O Zé Augusto estava decidido.
Ia chegar junto e se ela desse uma de difícil,
êle agarraria. Seria na marra.
Porque não era possível, que ela passasse
todo santo dia, rebolando daquele jeito
-que só faltava quebrar os quartos
de tanto requebro- e não fosse de propósito,
só para mexer com o homem.
Faz tempo que tinha reparado,
era justo na hora em que estava
lavando a calçada,
que ela achava de passar.
E mexia, como mexia.
Êle fazia o possível para disfarçar,
mas, não tinha jeito.
Chegava a ficar vesgo.
Depois que ela passava, ainda levava
uma boa meia hora para colocar
tudo no seu devido lugar.
E doía, como doía.
Os olhos e as bolas.
Os olhos, de tanto esfregar
e as bolas, de tanto tesão.
Então, resolveu. Chegou junto.
E por incrível que possa parecer,
deu tudo certo, tão certo,
que acabou em casamento.
Agora, depois de vinte e cinco anos,
quando o Zé disfarça e olha para a sua mulher,
-porque não tem coragem de encará-la-
fica imaginando e procurando
entre aquelas dobras,
aquela com quem se casou.
Porque decididamente, não é essa aí não.
E continua, todos os dias,
à lavar a calçada, na esperança
de que ela, de repente, apareça
com aquele seu gingado
e dobre a esquina, deixando no ar
perefumes, requebros
e um boquiaberto Zé !
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