuro,
vejo teu sorriso; sonho travesso !

Mentiras brancas

Quando digo que não ligo,
entenda de modo diferente;
é que minto prá mim mesmo,
me forço à parecer ausente.

Quando digo que não gosto,
é claro que estou mentindo;
não quero eu mesmo aceitar
aquilo que estou sentindo.

Digo essas mentiras brancas,
querendo talves, me enganar,
mas, claro que não consigo.

Coloco-me atrás de trancas,
disfarço prá não te olhar;
na verdade, te quero comigo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Tuas rimas

Peguei uns pedaços
daquele teu poema,
me investi de senhor;
rasurei o teu trema.

Me apossei feito dono
dos teus belos versos
e sem vergonha alguma,
criei o meu universo.

As tuas rimas companheiras,
me trouxeram todos os sóis,
me deram todas as luas.

Foram tuas letras primeiras,
que deitaram em meus lencóis
e deixaram as marcas tuas.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sabores iguais

Me perco nos sonhos
dos teus olhos azuis ou verdes;
naqueles oceanos ou céus
tão profundos
e quando volto,
volto outro, tão diferente,
tão indecente.

Por isso, gosto
dos teus olhares poemas,
feitos sonetos, novenas.
Por isso, gosto
dos teus versos;
verbos que me arrastam
para junto de ti.
E imagino-te,
porque nunca te vi.

Imagino-me agora, contigo,
qual água da chuva
na tua soleira;
compassada e calma
feito uma goteira.
Molhados em salgados suores,
desaguamos os dois, iguais,
sem esquecermos jamais,
que temos os mesmos sabores.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Olhares

Aquele rosto me olha guloso,
com jeito safado de santa,
com ares de muito teimoso.

Aquele rosto me olha direto,
com jeito de namoro em começo,
com olhares de tanto afeto.

Aquele rosto me olha agora,
com olhos de quem me dera;
olhares de Maria, de Aurora,
e eu, querendo olhos de Vera !

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Soneto manco

De todos os olhares que olharam,
veio aquele, lacrimoso e molhado;
dos muitos sorrisos que deram,
que me cairam, igual mal olhado.

Apaixonei-me por aqueles andares,
no ir e vir daquelas estradas tuas,
nos corpos tristes, de tristes olhares,
nas madrugadas perdidas naquelas ruas.

E foi assim, que nasceu o manco soneto;
no olhar, no riso defeituoso e cruel
daquelas mulheres dos bares da vida.

No pecado da carne, que já não cometo,
no copo de vinho, transformado em fel,
na lembrança da flor desfolhada, ferida !

Tempo perdido

Antes fossem meus,
os ombros e colos oferecidos,
porque na minha carência,
estaríamos todos agradecidos;
os meus e os teus.

Antes fossem teus,
os beijos e carinhos ofertados,
porque na minha ânsia,
ofereci-os à corações errados;
tolo pois, fui eu.

Antes fossem nossos,
aconchegos, carinhos à dois;
fossem nossos, seriam agora,
o que foi deixado prá depois.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Clube da lambança

Entrei para o clube
da cueca samba canção,
do pijama de bolinhas;
do saudoso Jamelão.

O tesão subiu pra boca,
o culhão, só pra coçar;
sou propaganda enganosa,
sirvo só pra caçoar.

Entrei para o clube
do balança, mas não cai;
coloco bala na agulha,
na hora, o tiro não sai.

Continuo bom de língua;
além de falar demais,
caio de boca com tudo
e ela ainda se satisfaz.

Pertenço agora ao clube,
clube da contemplação,
da lembrança, da lambança
de enforcar peru com a mão !

Véus

Que rosto tão belo,
enxerguei no meio
de tantos tão feios.
Um sorriso nos olhos,
uns olhares meneios;
só que eu não sabia
da impertinência
oculta nos cantos,
que o vestido cobria.
Eram tantos os encantos
e o que eu não via,
então, imaginava.

Na pele tão alva,
distingui tantas cores.
No branco dos seios,
no puro dos meios,
entre êles, me via.
Imaginei se embaixo
de finos panos,
não seria um engano.
Se um anjo esteve aqui,
encoberto por véus,
foi sol, estrelas que vi;
brilho de muitos céus !

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Perdidamente só

Se sigo agora, teus passos,
é porque não tenhos os meus;
sou um só descompasso,
buscando os caminhos teus.

Que ando até sem graça,
igual cão sem faro, estou
meio perdido na praça,
nem sei para onde vou.

Se sigo agora, teus passos,
em tropeços e atropelos,
é porque só piso em falso;

busco todo dia teus traços,
me faço soluços e apelos,
vou sempre no teu encalço.