sábado, 30 de outubro de 2010

Mudança

Minhas coisas todas
cabem em uma caixa
de papelão.
Minhas cismas, minhas dores,
minh'alma, meus ossos
e meu coração.

Nossas coisas todas
não nos cabem mais,
nem sabem de nós.
Por isso, jogamos fora
nossas pedras e pós.

Das coisas nossas
que ainda ficaram,
tão restos, tão cacos,
são rotos, são trapos
que nos restaram.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ritmo

Busco uma lógica,
em cada espirro que dou.
Sinto-me tanto aqui,
mas a cada suspiro, me vou.

Busco uma métrica,
em cada espaço que fico,
que me guarda ou me cabe,
quando encolho ou estico.

Busco alguma rima
em cada poema que faço,
à cada novo amor que me apego.
Aí, vem-me a cisma
e todo eu, me embaraço;
sem lógica ou métrica, me entrego

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Olho gordo

Ando mesmo sem tempo
de ler poemas.
As letras e as moças
passam por mim,
sem eu notá-las.
Depois dos teus olhos,
não olho para mais nada;
tropeço em calçadas
e em escadas.

Fiquei doido e nem notei.
Minha vida agora, é andar
à procura do teu olhar,
que são tão tristes.

Quero por alegria no teu olhar.
Ou então, não mais te enxergar.

O mesmo gosto

Algumas vezes, fui tantos,
outras vezes, fui nenhum.
Algumas vezes, foste uma,
outras vezes, foste muitas.
E nos misturamos em vários,
ou então, em coisa alguma.
Fomos unos ou contrários;
tantas almas, ou nenhuma.

Algumas vezes,
nos desencontramos,
outras vezes,
um no outro ficamos.
E sentimos ainda o mesmo gosto,
embora, não mais nos tenhamos.

Os anjos se foram

Nos lambuzamos de liberdade
e de amor
enquanto podíamos.
Fomos asas pra que te quero,
sonhos do que queríamos.
E voamos tão alto
com os anjos de nós.

Nos desencontros
que às vezes se encontram
em certos caminhos da vida,
corremos atrás de verões.
E sem querer, sem saber,
fomos as próprias solidões;
perdemos asas e anjos.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Algumas

Fosse eu apenas,
tão só seria, mas, sou centenas.
Me reparto em todas
e me recordo em tudo.
Sou as muitas vidas
em que vivi iludido.
Sou as muitas mortes
que morri escondido.

Fosse eu apenas,
seria todo só eu, mas,
sou também helenas
e isauras e marias.
E me retiro em todas.
Rezo as rezas santas,
sem ter um anjo sequer
que fique dentro de mim.

De muitas, sou só algumas,
de todas, sou uma só.
Que seja melhor assim !

Melancólicamente falando

Os meus silêncios
e as minhas tristezas
se enganam, quando
querem ficar à sós.
Juntam-se à elas,
toda a tristeza do mundo,
todo o silêncio de muitos.

Os meus silêncios
assustam, de tão calados.
As minhas tristezas
choram, de tão doídas.
E eu, quieto e triste,
junto-me à todos
e invado solidões;
invadem-me meio sorrisos,
alagam-me choros intensos.


A melancolia que sinto,
é a mesma que é tua.
E sei, que a cura
se derrama em nós mas,
escorre depressa,
porque somos feitos tristezas
e somos melancólicos silêncios.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quase triste

Pode ser preto ou branco,
pode ser pouco ou tanto.
Mas, dói-me mais teu silêncio,
do que o teu pranto.
É feito de que, este teu calar ?
D'algumas águas passadas
ou de ventos idos ?
Decerto, de amores perdidos.

Por isso, teu olhar quase triste
e perdidamente azul,
se perde em infinitas lonjuras.
E as tuas longas procuras
se fazem tão quietas
nos teus olhares parados.
Há sim, tristeza no teu pecado.

domingo, 17 de outubro de 2010

Descorado

Não sei se sentirei por você,
a ternura inquieta
que noutros tempos senti.
Sei porém, que notei
a doce tristeza do teu olhar
e também me entristeci.

Vi na solidão que ainda virá,
uns pedaços de tempo
nos traços teus;
retalhos, talvez,
que você costurará
igual um tapete colorido
e que não terá pedaço meu.
Pena, que já me descorei;
aqui por dentro,

fiquei branco e sem sentido.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Solidões

Triste, viver  como nós,
de medíocres vergonhas
e pequenas mentiras.
Triste, viver tão sós,
em solidões e tristezas,
em covardias medonhas.

Viver assim, como nós,
é morrer todos os dias
e descrer em amores.
Exasperar em fantasias,
entristecer em dores.

Triste arrastar de chinelos
por ermos lugares que ontem,
eram nossos e eram belos.

Silêncios

O silêncio passou por mim,
depois, morreu em você.
Não foi um simples calar
de frases e poemas;
pesou-me muito, não falar.
Senti falta dos verbos
e senti falta de amores.
Senti falta dos versos
e doei-me às dores.

O silêncio pesou em mim,
depois, correu em você.
Fugiu daqui feito vento
e te assobiou passarinho;
caiu em ti, tão calmo,
meu silêncio, meu carinho.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Separados

Desculpe, se pisei corações
com meu jeito descuidado.
Desculpe se pisei em calos
e desviei-me dos teus vãos.
Pensando que me fazia bem,
te fiz somente tanto mal.

Se estamos sem assunto,
culpa minha ou culpa tua,
por não estarmos mais juntos.
E se desculpa não nos cabe,
esqueçamos nossos perdões;
Sigamos diferentes ruas.

Sem graça

Terríveis tempos de guerra.
Palavras desabaladas,
nas discussões hipócritas
que já não cabem mais
nas arruinadas vidas de nós.
Um simples dar de ombros,
foi o que nos trouxe aqui.
E não queremos admitir
que nada mais nos resta;
agora, só o que não presta.

Assim, passa a vida,
nesta nossa feia noite;
nossos sorrisos amarelos,
no lugar do branco riso.
Perdemos sim, juízos.
A brandura que havia,
agora é falta da graça,
da piada que havia.

Uns bobos poemas

O poeta que em mim existe,
é teimoso e não desiste
de fazer poemas.
Para a moça que é de longe
e para a moça da janela.
Às vezes, uns poemas sem graça,
outras, uns doces poemas.

A moça que é de longe
e a moça da janela,
recebem poemas de amor.
Uma, não sei se os lê,
outra, nem sei se os vê.

O poeta que em mim existe,
tem duas musas:
uma tão longe, outra na janela;
meus poemas são para elas.